Frio na barriga: será com emoção

Prepare-se para a pancada. Relaxa, respira pra aguentar o tabefe na cara

(Foto: Marcelo Albuquerque)


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Você quase gelou, sentiu um frio na barriga quando ligou a tevê naquele domingo anoitecendo de primeiro turno das eleições 2022. O presidente neofascista à frente na contagem de votos, você jamais vira prognóstico anterior neste sentido. Para sua sorte, a apresentadora da tevê foi logo falando: "Institutos previram isto, pois as primeiras urnas apuradas foram nas regiões tal e tal. Os mesmos institutos previram também que ao avançar das apurações haverá uma virada de Lula".

Um alívio, deu pra respirar e relaxar um pouco a tensão muscular nos ombros. Foi opção sua, você escolheu isto, poderia bem adotar a postura mais moderada recomendável, o maior comedimento, equilíbrio, o racional e o emocional bem equilibrados.

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Frio na barriga, algo assim, uns sentem um frio na coluna vertebral, o frio na espinha, que sempre fica estranho e inconveniente se alguém estiver com uma enorme e saliente acne bem nas têmporas ou no meio da testa, bem acima do entreolhos, bem lá, "Deu geladinho na maionese?". Adolescentes diriam. Certos estão eles, lépidos e serelepes, fábricas de risos, estes sofrerão menos na apuração do segundo turno das eleições.

Borboletas em seu estômago, da língua inglesa. Nó no estômago do espanhol, frio nas costas do francês, alguns exemplos. Sempre por lá, o estômago, ventre, em alguns casos a coluna, a espinha vertebral.

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Você escolheu, ninguém lhe forçou, foi coerente, coerência é importante em nossas vidas. Há poucos dias optou por ligar o botão "Com emoção, e máxima" ao assistir pela tevê a final de futebol Flamengo e Corinthians. Sofreu que só, chorou, dormiu mal, mas também ao longo do jogo quase entra em êxtase, imaginando-se vencedor da peleja.

Neste caso, ao menos, uma fortíssima desculpa, um álibi. Torcedores de futebol moderados a ponto de não demonstrarem tantas emoções em momentos finais de uma decisão por pênaltis, lado a lado, emparelhada, estes poços de tranquilidade, nervos de aço, são bem raros e raras dentre nossa sociedade.

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Ao futebol dá-se um desconto: "Paixão nacional; bando de loucos; doentes pelo time" e por aí vai. O que já dá uma ideia do nível de desequilíbrio emocional versus racional. Em um extremo, o nível do abestalhamento fanático pelo time.

Em uma eleição democrática, diga-se não qualquer eleição, escolha então a mais disputada e figadal, que seja, a mais sanguínea, e mesmo assim uma atividade da sociedade organizada, dos governos de época, do Estado nacional, do arranjamento político de boa parte das nações mundo afora, desenvolvidas em tradições por séculos.

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Tudo isto considerado, não seria de esperar tanta emoção e menor razão. Em geral não haveria a loucura de fanático torcedor de futebol em tais questões político-partidárias de um Estado soberano, um País representado por sua Nação composta por diferentes gentes, diferentes povos e etnias.

Você que, agora se arrepende, engoliu aquele discurso do ex-deputado que infelizmente não se elegeu para outro mandato após hiato na Câmara Federal. Você deve dizer que engoliu o discurso convincente dele: "Pode escrever aí o que tô dizendo, estou vendo isto aqui nas ruas do Rio de Janeiro, escreve aí, vai dar Lula no primeiro turno, as coisas estão num crescente".

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Há de se dizer que não parece falha, engodo, nem algo assim. Estatística, portanto Matemática, é infalível. Hoje, a três dias das urnas eletrônicas de segundo turno das eleições, a ciência, mais uma vez, provou que é comprovável e compreensível.

Desde o primeiro turno havia dados claros. Ocorreu que não se reforçou tanto que há uma imensa população que se ausenta no dia da votação, outra parte da população que prefere não se manifestar em entrevistas, outra parte da população que decide ou muda de ideia no dia da votação, outra parte da população que mesmo se declarando para candidato tal, acaba por mudar o voto, ou anular, ou branquear, já com o dedo no botão da urna.

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Há também outras frações estatísticas que, somadas, podem bem espelhar a margem do resultado final que ocorrerá pós-pesquisas. Você já escutou de alguém: "Em pesquisa, não respondo pra quem vou votar, ou chuto um nome qualquer, o voto não é secreto? Respondo as outras perguntas".

Gente mais sábia rotula ao desequilíbrio razão versus emoção uma clara fonte de sofrimento. Óbvio. Gregos antigos também disseram para preferirmos rir menos e chorar menos. Quem chora frequentemente o faz também quanto aos risos.

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Há aqueles que raramente riem, raramente choram, mas quem aguenta? Quem suporta representar um boneco de cristal em meio a nossa sociedade dinâmica? Em especial nas ruas do bairro, nas cidades brasileiras pequenas ou médias, que quase nos exigem alguma atenção, mínima participação.

Após a facada, o neofascista se firmou, simpatizou olhares, humanizou-se, se sabia que ganharia. Você já passou por decisão emocionante nos pênaltis, ou gol fatal aos 52 minutos do segundo tempo, bem se lembra do frio na barriga. Coração na boca, expressão alternativa, seu coração foi à boca naquela decisão quando seu time tomou desempate aos 52 do segundo.

Um adendo: você sempre acreditou que, ganhando ou perdendo, apitou, confirmou, confirmado está. Nem liga muito se houver uma catástrofe de proporções termonucleares, após vinte minutos do apito final uma briga generalizada na arquibancada, que vitime fatalmente centenas de torcedores pisoteados.

Hecatombe global, providências e lamentos após o fato, gritos indignados das autoridades e aproveitamentos políticos posteriores nas falas e comentários, mas o resultado da partida está posto e assim será.

Estamos todos e todas preparadas se o atual presidente ao final ganhar, com máxima emoção, ganhar por uns poucos mil votos de dianteira?

Talvez melhor considerar não apertar o botão no modo "Com emoção" desde já, caso contrário o coração poderá sair pela boca, ou a barriga sofrer o mais profundo gélido de recâmaras infernais abissais.

Há uma alternativa, uma espécie de blefe. Você não aperta o botão "Com emoção" e assim se programa. Se perder vai dar uma tristezinha, depois passa um pouco, é só não ficar prestando atenção à festança adversária. Se isola dentro de casa com protetores auriculares.

Aí o blefe, a jogada. Note: com o botão desapertado, você aguarda até o final, quando, por acaso, vir que Lula levou, corre e mete bem rápido a palma inteira da mão forte bem ao meio do botão "Com emoção" e então explode em alegria, faz aquela dancinha ridícula desengonçada e risível, sem sentido algum, e faz uma performance inesquecível e impagável bem ao meio da sala de estar de sua casa.

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