Folha diz que não é “noticioso” 62% quererem novas eleições
O desejo da esmagadora maioria, que o Datafolha escondeu, pode ser transformado em realidade via plebiscito, ora. E para que esse plebiscito seja encaminhado é preciso que o país saiba que a grande maioria dos brasileiros quer novas eleições
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O jornal Folha de São Paulo, dono do instituto de pesquisas Datafolha, divulgou dados sobre a percepção da sociedade em relação ao governo interino de Michel Temer que causaram certa surpresa: 50% do eleitorado brasileiro quereriam que Michel Temer governasse o país, caso Dilma Rousseff seja afastada definitivamente, e só 3% quereriam novas eleições.
A informação espantou porque vários institutos – incluindo o Datafolha – vinham divulgando que mais de 60% dos eleitores não queriam nem Dilma, nem Temer e, sim, novas eleições. Recentemente, por exemplo, pesquisa Ibope mostrou que 62% dos eleitores queriam novas eleições.
A manchete montada pela Folha sobre a pesquisa induziu os desavisados à crença de que metade dos brasileiros estariam aprovando a permanência de Temer no governo do país, quando, na verdade, os 50% a que o jornal se refere são metade dos que não querem novas eleições, ou seja, 38% dos eleitores, já que 62% querem novas eleições.
Por essa ótica, o site Brasil 247 chegou a uma conclusão verossímil: se metade dos 38% que não querem novas eleições apoiam Temer, apenas 19% do total de eleitores quer o peemedebista no governo.
Uau! Dezenove por cento é um percentual muito diferente de 50%. Fraude estatística é isso, o resto é fichinha…
Mas talvez pior do que a fraude seja a confissão que o Datafolha faz sobre seus “critérios” para divulgar pesquisas.
Na edição da Folha de São Paulo desta quinta-feira, 21 de julho, o jornal noticia a denúncia de que foi alvo e dá uma “explicação” sobre por que manipulou desse jeito os números que é, literalmente, assombrosa.
O jornal divulgou “explicação” de que para Alessandro Janoni, diretor de pesquisa do instituto Datafolha, “Não há erro [na omissão de que 62% querem novas eleições], e tanto a Folha quanto o Datafolha agiram com transparência”.
Segundo o tal diretor do Datafolha, “os pesquisadores quantificam as respostas espontâneas justamente para detectar opções relevantes que não tenham sido mencionadas na questão estimulada. Se uma alternativa é citada espontaneamente por mais de 1% dos pesquisados, isso deve ser destacado”.
Até aí, morreu o Neves – não o Aécio, claro; é um Neves retórico. A escolha das perguntas certamente irá gerar esta ou aquela reação.
Mas nem é essa a questão. A questão é por que o jornal não divulgou que uma maioria avassaladora do eleitorado brasileiro quer novas eleições. A explicação é do editor-executivo da Folha, Sergio Dávila. Segundo a Folha divulgou, ele afirma que o jornal omitiu do público que mais de 60% do eleitorado quer novas eleições porque “É prerrogativa da Redação escolher o que acha jornalisticamente mais relevante no momento em que decide publicar a pesquisa”.
A cereja do bolo, porém, é a explicação de Dávila sobre por que ele acha que o público da Folha não precisa saber que 62% dos brasileiros querem novas eleições, preferindo dizer que 50% querem que Temer continue no governo, o que é mentira porque são 50% dos que não querem novas eleições que disseram isso.
Confira, abaixo, matéria divulgada pela Folha nesta quinta que “explica” o “errinho” em tela.
Vamos rever a explicação do diretor executivo da Folha sobre por que escondeu que 62% querem novas eleições.
“O resultado da questão sobre a dupla renúncia de Dilma e Temer não nos pareceu especialmente noticioso, por praticamente repetir a tendência de pesquisa anterior e pela mudança no atual cenário político, em que essa possibilidade não é mais levada em conta”
Haver novas eleições “não é mais levada em conta”?!! Como assim, “seu” Dávila? Sua pesquisa diz que muito mais da metade de mais de uma centena de milhão de eleitores levam muito em conta que ocorram novas eleições. Quem é Sergio Dávila para esconder o que dezenas e dezenas de milhões de brasileiros querem?!!
O desejo da esmagadora maioria, que o Datafolha escondeu, pode ser transformado em realidade via plebiscito, ora. E para que esse plebiscito seja encaminhado é preciso que o país saiba que a grande maioria dos brasileiros quer novas eleições.
Claro que Michel Temer e suas propostas de supressão de direitos trabalhistas e entrega do pré-sal a empresas de petróleo estrangeiras podem ser mais interessantes para o patrão de Dávila do que fazer jornalismo, dando a informação correta à sociedade sobre o que sua maioria quer, mas daí a dizer que 62% não quererem novas eleições não é notícia, vai uma distância imensurável.
Essa “explicação” do “diretor-executivo” da Folha é ainda pior do que a fraude que o Datafolha e o jornal que o controla praticaram a quatro mãos.
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