Ah, a Associação Nacional de Jornais… Poderia haver órgão mais representativo do coronelismo jornalístico brasileiro do que esse? Ainda está fresco em nossa memória episódio em que a ex-presidente da entidade, Maria Judith Brito, definiu, com sinceridade incomum, o papel dos jornalões no Brasil de hoje.
No diário carioca O Globo de 18/3/2010, a seguinte declaração da então presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e executiva do grupo Folha de S.Paulo:
“A liberdade de imprensa é um bem maior que não deve ser limitado. A esse direito geral, o contraponto é sempre a questão da responsabilidade dos meios de comunicação e, obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada. E esse papel de oposição, de investigação, sem dúvida nenhuma incomoda sobremaneira o governo”
Uau! Sincericídio é pouco para definir essa declaração. Realmente, a grande imprensa brasileira assumiu um novo papel ao longo dos quatro governos do PT, a partir de 2003, tornando-se um verdadeiro partido de oposição, após ter atuado como partido da situação durante os oito anos anteriores, na era FHC.
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Aliás, vale lembrar que quem diz que a mesma imprensa que hoje se confessa partido de oposição durante o governo FHC foi partido da situação não sou eu, mas o decano do colunismo político brasileiro e membro do Conselho Editorial da Folha de São Paulo, Janio de Freitas.
Confira, abaixo, a declaração de Janio de Freitas dada em programa Roda Viva de 2012, sobre como esse partido da dona Judith Brito atuava quando políticos amigos estavam no poder.
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Não é pouco. Quem sabe o que representa Janio de Freitas na história do jornalismo brasileiro certamente se convencerá de que a imprensa que a ANJ representa, até 31/12/2002 era um gatinho com o governo e se transformou em um feroz tigre nos 13 anos posteriores.
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Nesse contexto, faz todo sentido que o atual presidente da Associação de Jornais do país e diretor-geral da Rede Gazeta do Espírito Santo, Carlos Fernando Lindenberg Neto, tenha mentido tanto em artigo publicado na Folha de São Paulo desta quarta-feira, no qual comemora o limiar da reconcentração da mídia que o novo governo argentino está a encetar.
O sujeito que representa os jornalões brasileiros – e é disso que se trata a ANJ, uma associação que não representa “os jornais”, mas um grupelho de grandes grupos de mídia -, mente ao dizer que a “Ley de Medios” argentina foi criada “com o claro objetivo de intimidar a mídia” e mente ao dizer que o Brasil tem “regras constitucionais para o setor de comunicação e para o exercício responsável para a liberdade de imprensa”.
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Sobre a questão argentina, trataremos mais adiante. Mas sobre a questão brasileira já podemos verificar que se trata de uma falácia. Até temos as tais “regras constitucionais” para garantir um jornalismo ético, plural e democrático, mas essas regras não estão regulamentadas.
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No dia 10 de novembro de 2010, o PSOL propôs ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão, ajuizada pelo jurista Fábio Konder Comparato. A petição inicial requereu à Corte que determinasse ao Congresso Nacional a regulamentação de matérias existentes em três artigos da Constituição Federal (220, 221 e 223), relativos à comunicação social.
Entre as providências pedidas estava a criação de uma legislação específica sobre o direito de resposta, a proibição de monopólio ou oligopólio dos meios de comunicação social e a produção e programação exibida pelos veículos. De acordo com a petição, a Constituição Federal brasileira admite o cabimento da ação direta de inconstitucionalidade por omissão de medida para tornar efetiva norma constitucional.
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É desnecessário dizer que aquela petição não teve sucesso. Talvez não no que diz respeito ao Direito de Resposta, que, recentemente, foi aprovado pelo Congresso, mas em claro confronto com a vontade da ANJ, ainda que o mitômano que preside a entidade tenha tido a cara-de-pau, em seu artigo suprarreproduzido, de se jactar por uma legislação que essa entidade combateu até onde foi possível e que, na prática, tenta anular via judiciário.
Para entender as bobagens e mentiras ditas pela versão masculina de dona Judith Brito, primeiro há que assistir ao que diz Frank La Rue, Relator da ONU para Liberdade de Expressão, sobre a necessidade de existir regulação da mídia
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Em seguida, devemos conferir o que diz La Rue sobre a lei argentina que o presidente da ANJ detrata e calunia de forma tão vil. Segundo o relator da ONU, é uma lei “muito boa” e uma das mais avançadas do continente americano.
A superficialidade, as distorções, as mentiras do presidente da ANJ nesse artigo abjeto que escreveu na Folha, porém, fazem todo sentido e escancaram o caráter vil da comunicação nesta parte do mundo, que, aliás, no Brasil é extremamente atrasada justamente por conta do poder dessa meia dúzia de famílias que controla a “nossa” imprensa.
E se você acha que estou exagerando, leitor, basta ler, abaixo, matéria da mesma Folha de São Paulo, publicada em 2001, que reconhece que não regular a mídia é coisa de país atrasado e que o Brasil, ao não fazê-lo, está na contramão do que acontece no mundo desenvolvido.
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