Exército só pôs tanque na rua em casos de suposta "ameaça externa"

"Em 2022, não há 'ameaça externa' que justifique intervenção militar. E os políticos já aprenderam que as primeiras vítimas da ditadura são eles", diz Solnik

(Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)


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Getúlio Vargas valeu-se de uma “fake news” para consumar o golpe do Estado Novo, a 10 de novembro de 1937. 

A seu pedido, o então capitão integralista Olímpio Mourão Filho produziu um dossiê apócrifo, atribuído ao Komintern, o órgão do governo da URSS que cuidava da disseminação do comunismo pelo mundo. 

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O “documento”, que ficou conhecido como o “Plano Cohen”, expunha um plano soviético para derrubar Getúlio e implantar o comunismo no Brasil.

“As instruções do Komintern para a ação de seus agentes contra o Brasil” berravam os jornaleiros pelas ruas, cantando as manchetes dos jornais. 

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A paranóia foi tal que os deputados pediram praticamente de joelhos para Getúlio decretar estado de guerra. 

Defenda-nos do inimigo externo que ameaça nos invadir. 

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Sem saber que estavam decretando sua própria extinção. 

O Exército ganhou um pretexto perfeito para apoiar a ruptura institucional. Estava defendendo o país sob ameaça de invasão, o que é seu papel constitucional.

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Falso pretexto, agora sabemos, mas na época não foi contestado.

E serviu de justificativa para a intervenção militar.

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Em 1964, a “ameaça externa” serviu novamente de cortina de fumaça. Políticos irresponsáveis, com a ajuda da imprensa, convenceram a opinião pública de que o presidente João Goulart estaria tramando um golpe como o de Getúlio. Mas de esquerda. No modelo cubano, bem sucedido cinco anos antes.

O embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Lincoln Gordon, em documento oficial comunicou ao presidente John Kennedy que Goulart seria o novo Fidel Castro.

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Governadores de São Paulo, Rio e Minas, além de lideranças do Congresso Nacional, chamaram, aflitos, as Forças Armadas.

Defenda-nos do inimigo externo que ameaça nos invadir.

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Nem Goulart era Fidel, nem havia risco de revolução comunista. Mas o pretexto estava criado.

 Diante da “ameaça externa”, os militares entraram em cena, derrubaram o presidente sem disparar um tiro e, ao contrário do que os políticos imaginavam, tomaram o poder por 21 anos, em vez de devolvê-lo aos civis assim que a “ameaça externa” foi afastada.  

A União Soviética acabou há 33 anos. Os países comunistas que sobreviveram à debacle não fazem proselitismo nem incentivam revoluções em outros países.

Em 2022, não há “ameaça externa” que justifique intervenção militar.

E os políticos já aprenderam que as primeiras vítimas da ditadura são eles. 

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