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Ficções de Sylvio Back

(Foto: Divulgação)
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Sylvio Back tem seu nome mais imediatamente ligado ao documentário por conta de clássicos como Revolução de 30, República Guarani, Guerra do Brasil e Yndio do Brasil, além do polêmico Rádio Auriverde e dos mais recentes O Contestado – Restos Mortais e O Universo Graciliano. Isto sem contar os muitos curtas diretamente ligados ao real.

Mas eis que a plataforma gratuita Itaú Cultural Play está abrindo nesta sexta-feira (13/1) uma mostra dedicada aos cinco longas de ficção do autor catarinense prestes a completar 86 anos. Os trabalhos ficcionais de Back são bastante variados em matéria de temas e estilos, e cobrem o período de 1968 a 2003.

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Seus três primeiros longas-metragens foram de ficção. Lance Maior (1968) era um drama romântico de feições existencialistas que pretendia derrubar o mito da mobilidade social. Rodado em Curitiba, conta a história de um bancário acomodado às exigências de sua carreira e ligado afetivamente a duas mulheres de classes sociais distintas: uma balconista iludida e uma universitária de família abastada. Retrato honesto de pessoas comuns, isento de estereótipos, Lance Maior é uma pequena joia em preto e branco a se redescobrir.  

Em 1970, Back realizou o épico A Guerra dos Pelados, leia-se Guerra do Contestado. A concessão de terras a uma companhia de estradas de ferro estrangeira para explorar suas riquezas e a ameaça de redutos messiânicos de posseiros expropriados geram um conflito sangrento no interior de Santa Catarina. O Exército interveio e os "pelados" opuseram uma resistência à semelhança de Canudos. Com uma grande interpretação de Jofre Soares, este foi o filme mais, digamos, glauberiano de Sylvio Back.

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Aleluia, Gretchen, de 1976, é por muitos considerado o melhor filme de sua carreira, ao menos entre os ficcionais. É a história, em parte autobiográfica, de uma família alemã que vem para o Brasil pouco antes da II Guerra e encontra aqui um simulacro do nazismo, o integralismo. O filme termina com uma alegoria da incorporação de sinais nazistas à formação cultural brasileira, tema aliás bem atual perante a recente irrupção da extrema-direita no país. 

Santa Catarina também está no foco do filme-recital Cruz e Souza – O Poeta do Desterro (1998). O catarinense João da Cruz e Souza (1861-1898), filho de escravizados alforriados e fundador da poesia simbolista no Brasil, é tido como o maior poeta negro da língua portuguesa. No filme, ele tem sua trajetória encenada através das paixões eróticas, do seu emparedamento social, racial e intelectual numa Florianópolis racista, e do seu fim trágico no Rio de Janeiro.   

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A mostra se completa com o sólido Lost Zweig (2002), um "resgate ficcional" (o termo é do diretor) da vida brasileira de Stefan Zweig, interpretado pelo alemão Rüdigler Vogler, ator habitual dos primeiros filmes de Wim Wenders. Mais que uma biografia estrita, Back faz a sustentação dramatizada de uma série de hipóteses sobre as razões da vinda de Zweig e sua segunda mulher, Charlotte, para o Brasil em 1941, assim como suas estreitas relações com o governo Vargas. O filme aborda, ainda, as circunstâncias que produziram seu livro Brasil, País do Futuro e, finalmente, os motivos do suicídio pactuado do casal, em fevereiro de 1942.

Em todos esses filmes é possível encontrar traços que ligam a ficção às origens e às admirações intelectuais do cineasta. Assim também fica evidente a liberdade que ele se concede para tratar a narrativa histórica não como uma vestal recatada a quem se deva respeitar, mas uma mulher fogosa sempre aberta à livre dramatização e às licenças da metáfora.

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