Fernando Collor
Outra característica de Fernando Collor é o antipetismo doentio, como se o Partido dos Trabalhadores aglutinasse a responsabilidade pelas mazelas do Brasil
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Lembro de Fernando Collor em campanha para presidente da República, em 1989. Tentava demonstrar virilidade (“aquilo roxo”), anticomunismo (“nossa bandeira nunca será vermelha”), moralismo (“caçador de marajás”) e um ridiculamente falso perfil anti-ideológico (“deixar a esquerda perplexa e a direita indignada”). Era dono de um discurso liberalizante, privatista, por isso teve apoio da mídia que até hoje abraça gente assim.
Eleito, o “liberal” fez a mais cruel intervenção estatal na economia de que se tem notícia, confiscando o dinheiro de quase todo mundo e provocando, além de falências, suicídios.
Tudo em Fernando Collor sempre pareceu falso, desde o casamento até o destemor com que assumiu a Presidência da República. No discurso, ele vinha para moralizar e modernizar, mas com o tempo - bem pouco tempo - sua amoralidade e seu apego a práticas corruptas antigas vieram à tona. Os mais informados já sabiam delas, e avisaram.
Luís Costa Pinto trouxe-nos o irmão mais novo do presidente, Pedro, à luz para detonar a bomba que resultaria em impeachment.
Eminência pardíssima e passador de chapéu, PC Farias, o “tesoureiro”, foi assassinado, em meio a uísque, amante e circunstâncias parcialmente esclarecidas. O sujeito rodava o país a bordo de um jatinho preto - o “Morcego Negro” - achacando empresários em nome do presidente da República.
O Supremo Tribunal Federal absolveu Fernando Collor, em 2014, dos crimes de que fora acusado enquanto chefe do Executivo (peculato, falsidade ideológica e corrupção). Falta de provas. Além desses, os casos de “suposta” corrupção envolvendo-o não cabem em uma dúzia de colunas como esta.
Agora, o mesmo STF condena-o por recebimento de propinas enquanto senador: 20 milhões de reais para viabilizar um contrato entre a UTC Engenharia e a BR Distribuidora. O gancho é de oito anos e 10 meses, mas pode vir a ser modificado após análise de embargos de declaração a serem apresentados pelo réu.
Interessante notar que o discurso collorista nunca mudou. O moralismo e o anticomunismo extemporâneo estão sempre à testa, e sempre edulcorados por discursos inflamados. Daí a adesão a Bolsonaro lhe ser tão natural.
Outra característica de Fernando Collor é o antipetismo doentio, como se o Partido dos Trabalhadores aglutinasse a responsabilidade pelas mazelas do Brasil e os pecados dos brasileiros. Preconceito de playboy.
Sobre esse antipetismo, bem analisou a este colunista Heloísa Starling. Para a historiadora - que, aliás, critica a relação de Lula com Cuba e Venezuela -, certos políticos e cidadãos carregam e exibem ressentimentos toda vez que perdem um naco do seu poder, da sua preponderância histórica.
Esses homens, homens como Fernando Collor e Jair Bolsonaro, olham para a televisão e acham que seu filho de cinco anos não pode ver duas mulheres ou dois homens se beijando ou uma mulher negra chefiando um grupo de trabalho repleto de brancos. Em público, dizem ser anti-PT porque o antipetismo tornou-se um grande guarda-chuva, sob o qual se abrigam tais questões, as quais não necessariamente têm a ver com partido político, mas com o fato de aqueles homens se sentirem ameaçados em sua condição de macho.
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