"Eu sou o estado": o delírio do Rei Sol tabajara
A descoberta de um sistema secreto para monitorar jornalistas, opositores e desafetos é o maior escândalo de espionagem da história do país
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Durante a semana, um dos escândalos da vez ligados ao governo Bolsonaro, foi a descoberta de um sistema secreto para monitorar jornalistas, opositores e desafetos, criando o que chamei de SBI - Serviço Bolsonarista de Inteligência, uma réplica do antigo SNI, da ditadura militar.
A arapongagem da ABIN bolsonarista monitorou, durante três anos, os passos de cerca de 10 mil pessoas por ano, através de seus aparelhos de celular, através de um programa chamado FirstMile. Para isto, bastava digitar o número do telefone do “alvo” desejado, sem qualquer protocolo de utilização, sem autorização judicial, e a partir daí, acompanhar seus passos em tempo real. O que se tem, é o maior escândalo de espionagem, em larguíssima escala, da história do país.
Sobre a aquisição do tal programa espião, recaem as digitais indeléveis do governo militarizado: o representante da empresa israelense Cognyte, proprietária do programa de espionagem, era Caio Cruz, filho do General Santos Cruz, ex-Ministro de Bolsonaro.
Mas o SBI não parou por aí. Segundo reportagens dos jornais Folha de S.Paulo" e "O Globo", o chefe da inteligência da Receita Federal, Ricardo Pereira Feitosa, quebrou e copiou ilegalmente dados fiscais sigilosos de vários desafetos do governo Bolsonaro. Um dos bisbilhotados foi Eduardo Gussem, Procurador Geral da Justiça do Rio de Janeiro, responsável pelas investigações sobre as suspeitas de desvio de dinheiro público no antigo gabinete de Flavio Bolsonaro na ALERJ.
Dizem que o diabo mora nos detalhes. O detalhe aqui é que no dia 9 de julho de 2019, véspera da devassa ilegal sobre os dados fiscais dos adversários de Jair, Ricardo Feitosa esteve no Palácio do Planalto. A cordial “visita” se repetiu em 16 de julho, após a conclusão dos trabalhos de devassa fiscal.
O próprio Sergio Moro, que demonstra uma relação aparentemente bipolar com Bolsonaro, também foi “vítima” das investidas do “SBI”. Em abril de 2020, o então aliado de primeira hora do ex-presidente pediu demissão do cargo de Ministro da Justiça, alegando interferência de Bolsonaro, que exigia a troca do diretor-geral da Polícia Federal por alguém “confiável”, a quem Bolsonaro “pudesse ligar para colher informações" sobre investigações. O tal critério "tubaína".
Na época, pesavam sobre os filhos de Bolsonaro e, transversalmente ao próprio ex-presidente, suspeitas robustas do envolvimento da família no esquema da famigerada “rachadinha”.
Paradoxalmente ou não, o presidente que mais bisbilhotou a vida alheia, foi o que mais negou informações. Dados do Transparência Brasil apontam que de 2019 a 2022, o governo Bolsonaro negou mais de mil pedidos de informação. Usou e abusou dos 100 anos de sigilo para acobertar atos de toda natureza, alegando proteção de dados pessoais.
Em tempo, um registro importante: o processo do esquema que ficou conhecido como “rachadinha” foi arquivado, após o STJ haver anulado as provas produzidas, especialmente com as quebras de sigilos de Flávio Bolsonaro e demais envolvidos.
Ou seja, quem com arapongagem e devassa fiscal feriu, fez a grita geral por conta de uma ordem judicial de quebra de sigilo contra si e os seus.
Todos esses fatos escancaram a forma como o ex-presidente tratava a coisa pública e suas evidentes pretensões imperiais. Ou melhor, depois do episódio das joias das arábias, Bolsonaro está mais para sheik.
Bolsonaro fez de tudo para implementar seu plano de poder absolutista e dinástico. A sucessão de arbitrariedades, de mau uso do dinheiro público e de disseminação de fake News visando desacreditar as eleições, demonstram esse esforço concentrado. A ideia era se reeleger. Não sendo possível, dar um golpe de Estado. Chegou perto nas duas alternativas.
Beiramos perigosamente uma versão tropical das monarquias fundamentalistas e totalitárias das arábias, cuja relação com Bolsonaro e seu clã, diga-se, é estreita e pessoal (não uma relação entre estados). Prova disto são as joias e o fuzil customizado com o nome do "mito" (bem ao gosto de traficantes e milicianos).
Seja no aparelhamento do Estado para fins pessoais, inclusive de perseguição de desafetos; seja na apropriação de instituições e bens públicos, o patrimonialismo de Bolsonaro é evidente. Quem não se lembra das frases célebres: "o meu exército", “a minha Polícia Federal” , “a minha casa” quando se referia ao palácio da Alvorada. E da cereja do bolo: "eu sou a constituição".
É, caro leitor! Sem seu SBI, sem seus parças três estrelas e sem a complacência do Procurador Geral da República, Bolsoraro terá finalmente que se ver com a Justiça. E todos esperamos que ela seja feita e que se realize brevemente.
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