Foi golpe. E o exemplo de Felipe Neto deve ser seguido pela mídia tradicional e por outros comunicadores
"Jair Bolsonaro é a consequência do golpe de estado contra Dilma. Ele jamais estaria no poder se, antes disso, a sociedade não tivesse sido intoxicada pelo discurso de ódio contra 'esquerdopatas', 'comunistas' e o próprio Partido dos Trabalhadores", diz o jornalista Leonardo Attuch, editor do 247
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O youtuber Felipe Neto, um dos maiores influenciadores digitais do País, com mais de 10 milhões de seguidores no Twitter e quase 40 milhões de inscritos em seu canal no Youtube, deu um passo fundamental para a restauração de um ambiente minimamente democrático no Brasil, ao reconhecer seu próprio erro no apoio ao golpe de estado de 2016, que afastou a ex-presidente Dilma Rousseff por meio de um processo de impeachment fraudulento, ancorado na tese fajuta das "pedaladas fiscais".
Antes disso, Felipe já havia gravado um vídeo em que cobrava de outros comunicadores uma posição firme no combate ao fascismo, com um argumento impecável do ponto de vista moral: quem se cala diante do arbítrio, torna-se cúmplice. No entanto, faltava o movimento de ontem, porque não basta criticar o fascismo sem reconhecer a sua origem. Jair Bolsonaro é a consequência do golpe de estado contra Dilma. Ele jamais estaria no poder se, antes disso, a sociedade não tivesse sido intoxicada pelo discurso de ódio contra "esquerdopatas", "comunistas" e o próprio Partido dos Trabalhadores.
Felipe sabe que teve alguma participação nesse processo, bem menor do que a dos meios de comunicação tradicionais, mas que não pode ser subestimada, dado seu enorme poder de influência. É possível crer na hipótese de que ela tenha sido contaminado pela instalação do ódio no Brasil promovida por Globo, Abril, Folha, Estado e todos os meios tradicionais de comunicação, assim como por páginas criadas nas redes sociais com o único propósito de alimentar as fogueiras da inquisição. Grupos de mídia, diga-se de passagem, que hoje são perseguidos pelo bolsonarismo e que estão expondo seus profissionais ao risco de agressões e até de morte na cobertura diária que fazem do fascismo.
O mea culpa de Felipe Neto não significa, obviamente, que ele esteja disposto a abraçar um projeto de reconstrução brasileira que esteja associado ao PT ou a outras forças tradicionais de esquerda, muito embora suas posições no campo dos costumes sejam progressistas. Ele é um militante ativo contra o racismo, contra a lgtbfobia e contra a desigualdade de gênero. Na economia, adota um discurso mais liberal, mas, no Roda Viva, fez também uma crítica à chamada "meritocracia", pedra angular dos liberais que utilizam o conceito para perpetuar desigualdades no Brasil. Quando foi questionado sobre quem apoiaria, afirmou que hoje se move "entre Ciro Gomes e João Amoedo". Ou seja: seu discurso é liberal nos costumes e também na economia, com leves pitadas de combate à desigualdade. Uma posição legítima e caberia à esquerda tradicional convencê-lo, assim como a outras pessoas que pensam da mesma maneira, que há caminhos mais eficientes para gerar desenvolvimento e bem-estar social.
O que falta agora é cobrar que a imprensa tradicional também faça seu mea culpa pelo papel que teve na ascensão do fascismo no Brasil. Basta seguir as palavras do próprio Felipe. “Faço mea culpa sem problema algum. Um defeito que eu não tenho é o de teimosia. Errei muito no passado, aprendi muito desses erros. Não sou adorador de um projeto petista, mas no momento do impeachment a minha colaboração, embora não fosse comparável ao alcance de hoje, sem dúvida foi utilizada a maneira errada, equivocada, por falta de leitura, estudo. Passei os últimos quatro anos tentando corrigir esse erro e usando minha força pra afastar essa opressão que vemos hoje”, afirmou. Parabéns.
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