Flávio Dino arrisca porque é preciso arriscar

"Constatado o fracasso Bolsonaro e sua intratabilidade, gerou-se um forte movimento de preparação para sua sucessão nos setores mais conservadores da sociedade brasileira, desde os veículos de mídia familiares até o empresariado ligado à indústria, penalizado com as estultices diplomáticas de Ernesto Araújo", diz o editor Gustavo Conde, que complementa: "Flávio Dino é parte deste processo"

Flávio Dino: o Nordeste e a força da Política diferenciada e de vínculo à esquerda mudando rumo dos estados
Flávio Dino: o Nordeste e a força da Política diferenciada e de vínculo à esquerda mudando rumo dos estados (Foto: Felipe Gonçalves)


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Eu gosto do Flávio Dino e sei que ele é competente.

Também sei que ele é inteligente para não cair em armadilhas e que, para conseguir "visibilidade", é preciso sair nos jornais tradicionais dizendo coisas que esses jornais querem ouvir.

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Tudo bem.

Mas é justamente por gostar tanto dele que eu vou ficando preocupado.

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Ele pode acabar se transformando num Ciro Gomes 2. A imprensa tradicional está tratando Dino exatamente como tratou Ciro, há algum tempo.

Eles devem ter desistido de Ciro porque viram que ali não tem futuro.

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Ato-contínuo, apontaram suas atenções para o governador comunista. Tudo para evitar o PT. Ou: se vamos dar atenção a alguém do campo progressista, esse alguém não pode ser do PT.

Tudo bem, de novo. A gente já conhece tudo isso.

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O desafio de Dino é costurar esse universo de simpatia em nossos canais conservadores sem se chamuscar com os trabalhadores mais politizados e, sobretudo com o Nordeste, região com o melhor nível de leitura política do país.

A conversa com golpistas teria de acontecer mais cedo ou mais tarde (FHC e Huck) por parte de alguns setores da esquerda. Mas há cifras de ingenuidade pairando na brisa suave dos encantamentos recíprocos.

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Hoje, ficou caracterizado um "bem-bolado" entre o jornalismo de cativeiro e Dino. O jornal Folha de S. Paulo destacou mais uma vez o enunciado diniano: "é melhor o Huck conversar comigo do que com o Bolsonaro".

Que raios, afinal de contas, isso quer dizer?

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A princípio, é a construção da candidatura Huck. Se se levar em conta que Dino acabou de tirar uma foto generosa com FHC, essa tese ganha força.

Mas nenhum político dá ponto sem nó, nem os comunistas.

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Dino experimenta, testa, sente, prospecta, desestabiliza o cenário modorrento dos bastidores políticos pré-eleitorais.

Nesse sentido, seu trabalho é espetacular e muito bem-vindo.

O problema é que o nosso jornalismo conservador também não dá ponto sem nó.

Dino arrisca porque é preciso arriscar.

O fato e que sempre há aquela máxima: "é preciso combinar com os russos."

O eleitor brasileiro está ainda sob alto nível de estresse. Foi espancado por políticos, por campanhas sujas e pelo tradicional jornalismo venal, esse patrimônio cultural da nação brasileira.

Muita eleitor recebe mal Dino desfilando desenvolto na areia movediça da imprensa anti-petista.

Constatado o fracasso Bolsonaro e sua intratabilidade, gerou-se um forte movimento de preparação para sua sucessão nos setores mais conservadores da sociedade brasileira, desde os veículos de mídia familiares até o empresariado ligado à indústria, penalizado com as estultices diplomáticas de Ernesto Araújo.

Dino está sendo usado para adocicar Huck aos setores mais progressistas. Mas Dino não nasceu ontem: ele também usa esse processo de suavização de Huck para viabilizar sua candidatura.

De uma certa forma, ele já se saiu bem melhor que Ciro Gomes no flerte com a mídia tradicional, sobretudo porque não dispõe da metralhadora giratória de Ciro e porque, a bem da verdade, é um "doce de pessoa".

É esse traço que as nossas elites querem para sair da encalacrada Bolsonaro com alguma dignidade: querem alguém de fala mansa, de sorriso fácil e disposto a conversar, senão para ser protagonista, ao menos para abrir caminho.

Dino é tudo isso. É perfeito para emparedar o PT e para fazer trepidar as eleições de 2020.

O incômodo gerado pela desenvoltura de Flávio Dino e por sua articulação é apenas isso: um incômodo.

Dino se coloca como estrategista e nós precisamos de estrategistas para vencer o fascismo. Não dá mais para deixar tudo para Lula.

Dino, inclusive, terá de manter certa distância tática de Lula para preservar o flerte com os setores mais conservadores. Lula possivelmente vibraria com esse nível de lealdade controlada.

A rigor, Dino re-estabelece a possibilidade de diálogo no país. Ele dá o exemplo, corre os riscos e cafunga no cangote de todos os pretendentes a enxotar Bolsonaro da presidência da República.

Talvez, seja a hora de deixamos de subestimar a inteligência de certos líderes progressistas. É hora de ousar. Quem não ousar, ficará para trás.

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