Falta o Zé

O governo tem errado muito na comunicação e nos movimentos táticos e estratégicos, tem acertado no varejo, mas errado no atacado

José Dirceu
José Dirceu (Foto: Lula Marques)


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Pedro Benedito Maciel Neto

Um dos erros, a meu juízo, foi o ataque à autonomia do Banco Central, quando o problema não é a autonomia propriamente, mas a taxa básica de juros, que é pornográfica; isso mesmo, o BC impõe à sociedade juros imorais, tanto é verdade que o economista Joseph Stiglitz - Nobel de Economia - afirmou recentemente que a política de juros do Brasil é contraproducente e equivale a uma “sentença de morte à economia brasileira”. Uma bobagem foi a mudança na Lei das Estatais, que encontra resistência no próprio governo. Meu Deus do céu! A quem interessa essa mudança e qual a urgência dela? ´

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Dizer que a mudança na Lei das Estatais “não é um problema”, pois o combate à corrupção se faz com órgãos de controle fortes e que tenham capacidade de investigar ações dos gestores é muita cara-de-pau.

A lei proibia a indicação para o Conselho de Administração de pessoa que atuou, nos últimos 36 meses, como participante de estrutura decisória de partido político ou em trabalho vinculado a organização, estruturação e realização de campanha eleitoral., agora bastam 30 para o desligamento das funções partidárias ou de campanha eleitoral, uma imoralidade. 

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E não faço essa crítica porque sou contra influência política sobre as estatais; muito pelo contrário, acredito que a solução de tudo e para tudo está com o povo e na Política, mas reitero a pergunta: a quem interessou a mudança? Respondo, apenas ao Mercadante e ao Prates.

Outro tropeço, talvez o mais patético, seja o fato de alguns partidos da base do governo terem buscado o STF para livrar empresas, que confessaram corrupção, do pagamento das multas ao Estado.

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Será que essa gente não percebeu há uma contradição constrangedora? Ora, não cabe a partidos políticos tutelar junto aos STF os interesses de grandes empresas, elas têm departamentos jurídicos competentes e capazes de patrocinar o interesse de seus clientes. 

Aos partidos cabe realizar o debate com a sociedade e aos seus deputados e senadores realizá-lo no congresso. Senhores, por que judicializar um assunto que sequer foi debatido com a sociedade? 

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A nossa prática deveria ser o debate, quem não debate é a direita e os autocratas, a esquerda e os setores democráticos de direita não tem medo.

Mais uma surpresa ruim: a Casa Civil e o ministério de Relações Institucionais, Rui Costa e Padilha, parecem falar dialetos diferentes, eles não se entendem... Tanto é verdade que Rui rejeitou a ideia de Padilha em transformar as MPs para driblar impasse entre Lira e Pacheco, e o pior: como isso vem a público?

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E, para coroar o febeapá instalado no entorno de Lula, o PT e sua presidente Gleisi - com seus pronunciamentos juvenis -, ainda não entenderam que não estamos em 2003, que os tempos e movimentos são distintos, ademais, não foi o PT que venceu as eleições, quem venceu Bolsonaro foram Lula e uma frente de partidos, desde a direita democrática, até a esquerda, passando pelo centro-direita e centro-esquerda. 

Alguns companheiros podem estar perguntando por que os tempos e movimentos são diferentes? Porque o arranjo político estabelecido ao final da Ditadura, não existe mais, sua deterioração acelerou-se com a crise política ocorrida no segundo mandato de Dilma Rousseff e sua deposição pelo Congresso Federal (um golpe de Estado, disfarçado de impeachment).

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Se o arranjo político de 1985 não existe mais, é necessária atenção e respeito à nova realidade, bem como buscar compreender os efeitos decorrentes do término do referido período.

Nos anos que antecederam o golpe de 2016 vários sinais foram dados pela sociedade brasileira de que o sistema político vigente não era mais capaz de dar respostas aos anseios políticos e ideológicos do Brasil do século XXI, qualquer que seja a orientação política de um determinado grupo, instituição ou indivíduo. 

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O mal-estar na sociedade brasileira revelou-se tão generalizado quanto a desorientação de forças políticas e de grande parte da população, noutras palavras: acabou a Nova República – período histórico iniciado com o fim da Ditadura a partir da eleição indireta de Tancredo Neves em 1985, que pôs fim aos governos ditatoriais capitaneados pelos militares; até o golpe de Estado de 2016, que configura a quebra definitiva do arranjo político então vigente. 

Por isso tudo, Lula, seus escolhidos e os indicados pelos partidos que fizeram parte da frente que venceu Bolsonaro não tem o direito de errar. 

Miriam Leitão, tão criticada por quase todos nós, escreveu: “Há muito em risco nesse momento em que a extrema direita ficou tão forte e tão extrema. Inimigos da democracia estão muito mais armados e podem voltar a se fortalecer”, concordo com ela, pois Bolsonaro venceu uma eleição, mas o bolsonarismo segue forte e “dando de goleada” nas redes, postando diariamente mentiras que mantém cheio o cocho do gado e cada um deles assanhado, ou seja, o bolsonarismo vive e se fortalece.

Mas o que falta? 

Sinto que falta o Zé, sim senhor, falta José Dirceu de Oliveira e Silva, que infelizmente ele não poderá compor o governo; esse fato tem obrigado Lula, o craque do time - mas vinte anos mais velho - correr muito para: armar o jogo, desarmar o adversário, manter-se na defesa e no ataque ao mesmo tempo, orientar o time e presidir o clube.

Se não temos o Zé em campo o governo deveria ouvi-lo como conselheiro pelo menos.

Essas são as reflexões.

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