Fascismo e Bolsonarismo não são fenômenos passageiros

As eleições que ocorrerão daqui a um ano no Brasil poderão até mesmo desalojar Bolsonaro da presidência da república, mas não deslocar da nossa história a presença do bolsonarismo

(Foto: Alan Santos/PR)


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O encontro entre o presidente brasileiro Jair Bolsonaro e o líder da extrema-direita italiana Matteo Salvini, neste 2 de novembro, no cemitério de Pistoia, onde estão enterrados os corpos dos pracinhas da Força Expedicionária Brasileira mortos na Segunda Guerra Mundial, fez-me recordar um elemento fundamental das reflexões dos comunistas italianos sobre a natureza do fascismo, a saber: o fato deste último não poder ser considerado um fenômeno passageiro, de curta duração.

Alguns dias após a Libertação da Itália da ocupação nazista e do regime fascista, em 25 de abril de 1945, o secretário-geral do Partido Comunista Italiano, Palmiro Togliatti, tratou de tornar pública a existência dos Cadernos e das Cartas escritas por Antonio Gramsci nos doze anos em que esteve preso nos cárceres fascistas, entre 1926 e 1937. Então, Togliatti procurou indicar que “a ideia central da ação política de Gramsci” estaria voltada à “criação de um grande bloco de forças nacionais”.

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Dentro do mesmo contexto, ao invés de defender uma insurreição comunista na Itália, que pudesse vir a repetir o massacre sofrido pelos comunistas gregos quando seguiram tal caminho, Togliatti saiu em defesa da implantação de um regime de “democracia progressiva”, um regime que assumisse a defesa das liberdades populares e a responsabilidade de destruir as bases materiais do fascismo a fim de que este nunca mais pudesse ser restaurado no país.

 A grosso modo, tal linha política seria seguida por aquele que foi o maior partido comunista do mundo ocidental até a sua dissolução em 1991, em razão do fato de a maioria dos seus militantes e dirigentes terem ciência de que o fascismo não apenas tinha bases materiais, mas também estava entranhado na cultura política italiana.

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 Pois bem, cada vez mais me dou conta de que o bolsonarismo, enquanto modalidade brasileira do fascismo, possui sólidas bases materiais (o nosso passado escravista colonial reatualizado permanentemente pelos processos de modernização conservadora e sua estrutura autocrático-burguesa) e uma cultura política autoritária voltada à preservação das hierarquias sociais e raciais a qualquer preço.

Isso implica a defesa da ideia de que, tal qual o fascismo italiano, o bolsonarismo brasileiro não pode ser analisado como um acontecimento efêmero, um fenômeno passageiro, inscrito simplesmente na curta duração histórica.

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 Ou seja, como já foi dito, o “bolsonarismo antecede o próprio Bolsonaro”, pois que devidamente enraizado nas nossas estruturas sociais e na mentalidade coletiva de parcela não insignificante da população brasileira, nas suas diversas frações de classe.

 Se tal hipótese estiver correta, as eleições que ocorrerão daqui a um ano no Brasil poderão até mesmo desalojar Bolsonaro da presidência da república, mas não deslocar da nossa história a presença do bolsonarismo.

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Uma frente de esquerda poderá cumprir a primeira (e importantíssima) tarefa, mas não será capaz de dar o segundo (e fundamental) passo.

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