Falando sério sobre a terra de Simón Bolívar



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As imagens de caminhões venezuelanos cruzando a fronteira brasileira, para levar oxigênio e impedir que mais pessoas morram asfixiadas, e o acordo inédito e histórico que o governo do presidente Nicolás Maduro fez com a CUT, CTB e centrais sindicais visando a ampliação do fornecimento desse insumo essencial à vida, levantam pontos importantes de reflexão sobre o país vizinho.

Vale destacar que o exercício genuíno da solidariedade entre os povos latino-americanos prevaleceu sobre os ataques sistemáticos do governo neofascista brasileiro à soberania da Venezuela.

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Até de força-tarefa golpista na fronteira entre os dois países o governo Bolsonaro participou, bem como da “visita” acintosa e provocativa do então secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, a Roraima. Sem falar no apoio decidido do Itamaraty bolsonarista ao farsante Juan Guaidó.

A despeito de tantas agressões, o governo bolivariano não se furtou a estender a mão amiga ao povo brasileiro.

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O episódio pode servir para jogar luz sobre o debate sobre o governo revolucionário da Venezuela. Sim, porque o bombardeio dos meios de comunicação ocidentais, notadamente os da América Latina, de tão intenso, produziu efeito até mesmo em certos setores da esquerda brasileira. Quem não se lembra dos pesados ataques sofridos pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann,  por ter comparecido à posse de Maduro?

É preciso reconhecer que o governo Maduro tem falhas e debilidades, que Maduro não é Chávez e que alguns erros táticos poderiam ser evitados. Contudo, não dá para discutir a Venezuela sem levar em conta o embargo econômico criminoso dos Estados Unidos, que provoca desde desabastecimento de produtos básicos em supermercados até seguidos apagões de energia elétrica e falta d’água.

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Decerto não é fácil entender os rumos da revolução bolivariana em curso na Venezuela sob o prisma da democracia liberal. Mesmo assim, são infundadas muitas das críticas de violação desses valores por parte da Venezuela. Dói ver gente de esquerda cedendo ao argumento da direita continental, segundo o qual o regime venezuelano não passa de mais uma ditadura entre tantas que se instalaram na América do Sul em passado recente e remoto.

Que ditadura é essa em que vigora ampla liberdade de imprensa e de expressão e que promoveu, de 1998 (quando Hugo Chávez foi eleito pela primeira vez)  para cá 12 eleições, sendo cinco presidenciais, seis parlamentares e uma para a Assembleia Nacional Constituinte? Todas com a presença de observadores internacionais, os quais atestaram a lisura dos pleitos.

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O voto na Venezuela não é obrigatório. Mas essa informação costuma ser deixada de lado pelos conglomerados de mídia quando criticam os índices de abstenção das eleições venezuelanas. 

Outro ponto que merece esclarecimento: não é verdade que a oposição tenha boicotado todas as eleições. Ora boicotou, ora participou com todas as suas correntes, ora com parte de suas forças. Tanto que os oposicionistas venceram as eleições para a Assembleia Nacional, o parlamento unicameral do país, em 2015, com 56,61% dos votos, contra 40,92% do chavismo, que começou a sentir naquele ano os efeitos do bloqueio e das sanções internacionais, que sempre miraram as maiores reservas internacionais de petróleo que se encontram na Venezuela.  

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Os acontecimentos subsequentes a essa vitória da oposição servem até hoje como combustível para os que insistem em apontar o caráter ditatorial do governo. Mas vamos aos fatos. Uma vez vencedora, a oposição não hesitou em utilizar um vasto arsenal antidemocrático e inconstitucional para apear do governo o presidente Maduro.

E apelou inclusive para o terrorismo nas ruas, o que ceifou a vida de 127 venezuelanos, enquanto  1.934 ficaram feridos. Em resposta, Maduro, lançando mão de uma prerrogativa prevista na Constituição do país, convocou eleição para a Assembleia Nacional Constituinte, boicotada pela oposição.

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Esses dados devem ser postos sobre a mesa de qualquer debate que se pretenda sério sobre a questão venezuelana. O fato é que, para muito além do apoio das forças armadas, o forte enraizamento popular da revolução bolivariana é o principal pilar de sustentação do regime.

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