Flexibilizar "a voz" para quê?
Com tantas coisas mais importantes para facilitar a vida dos brasileiros, nossos congressistas estão preocupados literalmente com a "Voz do Brasil"
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A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão - ABERT - está lançando hoje (27), em Brasília, uma campanha nacional pela flexibilização do horário do programa radiofônico "A Voz do Brasil". Esta iniciativa é para chamar a atenção sobre o Projeto de Lei da deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), que foi requerido ontem (26) para entrar na ordem do dia n.9785/2014, pelo deputado Otoniel Lima (PRB-SP), e n. 9787/2014, pelo deputado Jhonatan de Jesus (PRB-RR), para entrarem em votação na Câmara Federal.
Com o título de "A Voz que Eu quero Ouvir", a campanha da ABERT é assinada pela conceituada agência LEW LARA, e será veiculada em âmbito nacional no rádio, TV, revistas, jornais, internet e redes sociais, com o objetivo de mobilizar o maior número de brasileiros para um abaixo-assinado pela aprovação do projeto.
A Associação das Emissoras de Radiodifusão do Paraná - AERP - lançou em 2012 uma campanha parecida, só que para pedir mais agilidade na discussão sobre a flexibilização do programa. Com o título "Se a Voz do Brasil é dos brasileiros, chegou a hora de flexibilizar", a campanha teve anúncios, banners e spots de rádio, que foram divulgados nas 350 emissoras de rádio associadas, segundo informou o site da AERP.
O PL 595/2003 tramita no congresso desde 01 de abril de 2003, mas só agora (2014) entrará em pauta para votação. A ementa dispõe sobre a obrigatoriedade para transmissão do programa oficial dos Poderes da República: Executivo, Legislativo e Judiciário. Ela propõe a flexibilização e também a retransmissão do programa entre as 19h às 00h30, e estende a obrigatoriedade dessa transmissão às emissoras de televisão (alterando a Lei nº 4.117, de 27 de agosto de 1962).
Há 78 anos no ar (fará 79 no dia 22 de julho), o programa é o mais antigo do mundo ainda em execução. Dividido em 4 blocos, "A Voz do Brasil" de 19h00 às 19h25, propaga ao vivo as notícias do Poder Executivo. Das 19h25 às 19h30 (gravado), as do poder Judiciário. Das 19h30 às 19h40, do Legislativo Senado Federal, e por fim das 19h40 às 20h do Legislativo Câmara Federal. Tem também às segundas, quartas e sextas, o minuto do TCU, após o Poder Executivo ou as notícias da Câmara. De "Programa Nacional" e "Hora do Brasil", o programa só passou a se chamar "A Voz do Brasil" no governo Médici.
Controvérsias à parte, o programa obrigatório foi retirado várias vezes do ar através de liminares em rádios de São Paulo capital desde os anos 90, e em rádios do Rio Grande do Sul de 2005 a 2010. Uma pergunta que não quer calar: por que estão tão interessados em modificar a obrigatoriedade do horário de transmissão do programa? Simples, porque o horário das 19h às 20h é considerado horário nobre e representa uma grande perda no lucro das rádios, já que não podem produzir programação para comercialização desses horários.
Com a desculpa de que o horário tem pouca audiência dos brasileiros, a ABERT e empresários das telecomunicações vão tentar de tudo para modificar a obrigatoriedade do programa, sobretudo para transmitirem jogos de futebol no mesmo horário (olha a Copa aí, gente!). Cabe à sociedade avaliar a questão e se manifestar, e os congressistas decidirem a melhor solução para o impasse.
Sinceramente, não vejo motivos para a mudança de horário do programa. Nesse período, as pessoas estão retornando do trabalho para casa (como eu) e muitos acompanham as notícias importantes do Brasil através do rádio. Com tantas coisas mais importantes para facilitar a vida dos brasileiros – como o 3° turno bancário – que irá gerar mais emprego e renda, os nossos congressistas estão preocupados literalmente com a "Hora do Brasil", ou melhor com a "Voz do Brasil".
Fiquem agora com a Ópera "O Guarani" do maestro Carlos Gomes, música tema desse programa tão importante para a cultura dos brasileiros. #NaomudemAvozdoBrasil
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