Fator Lula acentua polarização e pressiona agenda de Bolsonaro em 2021
"Bolsonaro teve mais de dois anos para flanar pelo país em ritmo permanente de campanha. Agora, o palanque do debate público será forçosamente dividido com Lul", escreve o colunista Milton Alves
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Neste domingo (14), o país recebeu a notícia de uma possível saída do ineficaz general Eduardo Pazuello do Ministério da Saúde, que logo depois foi desmentida. A linha anarconegacionista imprimida na pasta agravou a crise sanitária provocada pela pandemia de Covid-19, que já tirou a vida de quase 280 mil brasileiros. Diversos analistas atuantes na mídia corporativa apontam que a situação de Pazuello foi afetada pelo chamado fator Lula.
A entrada em cena de Lula, após decisão do ministro do STF Edson Fachin, que anula as condenações do ex-presidente operadas no âmbito da força-tarefa da Lava Jato de Curitiba, mexeu profundamente com as peças do tabuleiro político.
Com Lula no play, o movimento tende para uma concentração no campo da esquerda, esvaziando candidaturas e projetos também na centro-esquerda – por exemplo: empurra, inapelavelmente, a pretensão de Ciro Gomes para a direita do espectro político. Guilherme Boulos (PSOL) e Flávio Dino (PCdoB) são personagens identificados com a narrativa imagética do “lulismo”, o que dificulta os movimentos de ambos para a construção de projetos de disputa presidencial com viabilidade e apelo de massas – em caso de manutenção do cenário atual.
Entre as forças da velha direita neoliberal força a escolha de uma candidatura com maior apelo midiático, o que favorece a postulação do apresentador da Rede Globo, Luciano Huck. João Doria (PSDB), acossado pelo bolsonarismo e por setores de seu próprio partido, emite sinais de desistência da disputa presidencial.
Nomes como o ex-ministro da Saúde de Bolsonaro, Luiz Henrique Mandetta (Democratas), e do governador gaúcho, Eduardo Leite (PSDB), buscam consolidar um espaço na disputa pela indicação. Na direita, ainda correm por fora a empresária Luiza Trajano e um abalado Sérgio Moro. A velha direita ainda junta os cacos depois de ser atropelada pelo bolsonarismo em 2018.
O impacto da volta de Lula teve um efeito imediato, e que tende a se prolongar, no campo governista: O discurso de Lula na última quarta-feira (10) mostrou para Bolsonaro que a partir de agora ele terá pela frente um oponente de peso, consistente, e com uma narrativa de forte apelo entre as camadas mais pobres da população. Além de uma memória positiva de seu período na condução do governo. Uma comparação que deixa Bolsonaro em franca desvantagem.
Bolsonaro teve mais de dois anos para flanar pelo país em ritmo permanente de campanha. Agora, o palanque do debate público será forçosamente dividido com Lula. Um trecho do discurso do petista atingiu em cheio a narrativa rame-rame e desagregadora de Bolsonaro em pleno auge das mortes pelo coronavírus e da implosão da economia: “Este país não tem governo. Este país não tem ministro da Saúde. Este país não tem ministro da Economia. Este país tem um fanfarrão como presidente, que, por não saber de nada, diz ‘é tudo por conta do Guedes’… Enquanto isso, vocês sabem, o país está empobrecendo. O PIB caiu, a massa salarial caiu, o comércio varejista caiu, a produção de comida das pessoas está ficando insustentável e o presidente não se preocupa com isso”, disse Lula, assinalando o tom a partir de agora.
O eco do discurso do petista obteve uma boa recepção até na base aliada de Bolsonaro, cevada com verbas e espaços em diversos escalões do governo, deputados do “Centrão”, numerosos entre as bancadas dos estados nordestinos, foram tocados por velhas lembranças e já fazem os seus cálculos eleitorais para 2022.
A crise múltipla e combinada – de natureza econômica-sanitária-institucional- é um círculo de ferro que se fecha em torno de Bolsonaro e de Paulo Guedes. Os péssimos indicadores da economia, o auge do ciclo de mortes pela Covid-19, a falta de vacinas, a agenda negativa do discurso de ódio, de ameaças autoritárias, cada vez mais, minam a credibilidade e a confiança na capacidade do governo Bolsonaro de reverter a crise.
A aposta do governo Bolsonaro na agenda ultraliberal de austericídio fiscal é uma política que só favorece os rentistas, especuladores e os segmentos vinculados ao mercado exportador de commodities, excluindo a imensa maioria dos brasileiros. Essa política fracassou na América Latina e fez brotar rebeliões populares, como no Chile, Bolívia, e agora no Paraguai.
Portanto, a polarização entre Bolsonaro e ex-presidente Lula pode influir no comportamento do governo da extrema direita a partir de agora. Lula ainda enfrenta armadilhas judiciais, que estão sendo desmontadas com a revelação dos crimes da Lava Jato, mas Bolsonaro já não corre sozinho na raia.
Lula é uma ameaça real aos planos de continuidade do governo bolsonarista. E Bolsonaro sentiu…
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