Falta alguém no banco dos réus: a cúpula das Forças Armadas
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O deputado Rogerio Correia (PT-MG) reagiu ao depoimento do coronel Jean Lawand Jr na CPMI dos atos golpistas de 8 de janeiro chamando o militar de mentiroso.
Como se sabe, o coronel enviou mensagens ao ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, suplicando que ele extraísse do ex-presidente uma ordem de golpe de Estado em dezembro passado, nas vésperas da posse de Lula.
Outro deputado, Aliel Machado (PV-PR), reservou para Lawand, ex-subchefe do Alto Comando do Estado-Maior do Exército, o qualificativo de "covarde".
Lawand já foi subchefe do Estado Maior do Exército e, de acordo com as investigações da Polícia Federal, implorou a Mauro Cid convencer Jair Bolsonaro a não permitir, por meio de um golpe, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tomasse posse em 1º de janeiro deste ano.
Lawand escreveu assim a seu colega: "Cid, pelo amor de Deus, o homem tem que dar a ordem! Se a cúpula do Exército não está com ele, de divisão pra baixo está. Assessore e dê-lhe coragem. Pelo amor de Deus."
Na sessão da CPMI desta terça-feira, Lawand saiu-se com a versão de que essas mensagens tencionavam na verdade "apaziguar", obter uma palavra de aceitação de Bolsonaro do resultado das urnas.
Ninguém acredita, e o mais patético é que um militar na iminência de tornar-se general depois de evidentemente rogar pela virada de mesa pela força das armas apele agora para versão tão descabelada e acovardada.
Cada um escolhe o seu ridículo.
De fato, na hora h, como a mensagem sugere, nem Bolsonaro nem o Alto Comando das Forças Armadas deu a ordem de golpe.
Que não tenham dado a ordem não os exime de culpa, porém.
Bolsonaro deve ir para o banco dos réus por promover o golpe, mas isso é pouco.
O Alto Comando militar tolerou, incentivou e agiu em favor da fermentação golpista.
Os quartéis em todo o país hospedaram acampamentos golpistas ao longo de várias semanas.
O comando do Exército em Brasília impediu em diversas ocasiões, inclusive na noite depois das depredações na Praça dos Três Poderes, que a Polícia Militar do Distrito Federal dissolvesse a turba endemoniada.
Quando se fala Alto Comando do Exército a referência é a este órgão que está no poder, intacto.
Essencialmente é o mesmo que manteve o tenebroso incentivo à agitação golpista. Os generais, com poucas exceções, são os mesmos. O atual chefe da Força, general Tomás Paiva, chefiava o 2⁰ Exército, onde igualmente, com sua simpatia, a agitação crepitava.
Insuflaram nacionalmente em unidade coesa e disciplinada, partindo de cima para baixo, do comando maior para os destacamentos médios e inferiores. Parentes de generais confraternizaram com a subversão.
Agora, o Alto Comando deve uma satisfação ao país por ter incentivado a baderna. Vai se ocultar na covardia de não assumir suas responsabilidades? Que não tenha apoiado o golpe pode ser até evidência de um oportunismo e conveniência diante da correlação de forças, mas não de convicção democrática, respeito às urnas e a lei.
Houvesse condições e apoio político, dariam a ordem que Lawand e outros tanto ansiavam. O alto comando segue incólume fingindo inocente, sem coragem de admitir que fez o que fez. A cúpula das Forças Armadas precisa ser responsabilizada.
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