Fé, menino. É tempo de desmachificar

Esse pequeno privilégio que nos dão para ratificarmos a cultura do patriarcado, nos traz mais ônus que bônus. Respeita as mina, cara!

Esse pequeno privilégio que nos dão para ratificarmos a cultura do patriarcado, nos traz mais ônus que bônus. Respeita as mina, cara!
Esse pequeno privilégio que nos dão para ratificarmos a cultura do patriarcado, nos traz mais ônus que bônus. Respeita as mina, cara! (Foto: Lelê Teles)


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

sabe aquela imagem do neandertal, tacape na mão, arrastando uma mulher pelos cabelos e levando-a para uma caverna escura?
esquece essa imagem, cara.

de onde você acha que ela veio? como você acha que ela foi construída, por que?

em verdade lhe digo, amiguinho, ela foi implantada na sua mente, e é uma fraude.

continua após o anúncio

essa imagem não foi extraída de nenhuma caverna, não há uma única pintura rupestre que faça alusão a ela, nenhum arqueólogo endossa essa infâmia, fósseis não exibem vestígios dessa violência, a antropologia a rechaça, a psicologia a repudia, ela não faz o menor sentido.

essa imagem só existe na sua mente, cara. se liga.

continua após o anúncio

e ela foi implantada como mais um fetiche criado pela cultura do estupro.

sim, man, essa imagem prova que a cultura do estupro é uma realidade e que é, também, uma construção sofisticada.

continua após o anúncio

a imagem do estupro neandertal - reproduzida amiúde como uma piada - é uma tentativa de legitimação do domínio violento e arbitrário do macho branco: ela busca se escorar num falso determinismo biológico.

"as coisas sempre foram assim, já era assim nas cavernas."

continua após o anúncio

a semiologia e a ideologia caminham de mãos dadas, a mídia se encarrega de formatar essa concepção no Grande Simulacro do qual nos falava Baudrillard.

tanto é que todos sabemos do que se trata, a cena retrata um estupro. mas, malandramente, tudo para na metade, todos sabemos como aquilo vai terminar, mas não vemos o seu desfecho.

continua após o anúncio

é uma forma sofisticada de criar um significado sem significante. o que Saussure configuraria como uma aberração linguística.

a gente naturaliza o estupro fechando os olhos para ele, ou fingindo que se trata de outra coisa.

continua após o anúncio

por meio dessas ilustrações, nem tão sutis, ensinamos às crianças, logo cedo, que o homem domina a mulher e a submete sexualmente: "as coisas sempre foram assim, já era assim nas cavernas."

é um processo de endoculturação.

continua após o anúncio

estou aqui a traduzir a cultura como um conceito antropológico, como bem o fez Roque Laraia, com quem eu tive a honra de estudar.

e agora veja mais essa:

como o domínio do macho se faz presente em todo o mundo dito civilizado, parece que a submissão da mulher se encaixa na categoria de arquétipo junguiana.

Deus é ele. Odim, é ele. Zeus é ele... quem cria o homem é um ser masculino.

e cria primeiro o homem e só depois a mulher.

e o substantivo homem - veja mais uma fraude linguística - é um caso bizarro de um espécime representando toda a espécie, porque quando digo o homem, posso estar a dizer a humanidade, mulheres inclusas.

é uma supremacia forçada e ela se configura com a única pretensão de manter o status quo e o privilégio do macho.

pra não escrever mais um textão, fico por aqui, na próxima crônica me aproximarei mais da configuração religiosa, igualmente legitimadora da cultura do estupro; e em seguida farei uma análise linguística.

o que pretendo com isso?

desmachificar.

o processo de enduculturação é constante, é um moto perpétuo, e ele não é linear, pode ser quebrado, alterado, reconfigurado.

estou a convidar os homens a repensar o seu machismo, o nosso machismo.

é bom para todos nós, cara. você deixa de ser um joguete, uma mera marionete acéfala nas mãos dos machos brancos, e toma conta do seu destino, do destino da sua cultura.

esse pequeno privilégio que nos dão para ratificarmos a cultura do patriarcado, nos traz mais ônus que bônus.

respeita as mina, cara!

palavra da salvação.

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247