FHC previu fracasso: “Sarney vai fazer 2% do que Tancredo faria”
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Era minha primeira viagem a Belo Horizonte. Eu não conhecia nada, não tinha amigos mineiros. Assim que desembarquei, na tarde de 25 de abril de 1985, no aeroporto de Confins, embora não fosse meu hábito, resolvi pedir informações no balcão da Secretaria de Turismo de Minas Gerais.
Perguntei à jovem funcionária que hotel ela me recomendaria. Muito solícita, citou algum deles e logo em seguida perguntou se poderia ir comigo no táxi até o centro, já que terminava seu turno e o centro ficava meio longe, a uns 15 quilômetros, eu acho. Claro que eu concordei, gostei dela, qualquer homem gostaria, era meu tipo, morena, baixa, pintas no rosto, muito discreta, agradável.
Não aconteceu nada entre nós no banco traseiro, onde nos instalamos, além daquela conversa padrão entre duas pessoas que acabam de se conhecer até o táxi encostar em frente ao hotel. Nessa hora, não me lembro se ela pediu para subir ou eu a convidei. Sei que subimos juntos ao meu quarto e logo que fechamos a porta atrás de nós caímos na cama aos beijos e abraços.
Quando o clima esquentou ainda mais, ela me avisou que era virgem. Não tem problema, respondi, podemos fazer muitas coisas interessantes assim mesmo. E continuamos. Logo depois fui até a janela. Na rua estava passando o cortejo fúnebre de Tancredo Neves. Tive que me despedir rapidamente. Afinal, eu tinha vindo cobrir o enterro para a "Isto É".
Nunca houve cerimônia fúnebre como essa. Nem de Carmen Miranda. Nem de Getúlio. Durou três dias. Começou em São Paulo, passou por Brasília e chegou a Belo Horizonte, de onde iria a São João Del Rey.
Cheguei ao Palácio da Liberdade já completamente lotado, filas imensas de populares, todos os políticos tristes, cabisbaixos e perplexos. Passei tarde e noite conversando com uns e outros preocupados com o futuro sem Tancredo, ninguém estava preparado para aquele anticlímax, a morte estúpida do primeiro presidente civil depois da ditadura militar.
Já entrávamos pela madrugada quando, encostado a uma coluna prestei atenção a uma conversa entre dois sujeitos que eu via, mas que não podiam me ver. "Sarney vai fazer uns 2% do que Tancredo faria", lamentou Fernando Henrique, então senador por São Paulo ao futuro ministro da Justiça Fernando Lyra.
Anotei a frase, achei que podia ser a abertura e o título da minha matéria, talvez chamada de capa. Quando Mino Carta a leu, como, de resto, fazia com todas as matérias de política logo depois de serem escritas pelo repórter, lançou suspeitas. Perguntou: "Você tem certeza que ele disse isso"? Eu confirmei.
Mino não se convenceu e me atacou. "Ah, você já está querendo criar intrigas na Nova República mal ela começa"! E cortou fora a frase com sua caneta implacável. Adeus título, adeus chamada de capa.
Tive que me conformar duplamente. Pelo corte da frase que poderia ser histórica e por ter jogado fora o telefone da mineira insinuante. Muitos anos depois do incidente, Mino me disse que tinha se arrependido do corte, deveria ter acreditado em mim. Mas era tarde.
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