Frente Ampla: Uma via para anular o protagonismo político da esquerda

A decisão dos partidos de esquerda e centro esquerda, em especial do PT, de apoiar já no 1º turno a eleição do deputado Baleia Rossi, afilhado político de Michel Temer, desarma e confunde politicamente o eleitorado do campo popular e assegura indevidos créditos democráticos para as forças patrocinadoras do golpe de 2016 contra o mandato da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT)

(Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado | Luis Macedo/Agência Câmara)


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Os recentes acontecimentos políticos nos Estados Unidos, e o apoio por estreita margem de votos [27×23] da bancada de deputados do Partido dos Trabalhadores (PT) ao parlamentar golpista Baleia Rossi (MDB-SP) para a presidência da Câmara, animaram os defensores da tese da Frente Ampla, como se essa fosse a única via válida para derrotar o governo autoritário e neoliberal do presidente Jair Bolsonaro.

Neste início de 2021 o debate sobre a tática mais adequada para derrotar o bolsonarismo voltou à baila novamente entre as forças de esquerda.

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No geral, dois caminhos são preconizados. Uma posição coloca o acento na centralidade da luta contra o autoritarismo do governo Bolsonaro como eixo de aglutinação de forças, agitando o espantalho do monstrengo neofascista. Essa posição defende a constituição de uma “frente ampla”, que ultrapasse as forças de esquerda, reunindo partidos e lideranças consideradas de centro e de direita no atual espectro político. Formações partidárias como o PDT, PCdoB e PSB defendem a tese da “frente ampla’, um bloco político que abarca desde o governador João Doria (PSDB), Rodrigo Maia (DEM), o apresentador da Globo Luciano Huck, MDB, PSDB e até os bolsonaristas arrependidos.

O passaporte para ingressar no território da “frente ampla” é a defesa da democracia no geral, sem a exigência de um programa de ruptura na economia e no restabelecimento dos direitos sociais retirados pelo golpe de 2016. Além de uma velada operação de setores da própria esquerda e de grupos da mídia empresarial de cancelamento político do ex-presidente Lula. Ou seja, uma frente de teto rebaixado, que levaria a esquerda a defender uma agenda aquém das necessidades impostas pela gravidade da crise institucional, econômica e sanitária em curso. É, na prática, marchar a reboque das velhas forças políticas da direita tradicional, que sonham em encontrar uma espécie de Biden brazuca até 2022.

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Por sua vez, os defensores da frente de esquerda entendem que somente um enfrentamento decidido ao conjunto do projeto neoliberal, que conta com o apoio do governo bolsonarista e também da velha direita, será capaz de derrotar os intentos de fechamento do regime e o desmonte do estado nacional.

A necessidade da construção do bloco democrático-popular, com um projeto alternativo de governo em contraposição ao projeto do bolsonarismo e dos velhos partidos da direita, é uma tarefa irrecusável, inadiável. Um projeto político com nitidez para disputar os rumos do país, sem as velhas alianças e cedências programáticas aos partidos das classes dominantes.

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A defesa consequente da democracia é inseparável da derrota do projeto neoliberal, esta é uma questão estruturante e definidora para a ação política das forças de esquerda. Portanto, realizar uma “frente” nas atuais circunstâncias com quem não reconhece a centralidade do combate à regressão neoliberal, é um erro que terá um alto custo político e eleitoral – e abre uma via para anular o protagonismo da esquerda e dos trabalhadores.

A decisão dos partidos de esquerda e centro esquerda, em especial do PT, de apoiar já no 1º turno a eleição do deputado Baleia Rossi, afilhado político de Michel Temer, desarma e confunde politicamente o eleitorado do campo popular e assegura indevidos créditos democráticos para as forças patrocinadoras do golpe de 2016 contra o mandato da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT).

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Um passo em falso, que retira o protagonismo político da esquerda e joga a disputa para ser travada apenas no âmbito do parlamento controlado pelas forças das direitas – bolsonarista e neoliberal.

*Ativista político e social. Autor dos livros ‘A Política Além da Notícia e a Guerra Declarada Contra Lula e o PT’ (2019) e ‘A Saída é pela Esquerda’ (2020), ambos pela Kotter Editorial.

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