FMI ofende soberania ao falar de eleição

"Desde o governo Lula o Brasil não prestava atenção no FMI", escreve Paulo Moreira Leite, articulista do 247; "Um dia depois do julgamento no TRF-4, que reforça a perseguição ao candidato do PT,  o diretor responsável pela América Latina diz que "um processo eleitoral com maior nível de conflito gera mais incerteza, obviamente"; PML recorda que, durante o mandato de Lula, os representantes do FMI foram colocados em seu devido lugar e não eram autorizados a falar publicamente da política econômica do país: "o último que saiu do anonimato acabou preso por fraude" 

"Desde o governo Lula o Brasil não prestava atenção no FMI", escreve Paulo Moreira Leite, articulista do 247; "Um dia depois do julgamento no TRF-4, que reforça a perseguição ao candidato do PT,  o diretor responsável pela América Latina diz que "um processo eleitoral com maior nível de conflito gera mais incerteza, obviamente"; PML recorda que, durante o mandato de Lula, os representantes do FMI foram colocados em seu devido lugar e não eram autorizados a falar publicamente da política econômica do país: "o último que saiu do anonimato acabou preso por fraude" 
"Desde o governo Lula o Brasil não prestava atenção no FMI", escreve Paulo Moreira Leite, articulista do 247; "Um dia depois do julgamento no TRF-4, que reforça a perseguição ao candidato do PT,  o diretor responsável pela América Latina diz que "um processo eleitoral com maior nível de conflito gera mais incerteza, obviamente"; PML recorda que, durante o mandato de Lula, os representantes do FMI foram colocados em seu devido lugar e não eram autorizados a falar publicamente da política econômica do país: "o último que saiu do anonimato acabou preso por fraude"  (Foto: Paulo Moreira Leite)


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 Minha experiência como correspondente em Washington da Gazeta Mercantil, entre 1999-2001, me ensinou uma verdade que a maioria dos brasileiros desconhece.

Toda vez que o Fundo Monetário Internacional, o FMI, divulga uma nota sobre um país-membro, com avaliações e perspectivas que terão consequências diretas sobre os governos de plantão, ocorre uma última avaliação antes que ela seja divulgada.

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As autoridades do país examinado não apenas são informadas sobre seu conteúdo mas têm direito a dar palpites e até tentar negociar alterações em pontos que consideram delicados demais. Essa revelação me foi feita por um dos porta-vozes do próprio FMI, quando uma nota sobre o desempenho do Brasil, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, estava demorando muito para sair, estimulando um ambiente de crítica e mal-estar entre correspondentes e enviados especiais.

“Brasília ainda não aprovou”, me disse, numa referência direta ao ministro da Fazenda Pedro Malan.

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Para quem se lembra do ambiente de incerteza que costumava ser criado no país nos dias que antecediam a “nota do FMI”, como se dizia nos tempos da ditadura, essa revelação foi especialmente instrutiva, por envolver um lado desconhecido das relações entre Washington e países que na época eram chamados emergentes, como o Brasil.

Deixa claro que, muitas vezes, autoridades do governo brasileiro não só batalhavam nos bastidores pela aprovação dos dirigentes do FMI mas também usavam notas e pronunciamentos da entidade para mandar recados ao próprio país, em mensagens que seria mais complicado defender de cara limpa, com a própria voz.   

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Lembro dessa informação diante das referências ao Brasil num relatório sobre América Latina divulgado anteontem em Washington. A mensagem não poderia ser mais direta.

A parte que interessa aos brasileiros é a seguinte: “Nossa previsão de crescimento do Brasil em 2018 foi revisada para cima em outubro de 2017 “.

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A seguir, lê-se o mais importante, uma advertência: “No entanto, a incerteza sobre o resultado da eleição pode jogar o crescimento para baixo. Para assegurar o quadro fiscal, as autoridades brasileiras planejam assumir uma prolongada consolidação, que inclui um ambicioso projeto de reforma da Previdência Social.”

Em conversa com jornalistas, o economista Alejandro Werner, que assina o estudo e é responsável pela região na estrutura do Fundo, foi um pouco mais explícito sobre o Brasil: “Um processo eleitoral com maior nível de conflito gera mais incerteza, obviamente”.

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A correspondente da Folha Estelita Hass Carazzai registrou que Werner não fez referências diretas a Lula Não era preciso, até porque o relatório do FMI foi divulgado um dia depois do julgamento no TRF-4, celebrado com operações em nível recorde nos centros financeiros.

Nesta conjuntura, todos sabem qual é o nome e o sobrenome de quem deve ser apontado como espantalho que só atrapalha o crescimento, aquele que produz “mais incerteza” em função do “processo eleitoral”. 

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Werner se alongou em explicações sobre a Reforma da Previdência, a grande batalha do início do ano entre os interesses dos trabalhadores e maioria dos brasileiros contra os patrocinadores do golpe que afastou Dilma e agora pretende estrangular a candidatura de Lula -- com a benção do FMI.

O diretor do FMI ainda disse: “é mais importante que se faça bem do que se faça rápido”, um eufemismo para admitir as imensas dificuldades que o governo está encontrando para avançar nas mudanças, o que pode até levar a um novo adiamento de uma votação que, no calendário original, seria a primeira das reformas a serem no Congresso, ainda em 2016.

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Ao dizer que é melhor fazer “bem” do que “rápido”, Werner deixou clara a exigência de um corte fundo nos benefícios que protegem a velhice da maioria dos brasileiros, ainda que o projeto Temer-Meirelles preserve privilégios de militares, do Judiciário e da alta burocracia.

Nos dois mandatos no Planalto, Lula abandonou uma fase inicial de lua-de-mel com os mercados financeiros, que implicava  num tratamento mais do que cerimonioso em direção ao FMI, para comandar uma mudança na política econômica que trouxe benefícios inegáveis ao país. A virada  que levou ao PAC e outros programas de investimentos públicos rebaixou o papel dos dirigentes do FMI, outrora personagens influentes nos debates econômicos de Brasília.

Por muitos anos, nunca se ouviu falar deles. O último que saiu do anonimato, o espanhol Rodrigo Rato, acabou preso em seu país, por fraude.

A volta das notas e palpites do FMI é um péssimo sinal sobre a soberania do país e uma advertência óbvia para as ameaças em nosso futuro. 

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