Fantasia: "Te enganei!"

Estatística não funciona, vacina, evolucionismo. Então o que vale?

(Foto: Gravura: Rodrigo Trompaz)


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"Te enganei! Vocês todos ficaram por gerações e gerações acreditando que eu, Deus, operava milagres em favor do povo brasileiro, que vocês eram seres especiais, um povo cordial escolhido, a ser depurado com sofrimento resignado e em louvor, as pessoas diferenciadas e alegres de Bem".

Pois Deus enganou aos que nele sempre acreditaram, agora bem sabemos, ano 2022 do calendário gregoriano. Não, não há povo cordial aqui, metade da Nação é neofascista, portanto sádica, desumana, egoísta, odiosa. Não parece exagero inflado, muitos neofascistas não sabem que o são.

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Ao rádio, disse a monja tibetana: "Relaxe o corpo e a mente, alinhe a sua coluna vertebral, fique ereta, de forma a se sentir equilibrada e confortável. Perceba que a posição de seu abdômen, tronco, membros e cabeça, este alinhamento objetivo, retilíneo, é a mesma arquitetura que ocorre com a conjunção entre os planetas x e y e a galáxia mais próxima da nossa". Algo assim. Ouviu-se isto em programa de rádio, daqueles legais pra ficar em casa a passar o tempo de uma tarde fria e chuvosa, fazendo coisas outras.

Monja legal, gente boníssima, calva, desapegada. Mas aí, o sujeito ateu numa roda de debates hipotética, levantou uma discussão com um amigo agnóstico: "Caramba! É muito trabalho pra Deus, imagine só. Isto tudo parece cômico, se não fosse trágico. Não existe Deus, mas os humanos cultuam ele mesmo assim, pra se sentirem bem, menos deprimidos, inventam toda uma estória de ficção digna de prêmio cinematográfico internacional, uma prazerosa ficção pessoal".

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O enredo do filme premiado Matrix não foi o primeiro a tocar no assunto, filósofos já aventavam a possibilidade de uma ilusão fantasiosa, um ardil de nosso cérebro humano colossal operando a ponto de beirar o infinito.

Em paralelo, físicos-quânticos teorizaram em equação matemática algo que, segundo eles próprios, se não deixar o estudioso absolutamente confuso e descrente "É porque então não entendeu de fato a Física-Quântica". Chega a parecer, e parece mesmo, conversa entre lunáticos, o popular "Papo de doido".

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O ateu e o agnóstico prosseguem: "Inventam uma religião, e nesta religião descobrem que, por acaso, a posição de meditação e relaxamento mental e corporal, posição física com a perna pra lá e o braço pra cá, esta postura do corpo em ginástica, forma um ângulo obtuso que é exatamente o mesmo verificado em determinado raro alinhamento estelar na Galáxia de Andrômeda".

"Pronto, está comprovado o sopro divino, ou uma sublime superioridade qualquer, pois é uma coincidência tão improvável que somente um deus onipotente pode estar por detrás da façanha, somente um construtor sapientíssimo de todo o universo e além do universo, dimensões e coisas e tal. Ademais, a tal posição de yôga é extremamente benfazeja e reconstrutora de corpo e mente, então precisa ser algo de origem divina".

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É provável que nós seres humanos criemos e fantasiemos sagas espetaculares explicativas do universo e de Deus, copiosamente, infinitas páginas de ficção, e que isto façamos simplesmente para o bel-prazer íntimo, para que não nos sintamos tão infelizes e incompreendidos.

Imagine-se o contrário da fala da monja. A posição do corpo citada, os ângulos e alinhamentos de tronco, membros, pernas, posições que coincidem exatamente com rara ocorrência da galáxia tal, imagine que tudo isto seja pura e factível coincidência e probabilidade matemática.

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Quase infinitos são os exemplos de coincidências simplesmente porque há margem para coincidências. Mais simples do que parece. Você está na rua e, caminhando, vem à sua cabeça uma música evangélica x, música esta pouquíssimo conhecida, que só você julga apreciar. Depois de dez segundos alguém vindo em sentido contrário na rua cruza com você, este alguém passa cantando e assobiando a exata música evangélica x pensada por você, melodia e letra.

Ocorre. Não significa que foi um chamado de Deus, um presságio espiritual, epifania, mas que simplesmente seria possível ouvir de fato a música tal cantarolada por outrem, a mesma música que você antes pensou, e a mesma exata música que o assobiador e cantador desconhecido na rua decidiu vocalizar.

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O assobiador que cruzou caminhos na rua também conhecia a melodia da música porque é praticamente impossível uma única pessoa no planeta Terra conhecer uma música tal, pois as músicas em geral são divulgadas minimamente para algum público ouvinte de mais de uma pessoa.

Pode ainda haver uma mesma melodia e até mesma letra dentre as músicas até hoje criadas pela Humanidade, tal qual um cidadão portador de cédula de identidade com mesmo nome, data de nascimento, nome de pai e mãe. Não é impossível.

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"Então o alinhamento da yôga tibetana é uma saga criada por nós para louvar um deus? Assim sendo, a teoria matemática dos movimentos planetários não seria também uma saga? / Não, há diferenças / Quais? / Ciência é observação dos fenômenos naturais, o universo, o corpo humano, há explicações conhecidas e outras a se conhecer, dizem o cérebro humano mais complexo e misterioso do que frações gigantescas do universo / Então quem criou a ciência? Só pode ter sido um arquiteto supremo / Não, aí a chave para entendimento. Ciência é observação, estudo do cosmo, do corpo humano, tanta coisa a se observar, e então a matemática se encaixa. Quem criou a matemática, Deus? Não, ciência não é Deus, pois a ciência mostra e justifica que é possível, por exemplo, e isto suspeita-se por algumas teorias já comprovadas, que é possível a criação de matéria a partir do nada, frações de átomos errantes que surgem do nada, o intrincado e exaustivo campo da Matemática pura, Física Quântica, então o Big Bang seria explicável, não uma obra de Deus. Ciência não é Deus".

Ciência: parece um milagre, mas não, milagres são crias de Deus. Será infalível a ciência? Sim, ao que parece até os dias de hoje, dentro uma da margem de probabilidades, tal qual o Número Pi, as infinitas dízimas periódicas, um 99 vírgula seguido de infinitos noves de probabilidade. Saliente-se: infinitos, noves impossíveis de se contar.

Os sonhos nossos, a semi-inconsciência, teoriza-se, são outras de nossas sagas para higienizar o cérebro e mantê-lo otimista. Algo assim. Supõe-se que sejam divagações, abstrações de nossa mente para que o cérebro não se incomode com questões ambientes outras e se concentre no mais importante do momento: relaxar corpo e mente, descansar até atingir um nível profundo de sono, e com isto reorganizar e higienizar os neurônios, coisas e tal.

Pode parecer tudo muito complexo. E é. Ou não.

Na prática, defende-se aqui que é mais do que preciso, necessário, crer a ciência. Crer sim, no sentido de ter fé, alguma fé ao menos, a mesma fé dos crentes, só que a fé dos sem religião, que sim, é uma fé no maior sentido da palavra, uma acreditação.

Evolucionismo: ciência pura. Exercício mental colossal, imaginarmos nós vindos de uma ameba, parece risível, mas está tudo lá, bem explicado, tintim por tintim. Para quem tiver olhos de ver, ao menos. Abrir um livro já de má vontade não é recomendável, sua leitura não fará efeito construtivo algum.

Criamos nós a teoria da evolução das espécies como uma saga diversionista para podermos dormir tranquilos após formular uma justificativa de o porquê viemos dos macacos? Não, novamente, ciência é observação da natureza, que está aí a nossa frente queiramos ou não. Um macaco veio de um anfíbio que veio de uma ameba. Estudar embriologia é uma grata revelação.

"Te enganei, babaca!" Deus assim nos disse em intuição pueril. Eu, você, milhões mundo afora sempre achávamos que a Nação brasileira fosse diferenciada, um povo gentil, cordial, no verdadeiro sentido de ser um gentil, de ser um cordeiro de algo superior, ambos qualificativos em claro sentido religioso.

Achávamos. Tristeza ao constatar que não, que não somos assim, que acá grassa o egoísmo e o sadismo, queiramos ou não, saibam ou admitam isto os neofascistas e os fundamentalistas-religiosos de plantão. Um hipnotizado em geral não se admite ou se reconhece como tal.

Polêmica. E polêmicas despertam paixões. E toda e qualquer paixão é feita de extremos opostos absolutos, muito amor e muito ódio.

Quererão matar ou adorar o autor deste texto. Ou não, coisa nenhuma, prepotência, arrogância, se achar importante, sequer significativo ou citável.

Afinal, tudo isto que você acabou de ler bem pode ter sido uma saga diversionista de seu cérebro em um universo paralelo de Física-Quântica.

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