"Forças ocultas": juiz Eduardo Appio diz que querem impedir depoimento pessoal de Tacla Duran
Ex-prestador de serviços da Odebrecht participou de audiência remota na13a. Vara Federal em Curitiba e denunciou adulteração de provas da Lava Jato
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Ao final da audiência nesta terça-feira com o advogado Rodrigo Tacla Duran, o juiz Eduardo Appio, que ocupa o lugar que já foi de Sergio Moro, lamentou que o ex-prestador de serviços da Odebrecht ainda não possa vir pessoalmente ao Brasil, para um depoimento presencial.
"Um dia, nós brasileiros, e eu como juiz, teremos a oportunidade de ouvi-lo pessoalmente, independente das forças ocultas que estão operando. Vamos com calma e vamos com firmeza", afirmou.
Tacla Duran já tinha comprado passagem aérea para prestar depoimento no Brasil há cerca de um mês.
Mas cancelou a viagem depois que uma decisão confusa do desembargador Marcelo Malucelli, do TRF-4, amigo de Sergio Moro, foi publicada no site do Tribunal como revalidação de sua prisão preventiva.
Além disso, ele se sentiu coagido com a possibilidade do advogado Carlos Zucolotto Júnior, padrinho de casamento e suposto operador de Moro, de participar pessoalmente da audiência.
Também denunciou que advogados do delator Vinícius Veiga Borin tinham se habilitado em um processo no qual ele (Tacla Duran) é réu. Tacla Duran disse que se sentiu coagido e pediu que a audiência fosse adiada, e realizada sob sigilo.
A vinda de Tacla Duran ao Brasil também depende de entendimentos entre Justiça da Espanha e o Ministério da Justiça no Brasil, para suspensão das ações que tramitam lá, em consequência de decisão de Ricardo Lewandowski.
Quando era ministro no STF, Lewandowski suspendeu processos com base no acordo de leniência da Odebrecht, entre eles o de Tacla Duran, por conta da "imprestabilidade (...) dos elementos de prova obtidos a partir dos sistemas Drousys e My Web Day B".
Esses sistemas continham as comunicações e a contabilidade paralela da Odebrecht, mas não pôde ser periciado, por impossibilidade de acesso ao conteúdo original, arquivado em provedores na Europa.
As cópias enviadas ao Brasil, em pen drives e um HD, apresentam indícios de adulteração. Esse foi um dos temas abordados no depoimento de Tacla Duran nesta terça-feira, prestado por via remota.
Tacla Durán prestou depoimento na condição de testemunha do ex-vice-presidente do Equador, Jorge Glas.
Tacla Durán disse que quem adulterou o sistema da Odebrecht foi o irmão de um delator da Lava Jato, "que acabou não sendo denunciado".
Seria Paulo da Rocha Soares, especialista em informática, irmão do ex-diretor da Odebrecht Luiz Eduardo da Rocha Soares, um dos mais de 70 delatores da construtora.
O procurador da república Walter José Mathias Junior, que ocupa o lugar que foi de Deltan Dallagnol, tentou desqualificar Tacla Duran, ao insinuar que ele não atuava como advogado da construtora, e sim como doleiro.
Tacla Duran respondeu que, se não tivesse atuado como advogado na empresa, não teria respondido a um processo no Tribunal de Ética da OAB/SP, sob acusação de que teria violado sigilo profissional, com suas declarações sobre a corrupção na construtora.
O processo contra Tacla Duran no Tribunal de Ética foi arquivado.
O procurador da república foi acusado por Tacla Duran de manter vínculos de amizade com os antigos integrantes da Lava Jato, denunciados por ele.
Walter José Mathias Junior tentou impedir o depoimento, com o argumento de que o juízo de Curitiba é incompetente para tocar a ação, já que dois possíveis investigados seriam Sergio Moro e Deltan Dallagnol, que têm foro privilegiado.
Appio não aceitou o argumento, mas advertiu Tacla Duran de que não poderia falar dos dois. A investigação sobre Moro e Dallagnol deverá ficar a cargo do Supremo Tribunal Federal, com a relatoria de Dias Toffoli, que pediu para ser transferido à Segunda Turma e ocupar o lugar de Lewandowski.
Além de dizer quem teria adulterado as provas da Odebrecht, o mais importante no depoimento de Tacla Duran é a revelação de que os doleiros usavam conta do advogado de Alberto Youssef no exterior para depositar "taxa de proteção", que seria de 50 mil dólares por mês, "desde o caso Banestado".
Tacla Duran deu o número da conta e afirmou que ouviu do doleiro Wu Yu Sheng, conhecido como China, a revelação de que pagou 500 mil dólares para não ser denunciado na Lava Jato.
Ele também teria entregue dinheiro vivo ao advogado, Antônio Figueiredo Basto, que seria repassado ao procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, que seria o "mentor de Dallagnol" na Lava Jato.
Zucolotto também teria recebido dinheiro de Wu Yu Sheng.
Ao final do depoimento, o juiz Appio enviou ofício à Superintendência da Polícia Federal no Paraná, com uma cópia do depoimento de Tacla Duran, para abertura de investigação.
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