Falsas tendências
Sem considerar o resultado do julgamento do HC de Lula, uma vez que muita coisa ainda acontecerá, fato é que a repercussão tem sido tamanha em função da dimensão política do ex-presidente
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A estatística nos ensina o cuidado para traçar correlações entre fatos não necessariamente associados. Por outro lado, há relações explícitas entre causas e consequências que são ignoradas. Com esses pressupostos, vou tecendo minhas considerações, aqui e nos blogs http://adilson.goncalves.zip.net e http://olorenense.com.br/author/adilson/.
É ilusão, inocência ou má-fé acreditar que tucanos serão exemplarmente processados e condenados por suas longevas ações de corrupção, como já se demonstra pela desmobilização do STJ em relação a Alckmin. Isso porque há uma ibamização jurídica desses políticos ranfastídeos. Assim, muitos articulistas insistem na narrativa de que as investigações contra o PT e o acordão nacional não estão correlacionados, orquestração esta sabida até pelos órgãos de imprensa internacionais. Mas é importante a manutenção da anestesia política e vamos acreditando em ver tucano enjaulado um dia.
Um exemplo da forma desequilibrada de abordar o tema: a matéria “Mais de 80 deputados mudam de sigla na janela da infidelidade”, publicada pela Folha de S. Paulo no caderno Poder, em 9/4, p. A14, foi tendenciosa ao afirmar que “o saldo para as grandes legendas foi negativo”, incluindo nessa análise o PT. Isso porque a queda do número de deputados do PT não aconteceu nesta janela correspondente ao título. Na verdade, o PT manteve o número que tinha antes do troca-troca, como se vê no gráfico publicado na mesma página, passando a ser a maior bancada na Câmara dos Deputados. Escrevi carta à redação com essa observação que não foi publicada, nem saiu qualquer “Erramos”. Também a ombudsman foi informada, sem manifestação até o momento.
Porém, aos poucos, até os representantes da direita, como Reinaldo Azevedo, vão tomando pé das arbitrariedades cometidas no processo que resultou na decretação da prisão de Lula. Aos poucos, mas muito lentamente, em velocidade que não será permitido evitar o pior: a fascistização da política. Talvez daqui a algumas décadas estarão lendo notícias sobre o período atual com o mesmo espanto que lemos como se deu o golpe de 1964 ou a ascensão de Hitler ao poder, perguntando-se como é que aquele pessoal não via o que acontecia?
Sem considerar o resultado do julgamento do HC de Lula, uma vez que muita coisa ainda acontecerá, fato é que a repercussão tem sido tamanha em função da dimensão política do ex-presidente. Malas de dinheiro têm atravessado impunemente ruas e apartamentos, mas que não sensibilizam, na mesma dimensão, as gentes de bens. Quando o apelo é midiático, procurador faz greve de fome após powerpoints fictícios, militares bradam palavras de ordem e um supremo julgamento vira torcida futebolística, é porque beiramos a barbárie. A dúvida é se sairemos amadurecidos ou amargurados do kafkaniano processo em curso.
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