Foi golpe, foi ditadura

"Houve intervenção no Congresso e no Judiciário, cassando grande quantidade de parlamentares e de juízes. Tudo o que era democrático foi vítima de ataque, de destruição, de prisão, de morte", escreve o sociólogo Emir Sader

(Foto: Divulgação)


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Por Emir Sader

O Brasil votaria pela quinta vez consecutiva para presidente da República em 1965. Os candidatos seriam JK, Lacerda e Brizola. (Não era seguro que Brizola pudesse ser candidato, por ser cunhado do Jango. Nós saímos pixar as paredes com “Cunhado não é parente. Brizola para presidente”).

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O golpe de 1964 interrompeu a democracia e foi um marco que divide a história brasileira. Depois de 19 anos apenas de retomada da democracia, as FFAA tomaram o poder, destruindo a democracia brasileira e permanecendo no poder durante 21 anos.

Houve intervenção no Congresso e no Judiciário, cassando grande quantidade de parlamentares e de juízes. Tudo o que era democratico foi vítima de ataque, de destruição, de prisão, de morte. Houve, sobretudo, repressão generalizada sobre o movimento popular, sobre os partidos e movimentos sociais, sobre o sindicalismo, sobre a intelectualidade de esquerda, sobre as universidades, sobre a militância de esquerda em geral.

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Gregorio Bezerra, negro, comunista, pernambucano, foi preso e arrastado pelas ruas de Recife amarrado com corda a um jipe. Era a forma de exibir o que o novo regime estava disposto a fazer com quem resistisse à ditadura.

Milhares de brasileiros foram presos, torturads (a tortura passou a ser a forma sistemática de interrogatório), mortos, exilados. Milhares deles ficaram desaparecidos.

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O Estado brasileiro foi militarizado, com a sua ocupação pelas FFAA. A ideologia de segurança nacional, que caracterizava como subversiva e que deveria ser atacada e destruída, qualquer expressão de divergência.

Os líderes do golpe foram os generais Humberto Castelo Branco e Golbery do Couto e Silva, que haviam fundado a Escola Superior de Guerra, em 1949, para protagonizar a “luta contra a subversão” durante a guerra fria. As FFAA passaram a decidir quem deveria ser o presidente do Brasil, escolha que era referendada pelo Congresso. Passaram a ser eles e não o povo brasileiro, quem escolheu a autoridade máxima do país, ditadores e não presidentes eleitos pelos brasileiros.

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O Brasil viveu, durante a ditadura militar, o pior momento da sua história. É muito grave que um político faça a apologia do golpe e da ditadura, que tenha homenageado o pior torturador no Congresso. A tortura é um crime inafiançável, pela barbaridade que representa. Quem faz sua apologia deve ser processado, condenado e preso.

Que o golpe seja chamado de movimento, que a ditadura seja classificada como movimento de pacificação, por gente do governo não atual, não é coincidência. O governo atual se situa na mesma linha histórica da ditadura de 1964. Se instalou também mediante um golpe, impediu que o Lula – favorito para triunfar na primeira volta nas eleições de 2018 – de se candidatar e elegeu de forma fraudulenta o presidente da República.

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É um momento tão negativo quanto aquele, que não foi eleito democraticamente pelo povo brasileiro e que tem que ser derrotado para que a democracia retorne para o Brasil. No final daquela ditadura foi necessário um processo de redemocratização e uma Comissão da Verdade. Da mesma forma, teremos que passar por um processo de redemocratização e termos uma nova Comissão da Verdade, para fazer com que o país se reencontre com a vontade popular e que as mentiras atuais sejam desmascaradas e a verdade estabelecida.

Será uma nova oportunidade de o Brasil passar a limpo períodos políticos ditatoriais. Países vizinhos como a Argentina, o Chile e o Uruguai julgaram, condenaram e prenderam os militares que cometeram crimes durante a ditadura. Ao contrário do que se propala aqui, as democracias se fortaleceram naqueles países. Aqui foi uma fraqueza ter permitido impunidade dos militares que cometeram crimes durante a ditadura, inclusive a tortura.

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Foi um golpe, foi uma ditadura. Não comemoramos, mas recordamos o regime de terror imposto pelo golpe de 1964.

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