Feliz solstício de verão a todos ou, se eu fosse cristão
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.
Que tragédia foi esta que se abateu sobre todos nós?
Consecutivamente e ao mesmo tempo, um golpe contra um governo anti-imperialista e contra uma mulher honesta e lutadora, um governo fascista e uma pandemia.
Ninguém está bem, e para piorar, com mais da metade da população brasileira fora do mercado de trabalho, junta-se a miséria, a volta da fome e a solidão a que todos foram submetidos por conta do Covid: ou estamos desempregados, necessitados; ou estamos doentes da alma, com tamanha covardia deste governo e insensibilidade social.
Este não é um texto teórico, como escrevo colunas esporadicamente, no melhor estilo Caymmi, para o 247, escrevo este texto, em forma de abraço, para que resistamos e sobrevivamos, para poder reconstruir o Brasil.
Bolsonaro quer nos exterminar, nossa tarefa agora é sobreviver. Resistir à Covid, resistir ao fascismo, para assim que possamos sair, possamos voltar às ruas e recuperarmos a real democracia no Brasil e colocar o país de volta a um projeto de desenvolvimento autônomo nacional, com uma pauta mais corajosa e avançada: uma reforma agrária que nos tire do latifúndio agro assassino, a reestatização das nossas empresas roubadas por governos apátridas e doadas ao capital nacional, a recuperação dos direitos dos trabalhadores, taxação das grandes fortunas.
Não bastava apenas voltar ao Governo, temos que ter um projeto de país menos tíbio e condescendente com as elites. Não podemos ser a esquerda “civilizada” que a direita ama, mas temos que voltar a ser a esquerda libertária e revolucionária que as elites temem.
Assim, este texto é o abraço possível nesta época de festas. Não sou cristão, efetivamente vivo num país de maioria cristã e sei da memória afetiva e do inconsciente coletivo das reuniões de fim de ano, aliás, como todo mundo tenho belas lembranças destas datas, crendo ou não na mesma religião. Óbvio que muitos baixaram a guarda contra o Covid e se aglomerarão nesta data, o que vai contra os princípios do próprio cristianismo que se prega nesta data, haja vista que em lugar de solidariedade e fraternidade, aglomerar pessoas agora é expor as pessoas mais vulneráveis das nossas famílias a uma morte horrível. Desculpem se estou sendo cru e direto, mas é isto, não há nenhum sentimento fraternal em se aglomerar agora e expormos uns aos outros ao contágio de uma doença para a qual o governo brasileiro virou às costas e que virou uma grande catástrofes e genocídio.
Não ajudemos este fascista em seu intento de matar mais e mais pessoas.
Não sou cristão, mas, como existencialista ateu, sou capaz de entender e gostar dos evangelhos (como se diz na piada, Jesus é até um cara legal, o problema são os seguidores dele), mesmo tendo dúvidas inclusive da existência do Cristo histórico. Se como metáfora, arquétipo, devemos entender dialeticamente ao inverso a famosa e mal pronunciada frase de Marx sobre a religião ser o ópio do povo, o ópio é necessário diante de tanta dor e caos, assim, pode a religião ser uma mentira, mas os sentimentos de solidariedade, fraternidade, cuidado, preocupação igualdade, irmandade, entre todos os seres humanos, são os mesmos sentimentos que nós, comunistas, pregamos.
Não é difícil pregar um Cristo comunista lendo até desatentamente o evangelho, como mito de esperança numa humanidade menos cruel, Jesus inspira a esperança. Mal usado, pode inspirar também a servidão e a espera pelo paraíso no outro mundo. A Teologia da Libertação mostrou que ele pode ser ideologia de construção deste paraíso na terra, independente das crenças dos demais.
Um ateu pode ser mais cristão do que um devoto, se o evangelho for palavra viva e luta contra a opressão.
Se eu fosse cristão este seria o evangelho que pregaria, por isto tenho a facilidade de dialogar com Cristãos que pregam o evangelho a partir da ideia da igualdade, não por outra razão Alan Badiou, um ateu, apregoa que a ideia da igualdade, ainda que a partir de um mundo espiritual, tomou forma nas seitas heréticas e nas revoltas populares contra a opressão na idade média, a partir da leitura dos evangelhos. Esta interpretação rebelde é fundamental, quando no nosso país alguns pastores, que deixaram de ser pastores e viraram líderes fascistas, tornam Jesus Cristo um membro da Ku Klux Klan, e utilizam uma leitura anacrônica do velho testamento para perseguir os gays, justificar o racismo e o anticomunismo, pregar a submissão das mulheres e a repressão sexual.
Leitura de qualquer texto, sacro ou não, é sempre interpretação. Há quem pregue o fascismo em nome da bíblia, há quem pregue a libertação.
Para mim, que sou ateu, o solstício de inverno do hemisfério norte (verão aqui), que foi fixado aleatoriamente como data do nascimento de Jesus, tem o significado histórico de festa, congraçamento, dança, coletividade.
Nesta data deixo meu abraço camarada e comunista a todos, ateus, cristãos candomblecistas, umbandistas, muçulmanos, budistas, hinduístas pouco importa.
Neste texto que abraça, no fundo, quero apenas dizer, que, se eu fosse Cristão eu aproveitaria o natal para refletir no que o filósofo Jesus pregou, veria como as palavras dele tem pouco ou nada que ver com o que prega esta multidão de fascistas organizadas sobre o mando de Jair Bolsonaro, que querem exterminar a diferença, a singularidade, o amor, o sonho, a poesia.
iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popularAssine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:
Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.
Comentários
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247