Faltando 3 meses para o primeiro turno, Brasil está na encruzilhada
O jornalista Mauro Lopes, editor do 247, escreve sobre a encruzilhada à frente do país, encerrada a Copa e a menos de três meses do primeiro turno das eleições presidenciais. Lula mais líder que nunca, direita atarantada; esquerda e centro-esquerda sinalizando que marcharão com Lula ou o candidato que ele indicar, apesar dos esforços de Ciro; extrema direita consolidada em segundo lugar; enquanto isso, o país afunda na crise de sua economia
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247 - Encerrada a Copa, a pouco menos de três meses para o primeiro turno das eleições (faltam 83 dias), o Brasil respira sua crise e está diante da encruzilhada. Lula, preso, lidera as pesquisas de intenção de voto com mais de 30%; a direita está atarantada, com seus candidatos muito mal nas pesquisas e a primeira desistência, a de Flávio Rocha; apesar dos esforços de Ciro, a esquerda e a centro-esquerda dão sinais de que marcharão com Lula ou o nome que ele indicar se o plano do golpe de vetar sua participação no pleito tiver sucesso; a extrema-direita, com Bolsonaro, está consolidada em segundo lugar. Enquanto isso, o país afunda numa crise econômica sem precedentes enquanto vê seu patrimônio vendido a preço de banana, os trabalhadores com seus direitos liquidados e os pobres desassistidos.
O tempo é curto, há um impasse gravíssimo na sociedade e as forças que deram o golpe escorregam para a mais grosseira ilegalidade, no Executivo e no Judiciário. O cálculo que fundamentou toda a estratégia da direita fracassou: imaginava-se que, preso e censurado, Lula cairia rapidamente no esquecimento popular. Ao contrário disso, quanto mais o tempo passa, mais ele se torna o ponto de equilíbrio do país, mais cresce nas pesquisas e angaria expressivos apoios de líderes internacionais.
Um exemplo acabado do fiasco da estratégia da direita por ser medido por um artigo de um dos intelectuais e executores da estratégia da direita na imprensa conservadora, Otavio Frias Filho. Logo depois da condenação de Lula pelo TRF-4, fez publicar em sua Folha de S.Paulo um artigo de sua lavra que anunciava no título, em tom vitorioso: "Lula no ostracismo" (aqui). No texto, Frias deu vazão a todo o raciocínio e cálculo da direita com a perseguição e prisão do ex-presidente. Anunciava "o crepúsculo do líder" e garantia que Lula estava "fora de cena". Publicado em 28 de janeiro, o artigo integra o panteão do anedotário nacional.
Frias assegurava que a esquerda estava "isolada" e que em "negação da realidade". Escreveu: "Mas a esquerda parece isolada; seus intelectuais e militantes se obrigaram a acreditar em fantasmas (o "golpe" de 16, a conspiração do Judiciário, Lula como prisioneiro político de uma democracia de fachada etc.) que os levam à negação da realidade". Com Lula consolidado em primeiro lugar, o PT como o maior partido do país e o mais respeitado nas pesquisas, com o apoio de alguns dos maiores líderes democráticos do planeta ao ex-presidente, a afirmação de Frias é, de fato, anedótica.
Não contente com isso, o dono da Folha e do UOL ainda arriscou-se a uma previsão para a economia nacional: "A melhora que estará em curso na economia deve disseminar um fator de bem-estar relativo na população." Pode parecer inacreditável à luz da ruína da economia brasileira, mas o texto é um exemplo acabado de como as mídias buscaram enganar a opinião pública nos últimos meses.
Nesta segunda (16), em editorial sob o título "Corda esticada" (aqui), a Folha expressou seu desalento: "Lula alcançou 30% das preferências na última pesquisa do Datafolha. Se a Justiça barrá-lo, sua força eleitoral parece suficiente para tornar competitivo quem o PT indicar para o seu lugar". Em janeiro, os Frias garantiam que Lula caminhava para o ostracismo e era quase uma carta fora do baralho na política nacional. Otavio Frias congratulava-se: "Com Lula fora de cena, mas atuante no pano de fundo, talvez seja menos crispado um processo eleitoral que se previa belicoso". Deu tudo errado para os Frias, os Marinho e a elite brasileira.
A três meses das eleições, a centralidade de Lula é cada vez maior. Com a greve de fome de militantes do PT em Brasília, programada para os próximos dias (aqui), o ambiente deve ficar ainda mais crispado. A encruzilhada está à frente.
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