Farsa trágica
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As atuais cenas da vida política brasileira, verdadeira comédia de erros, lembra o filme de Jacques Tourneur intitulado Farsa trágica. De 1956, com Vincent Price, Boris Karloff, Peter Lorre e outros, o enredo girava em torno de uma funerária quase sem clientes, o que obrigava o proprietário, de vez em quando, a matar alguém para providenciar um funeral. No original, chamava-se Comedy of terrors, algo mais ou menos semelhante ao que transcorre entre nós, frente aos esforços desesperados de Jair Bolsonaro de escapar de uma derrota nas eleições. Pois o que foi aquele encontro com os embaixadores no Palácio da Alvorada? Ali se entornou o caldo de um desprestígio crescente como um menino mimado à beira de se deixar abandonar pelos queridos.
Se a iniciativa pretendia revelar alguma inteligência, verificou-se o contrário. Procuradores federais, organizações de magistrados e até militares, segundo vazou, para não mencionar o governo dos Estados Unidos, manifestaram uma indignação que tinha tudo para levar o nosso mandatário a um impeachment, não estivesse a presidir a Câmara dos Deputados uma figura mais sinistra do que os personagens do filme de Tourneur. O Sr. Arthur Lira não se mexe nem para coçar os cabelos, embora, aparentemente, se mostre confortável no uso das “verbas secretas”, utilizadas de acordo com os seus interesses. No Senado, não é assim. O Presidente da casa, Rodrigo Pacheco, ainda que sem excessos, externa, de vez em quando, mais do que espanto: uma crença em defesa da democracia como nosso sistema de governo.
Na verdade, embora entornando o caldo apenas agora, a farsa trágica de Bolsonaro se manifesta desde o início. Pena que, neste caso, não estejamos diante de uma “comédia de terrores”, como na obra de Tourneur, por que, vez por outra, morre gente, como aconteceu com Marielle Franco, com o jornalista inglês Dom Phillips e com o indigenista Bruno Pereira, gente que gostava do Brasil e se esforçava para transformá-lo. Em nossa comédia de terrores – ou de erros – o elogio às armas faz vítimas, enquanto um aparelho de Estado manietado e preparado para não agir mal descobre os autores dos crimes para pô-los na cadeia. Alguma dúvida? Vejamos o que aconteceu na Espanha com o Presidente da Funai, expulso aos gritos do plenário internacional sobre a causa indígena. Do ponto de vista do verbo, nas expressões políticas, dir-se-ia que Bolsonaro devia se submeter a um curso de retórica, uma vez que, com frequência, abre a boca e diz asneiras.
Posta a situação em semelhantes termos, imaginamos que não temos jeito, que as nossas dificuldades se eternizarão sem que encontremos soluções para elas. Não é assim. Na verdade, nunca estivemos tão mal, o que significa que pioramos em relação ao passado. Ora, se então é, podemos melhorar, desde que, nas eleições, saibamos escolher as pessoas certas para nos governar. Há gente que já se provou competente, com números e fatos para apresentar aos distraídos. É questão de investir neles e votar certo. Governos dignos desse nome no mundo inteiro recebem e homenageiam Lula. Cabe reconhecer que, com ele, temos um estadista. O arremedo de presidente que recaia em sua insignificância. As chances que teria parecem esgotadas.
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