Fascismo de Bolsonaro sai do armário, assusta e pode ir ao 2º turno
Bolsonaro foi ao Roda Viva e tirou seu fascismo do armário; assustou os que não tinha visto suas performances em debates. Foi tudo o que se esperava, mas surpreendeu por sua competência discursiva; com Alckmin empacado e vestindo a carapuça de candidato do golpe, o capitão reformado é mais favorito que nunca para estar no segundo turno contra Lula ou o candidato indicado pelo ex-presidente; se o cenário confirmar-se, a direita estará fora do segundo turno -será a vez da extrema-direita de tintas fascistas
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Jair Bolsonaro foi ao Roda Viva na noite desta segunda (30) e tirou seu fascismo do armário. Assustou os que não tinha visto ainda suas performances em debates. Foi tudo o que se esperava, mas surpreendeu por sua competência discursiva. Com Geraldo Alckmin empacado e vestindo a carapuça de candidato do golpe (aqui), o capitão reformado é mais favorito que nunca para estar no segundo turno contra Lula ou o candidato indicado pelo ex-presidente. Se o cenário confirmar-se, a direita estará fora do segundo turno -será a vez da extrema-direita de tintas fascistas.
A coleção de frases de Bolsonaro é aterradora. Para ele, "não houve golpe militar em 1964", justificou a prática de tortura durante o regime militar, "vivíamos na guerra fria", disse que Vladimir Herzog teria se suicidado. Mais ainda, causou estupor ao anunciar que seu livro de cabeceira é "A Verdade Sufocada", de Carlos Alberto Brilhante Ustra, que comandou o mais terrível centro de torturas da ditadura, o DOI-Codi de São Paulo. A desfaçatez de Bolsonaro não parou por aí. Chegou a defender, abertamente, o fuzilamento de Fernando Henrique Cardoso.
Acusou os negros pela escravidão no Brasil: "Os portugueses nem pisavam na África, eram os próprios negros que entregavam os seus negros". E reagiu a uma pergunta sobre a dívida do país com os descendentes dos escravos: "Que dívida é essa, meu Deus do céu?". Mais ainda: "“Eu nunca escravizei ninguém! Que dívida?”.
Disse que a intervenção militar no Rio é um fracasso porque os militares não teriam carta branca para agir, "não deu certo porque não tem retaguarda jurídica. Por que no Haiti deu? E por que só um lado pode atirar?".
A bancada do Roda Viva, que rugiu como um leão com Manuela D'Ávila, do PC do B, miou como um gatinho diante do fascista. Os jornalistas estavam entre constrangidos e acuados. Ficaram todos emudecidos quando Bolsonaro reproduziu de cabeça um trecho de editorial de O Globo assinado por Roberto Marinho, que chamou o golpe militar de revolução democrática. Bolsonaro também lembrou que a TV Globo nasceu em 1965 logo depois do Golpe e a revista Veja em 1968. Todos ficaram quietinhos.
Afinal, a imprensa conservadora, ao lado do PSDB, é quem tirou o gênio da lâmpada -e agora tenta, em desespero, colocá-lo de volta.
Será difícil. O Brasil segue a mesma polarização que perdura desde os anos 1990, entre a esquerda e a direita. Enquanto um dos polos permanece ocupado pelo PT, no o PSDB foi colocado para escanteio. Ao dar o golpe na frágil democracia brasileira, os tucanos foram para o ralo. Alckmin rasteja ao redor dos 5% nas pesquisas eleitorais. O espaço tradicional da direita (PSDB) foi sugado pela extrema-direita (Bolsonaro).
Alckmin, Centrão e Temer, um dos principais patrocinadores da candidatura do ex-governador, confiam que seu latifúndio no horário eleitoral gratuito poderá desbancar Bolsonaro. No entanto, quanto mais Alckmin veste o figurino de candidato do golpe, mais murcham suas chances.
O que aconteceu ontem do ponto de vista da audiência é uma antevisão do inferno para a direita. O programa terminou sua transmissão no canal da emissora no YouTube no pico da audiência com 228 mil pessoas acompanhando a entrevista. Um recorde absoluto na história do Roda Viva. No Facebook, enquanto o programa era transmitido ao vivo, o número de visualizações chegou a 1,5 milhão. Na madrugada, já chegava a 1,8 milhão. O vídeo com a entrevista de Ciro Gomes, do PDT, o segundo candidato com maior audiência até então, tinha até ontem 1 milhão de visualizações, contabilizados desde que o programa com o pedetista foi ao ar, em 28 de maio. No Ibope, Ciro também tinha sido, até então, uma das maiores audiências com 1,1 ponto, o que corresponde a cerca de 220 mil pessoas. Pelas prévias do Teleguia, a entrevista de Bolsonaro terá cerca de 2 pontos.
O professor Camilo de Oliveira Aggio, da Universidade Federal da Bahia, apresentou um resumo precioso do que aconteceu na noite desta segunda: "Ao contrário do que imaginavam (ou torciam) muitos, sua falta de inteligência e desinformação não são impeditivos para que ele se saia mal em debates e entrevistas. O cara consegue substituir toda sua escassez cognitiva com táticas de enfrentamento, estímulo à cacofonia e, com toda sua verborragia, ele consegue congelar os entrevistadores, que ficam estupefactos e recuam enquanto ele continua sempre dando a última palavra" -leia aqui o comentário completo no perfil do professor no Facebook.
Quem se que se apresentou no Roda Viva foi Jair Bolsonaro. Mas a performance lembrou imediatamente a de outro que foi militar, o sargento de bigode ridículo que pensava e falava coisas muito parecidas com as que agora diz o capitão reformado do Exército Brasileiro.
Mais que nunca, o futuro da democracia brasileira repousa sobre os ombros de Lula.
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