Fenômeno Lula pauta o mundo na viagem de maior repercussão e a mídia cacareja por Washington
Lula ousa influenciar a ordem internacional com mesmo discernimento que o levou a ser a figura dominante da história brasileira neste primeiro quarto de século
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A mídia brasileira respirou aliviada nesta terça-feira, quando o presidente Lula discursou dizendo mais uma vez que condena a invasão da Ucrânia.
A última semana foi de uma disjunção entre o impacto da visita da presença internacional de Lula na China, nos Emirados e com o chanceler russo no Brasil e a recepção biliosa das notícias pela mídia de direita aqui no país.
Em uníssono, o pool de veículos de direita odiou que Lula tenha declarado sua preferência para que o comércio entre Brasil e China seja realizado nas moedas dos dois países, evitando os riscos do dólar.
Lula disse ainda que a responsabilidade pelo conflito na Ucrânia é também dos Estados Unidos e União Europeia, que não têm interesse no fim da guerra. Alinhou-se à sua anfitriã China, aliada informal da Rússia, na defesa de um cessar-fogo imediato para que se abram negociações para a paz.
As manifestações do presidente suscitaram a mais ampla repercussão internacional. Abalaram Washington, onde o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, acusou o brasileiro de repetir a propaganda da Rússia e da China.
A declaração sobre desdolarização não poderia ter impacto maior, com reações da secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, da presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, e dos republicanos, como o próprio ex-presidente Donald Trump ("estamos perdendo o Brasil para a China").
Apesar de um certo deixa-disso em relação a Lula, Washington seguiu nesta terça-feira manifestando sua inconformidade em relação a Lula, que emendou a viagem com uma recepção ao próprio chanceler russo em Brasília, Sergey Lavrov.
Desde as eleições e posse, a mídia corporativa lavajatista de direita brasileira vinha tolerando tudo de Lula, inclusive supostos deslizes verbais em meio a improvisos.
Agora, quando a ação de Lula ameaça, como disse um analista, a rainha do formiga-rainha, o domínio da Casa Branca sobre a geopolítica e as finanças, jornalistas e veículo entram em surto coletivo.
A Folha grafou em editorial que "Lula perdeu a mão". O Estadão sentenciou que "Lula transformou o Brasil em sabujo dos interesses chineses só é exclusivamente para se distanciar dos Estados Unidos, o velho vilão da esquerda brasileira". Já O Globo disparou um alerta ameaçador diante de seu histórico: "O perigo de provocar americanos é europeus é evidente: Lula arrisca levar um tombo".
De resto, um pequeno exército de colunistas desfilou nos veículos, telejornais, rádios abraçando as mesmas aflições derivadas do contrariedade causada junto à sede do império. As opiniões sempre vieram acompanhadas de conselhos o que o presidente pode ou não pode falar.
O que quase ninguém considerou é a possibilidade de que o presidente tenha emitido essas opiniões em total consciência de seu teor e da repercussão política que tencionava obter e efetivamente obteve.
Lula sabe que os golpes de 2014 em Kiev e o que depôs Dilma Rousseff são gêmeos, ambos com intenso envolvimento estadounidense. Aliás, Lula reconduziu Dilma a uma posição de poder nesta viagem de forma significativa.
Não lhe deve deve escapar o apoio da direita e de sua mídia a esses dois golpes. Ambos redundaram em processos eleitorais questionáveis que levaram a extrema-direita ao poder, sendo que na Ucrânia forças que reivindicam o passado de apoio ao nazismo chegaram ao poder. Foram os avanços da Otan, incentivados pel Casa Branca, que suscitaram a reação de Putin.
Mais do que isso, Lula acompanha as mudanças em curso na geopolítica global. Sua ação antecipa a decadência estadounidense e europeia. Essa diplomacia presidencial evolui de acordo com uma nova lógica em que o Brasil pretende surgir como uma das lideranças do chamado sul global no contexto de um mundo multipolar resultante da decadência da ordem regida pela Casa Branca.
Tal possibilidade os adversários de Lula, por não querem considerar em sua miopia conservadora nem sempre desinteressada.
Jamais uma viagem de presidente brasileiro teve tantas ideias sinceras e propostas corajosas nem repercussão comparável a esta.
Com elas, o presidente pautou o mundo inteiro. Já no Brasil, em sua submissão, a mídia se apavora quando um fenômeno como Lula ousa influenciar a ordem internacional com o mesmo discernimento que, não à toa, o levou a ser a figura dominante da história brasileira neste primeiro quarto de século.
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