Exemplo presidencial mortal na Covid-19
"A política e os humores da opinião pública são extremamente voláteis — e não é impossível que, mais adiante, com outros estudos divulgados, e com o fim do auxílio, Jair Bolsonaro comece a pagar um preço", diz Helena Chagas, do Jornalistas pela Democracia, após um estudo da UFRJ apontar que o "efeito Bolsonaro" aumentou os casos de infecções e mortes por Covid-19
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.
Por Helena Chagas, do Jornalistas pela Democracia
Quase ao mesmo tempo em que o Brasil alcança 150 mil mortos — possivelmente o maior morticínio em massa de nossa história –, começam a aparecer dados comprovando aquilo que intuíamos: a atitude negacionista e irresponsável de Jair Bolsonaro em relação à Covid-19 pode ter, sim, contribuído para a propagação da doença e aumentado o número de mortos. Estudo da UFRJ em parceria com o IRD, trazido hoje pela Folha, identificou o que os pesquisadores estão chamando de “efeito Bolsonaro”, apontando uma correlação entre a preferência pelo presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2018 e a expansão da pandemia em cidades do país.
O levantamento abrange os 5.570 municípios do país e cruzou os dados eleitorais com os dados de crescimento e de mortes da Covid, concluindo que a pandemia causou mais estragos nos municípios mais favoráveis a Bolsonaro. Para cada 10 pontos percentuais a mais de votos para Bolsonaro, há um acréscimo de 11% no número de casos e de 12% no número de mortos.
Novas pesquisas terão que ser feitas para comprovar e aferir de forma mais completa esses resultados, por si só apavorantes. Mostram que o exemplo do presidente da República, saindo sem máscara, participando de eventos em aglomerações e chamando a Covid-19 de “gripezinha”, teve o pior efeito possível para a população, sobretudo entre seus simpatizantes. Quem gosta de Bolsonaro, acredita nele e segue seu exemplo. Pelo estudo, muita gente pegou Covid assim.
Essa correlação entre o comportamento irresponsável de Bolsonaro e o aumento no número de doentes e mortos não foi detectada ainda pelo radar do grande público, e talvez nunca venha a ser, ocultada pelas brumas do auxílio emergencial. Até agora, o presidente — que ontem se aglomerou na praia do Guarujá — teve lucro político com a pandemia, sobretudo por causa do pagamento do auxílio. Mas a política e os humores da opinião pública são extremamente voláteis — e não é impossível que, mais adiante, com outros estudos divulgados, e com o fim do auxílio, Jair Bolsonaro comece a pagar um preço.
(Conheça e apoie o projeto Jornalistas pela Democracia)
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:
Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.
Comentários
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247