Fake news estão ganhando a eleição
"'Haddad tem uma Ferrari', 'Haddad criou o kit gay', 'Haddad é a favor do incesto', 'Haddad vai transformar o Brasil em Venezuela', dentre outras sandices. Mas que, de tão repetidas, à la Goebbels ganharam cores de verdade nas mentes de milhões de pessoas", avalia o colunista Alex Solnik; "Os brasileiros estão votando não no conjunto de propostas e ideias de um candidato e sim em fake news disseminadas contra o oponente. Os eleitores, sob pressão irresistível das fake news, estão escolhendo o caluniador e não a vítima da calúnia", diz Solnik
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Os brasileiros estão elegendo seu futuro presidente da República sob a influência decisiva de fake news, ou seja, sob a forte influência de notícias fraudulentas, expressão cunhada pelo professor doutor de Direito Eleitoral da FGV Diogo Reis para definir fake news. Segundo ele, não são notícias falsas apenas, mas fraudulentas, "pois há em sua produção vontade de enganar".
As fake News são produzidas nos laboratórios da candidatura que macaqueia a campanha de Trump e cujo marqueteiro é Steve Bannon, o mesmo do americano. Fazem parte de um esquema mundial de implantação de governos autoritários de extrema direita, como o próprio Bannon declarou à Bloomberg recentemente, financiado por bilionários como Robert Mercer, que ficou podre de rico na Bolsa.
Os eleitores brasileiros não estão recebendo informações, mas desinformações:
"Haddad tem uma Ferrari", "Haddad criou o kit gay", "Haddad é a favor do incesto", "Haddad vai transformar o Brasil em Venezuela", dentre outras sandices. Mas que, de tão repetidas, à la Goebbels ganharam cores de verdade nas mentes de milhões de pessoas.
Também há fake News que se propõem a enganar o eleitor a respeito de quem é o candidato. Assim, na campanha do segundo turno, Bolsonaro só aparece sorrindo, brinca com a sua filha para apagar suas próprias declarações que a denegriram ("dei uma fraquejada e nasceu uma menina"), valoriza as mulheres que sempre ofendeu e rebaixou, se fotografa ao lado de um negro para enganar que não é racista, compra o apoio de um maquiador exageradamente gay para apagar todo o ódio que sempre revelou a gays ("nenhum pai gostaria de ver o filho brincando de boneca").
Mas por que tanta notícia fraudulenta é aceita como verdade? De tanto ser repetida, meu chapa, diria Joseph Goebbels, o ídolo de Bannon e de Bolsonaro. É a repetição, estúpido!
Os brasileiros estão votando não no conjunto de propostas e ideias de um candidato e sim em fake news disseminadas contra o oponente. Não estão escolhendo aquele que querem que os governe, e que dissemina as fake news; estão sendo intimidados a não votar no caluniado.
Os eleitores, sob pressão irresistível das fake news, estão escolhendo o caluniador e não a vítima da calúnia.
Mentiras sempre decidiram eleições, mas nenhuma eleição brasileira ofereceu tantos meios para disseminar mentiras como essa nem foi conduzida de fora do país pelo mesmo grupo que elegeu Trump em 2016 com a mesma estratégia.
É muito mais difícil espalhar notícias fraudulentas em jornais. Jornais têm editores, informações são checadas antes de virarem notícias, na dúvida o editor manda ouvir outras fontes, enfim, jornais obedecem à ética jornalística, que consiste na busca da verdade, quando se prestam a mentir ou fraudar sofrem processos ou desaparecem, por mais poderosos que sejam. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o inglês News of the world, do magnata Robert Murdoch.
Nenhuma "rede social" da internet tem editor. Cada pessoa escreve o que bem entender. Sem obedecer a ética alguma. Sem se basear em fontes, sem que haja alguma coerência. É um território livre que tem capacidade de bombardear ao mesmo tempo milhões de pessoas com milhões de mensagens por texto, por voz, por vídeo, 24 horas por dia, todos os dias, o celular nunca fecha, e elas são dirigidas à pessoa que vai ler, não a esmo, por isso convencem mais.
E o fato é que, por mais estapafúrdias e inverossímeis que pareçam, milhões de pessoas as consomem e ainda compartilham, multiplicando o poder da disseminação de informações criadas com o propósito de enganar.
A estratégia empregada com sucesso no caso Trump (contra Hillary) e aqui entre nós (contra Haddad e o PT), promete um futuro despolitizado, em que a vitória das urnas não se dará como resultado do embate de ideias e propostas e sim da capacidade do candidato de demolir o adversário com calúnias.
Alguém poderá dizer: tal como ocorre aos jornais, as fake News também estão sujeitas a processos nas redes sociais. Claro que estão. Só que nos jornais elas são muito mais visíveis e detectáveis. Nas redes, são milhares e milhares de fake News transitando na superfície e nos porões da internet. Impossível identificar e censurar a todos. E mais: quando são identificadas e retiradas já foram vistas por milhares de pessoas, já produziram o efeito que buscavam.
Mesmo quando há uma enorme vontade e estrutura para combater fake News, é uma batalha inglória; nessa eleição não houve nem uma, nem outra.
E o resultado está aí. Já foram eleitos vários caluniadores, difamadores e plagiadores que empregavam os mesmos métodos para a Câmara e o Senado e o rei das fake News está com uma das mãos na taça.
As fake news estão ganhando a eleição.
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