Explicações para a nossa passividade
"Vale fazer uma reflexão sobre o que acontece também na conjuntura dos países da América do Sul que apresentam revoltas populares contra esse mesmo modelo aplicado no Brasil"
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.
No contexto da crise social brasileira em que temos um governo que aplica um programa neoliberal que retira direitos sociais dos trabalhadores e promove políticas fiscais dóceis para o empresariado, vale fazer uma reflexão sobre o que acontece também na conjuntura dos países da América do Sul que apresentam revoltas populares contra esse mesmo modelo aplicado no Brasil.
Muitas críticas tem surgido sobre a passividade do povo brasileiro diante da implantação de uma agenda econômica que o deixará mais pobre. Ao contrário das populações de países como Argentina, Equador e agora o Chile que estão nas ruas protestando contra a agenda neoliberal. Para tentar explicar essa situação pontos importantes relacionados a questões pertinentes como comunicação, política, história e cultura precisam ser considerados.
No que tange a comunicação, é público e notório que o Brasil possui um sistema que é dominado por oligarquias que ditam o que será seguido conforme a pauta econômica e política reinante, e isso acontece desde o surgimento de veículos de massa no Brasil como o rádio e televisão, cujas empresas de propriedade de famílias como Chateaubriand e Marinho, entre outras,dirigem o processo que aplica uma forte alienação. Desde a queda do Regime Militar, em 1985, a pauta econômica difundida é a do esvaziamento do Estado e aplicação dos ditames neoliberais. A aplicação de todas as iniciativas como, por exemplo, o Plano Real, reformas Trabalhista e da Previdência nunca gerou debate na mídia, a partir do contraditório. Sob a justificativa de que o país precisa se inserir no contexto global do capitalismo competitivo assistimos uma narrativa que não passa de um monólogo teatral ideológico de submissão.
Esquerda Caviar
A parte política revela o quanto a nossa esquerda se mostra incapaz de pautar qualquer tipo de discussão e organizar qualquer resistência a esse ataque. A chamada institucionalidade inviabiliza qualquer mobilização de sindicatos, movimentos sociais e partidos políticos. É difícil entender a incapacidade desses grupos em dialogar com a camada mais pobre da sociedade sobre o que de fato ocorre com a retirada de direitos sociais.
O fato é que temos somente uma esquerda pequeno-burguesa, que dentro do seu academicismo, não mostra ter qualquer noção da realidade que vive a base da pirâmide social, os mais pobres que sofrem com a violência policial nas favelas, desemprego e abandono do Estado. Essa esquerda, branca e de classe média, no fundo tem a mesma visão de mundo de uma classe média de direita que não aceita a existência de uma luta de classes no Brasil, e que acaba apresentando suas contradições ao sentar-se no legislativo para “negociar” perdas menos dolorosas para esses trabalhadores. Isso ficou bem claro na reforma da Previdência em que parlamentares aceitaram a institucionalidade do falso debate político e chancelaram as reformas que o capital exigiu.
Somado a isso, temos a questão histórica de que o Brasil na sua construção política e social não tem histórico de rupturas institucionais, a não ser quando promovidas pela sua própria elite como nos processos de Independência e República, ou em golpes como o de 1964. Sim, tivemos revoltas populares, mas que logo foram massacradas como Inconfidência Mineira, Guerra dos Malês, Balaiada e Revolta da Chibata, entre outras. Mesmo a Guerra Farroupilha foi um movimento de oligarcas.
O eterno sebastianismo
Esse conjunto de condições nos arraigou uma cultura do medo e digamos da profusão do chamado “sebastianismo”, uma crença surgida a partir da morte do Rei de Portugal, Dom Sebastião, em uma batalha no Norte da África, no século XVI, que pelo fato de não ter o seu corpo encontrado, voltaria à Portugal para salvar o país de seus problemas. E assim, a herança cultural nos tornou refém da esperança de quem alguém resolveria nossos problemas aqui no Brasil. Não muito diferente de nossos tempos atuais com o bolsonarismo e lulismo.
De alguma forma esse processo se repete na América Latina, sendo talvez um legado ibérico, em que surgem salvadores e caudilhos que lideram os povos na sua luta contra a ditadura colonial, mas que nem sempre acabam bem. Mas de alguma forma esses povos expressam de forma real sua contrariedade e revolta quando aviltados, evitando assim a angustia da omissão e da não resistência como acontece no Brasil.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:
Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.
Comentários
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247