"Eu nunca vi uma menina tão linda"

Graças à história que a Roberta contou, meu coração reviveu a minha própria história.



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Amei, não alcancei,

quando alcancei, perdi 

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e me perdi

tantas vezes

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perdido a encontrei 

e você, em sorrisos,

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ocultou lágrimas,

mágicas sementes,

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que no campo peregrino,

semeou apenas amor

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Minha irmã Roberta passou o domingo conosco aqui em casa; ela é apenas um ano e vinte dois dias mais nova que eu, tempo suficiente para eu ter nascido na “maternidade velha” no Botafogo e ela já na maternidade da Avenida Orozimbo Maia, na Vila Itapura, onde nasceu minha linda neta Isabela. 

É uma alegria estar com minhas irmãs, pois algumas circunstâncias nos privaram de uma convivência plena – como já escrevi aqui morei com meus avós. Elas são pessoas especiais, divertidas e complexas, como são todas as pessoas que têm a capacidade de pensar criticamente sobre o nosso entorno; que fique claro, ser crítico não significa pessimismo, trata-se de um otimismo realista.

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Cada uma delas me “acudiu” em algum momento; a Roberta, por exemplo, além de ajudar a D. Helena a me ensinar a “ler e escrever”, sempre faz a minha “lição” de matemática. Um cristal inquebrantável, diamante e seus filhos são como meus, talvez eles nem saibam disso. 

Falamos muito, almoçamos, assistimos “Casamento em família”, um filme divertido, com um elenco espetacular – Diane Keaton, Susan Sarandon, Richard Gere e William H. Mac, depois nos debruçamos nos álbuns com fotos antigas. Ela nos contou a história de um casal, que quando ela conheceu já eram idosos, donos de uma linda história de amor. Dois intelectuais, ele musicista e ela linguista especialista em línguas arcaicas, se conheceram quando ela, aos dez anos, foi instada pelas famílias, que eram próximas, a dar aulas de português para ele; ao vê-la pela primeira vez teria pensado “eu nunca vi uma menina tão linda”, teria ele se apaixonado pela menina linda naquele momento e por toda a vida e soube que estariam juntos nessa ou em outras vidas.

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Nas suas vidas tomaram os caminhos de suas escolhas; constituíram famílias, criaram seus filhos. Contudo, a sorte, força divina reguladora dos acasos, cuidou de cruzar seus caminhos e transformá-los em um. 

Eu os conheci e posso atestar: o amor deles era perceptível, tinha a delicadeza tão própria dos amores definitivos. 

A história do musicista amigo de minha irmã, e sua visão predizer o futuro, por um dom especial tem essência e inspiração divina, mas é menos incomum do que possamos pensar. 

Já contei aqui que o meu pai quando avistou a minha mãe pela primeira vez teria dito ao seu avô: “Vô, veja que linda essa menina... Vou me casar com ela”, e, de fato, casaram-se e caminharam suas escolhas por mais de cinquenta e cinco anos.

E há a minha história de amor que completou quarenta anos recentemente. Foi em 1980, no Ginásio do Guarani, que avistei a minha menina linda pela primeira vez, de óculos redondinhos. Foi amor à primeira vista. 

“Naquele tempo” aconteciam os chamados “jogos colegiais”; escolas públicas e particulares da cidade, disputavam partidas de futebol, basquete, futebol de salão, handebol e voleibol, além de atletismo; eu era do time de vôlei do Vitor Meireles e numa das rodadas classificatórias para as finais os jogos foi no tal ginásio. Não me lembro contra quem jogamos naquele dia, mas lembro claramente da menina de óculos sentada nas arquibancadas do ginásio, ao lado de outras meninas, esperando o jogo da sua escola, o Colégio Coração de Jesus. 

Elas conversavam de forma entusiasmada com um dos meninos do “time do coração”. Desci as arquibancadas de peito estufado, passei ao lado dela e ela sequer percebeu; subi de volta, sorri para ela e fui solenemente ignorado. Desci e subi um milhão de vezes, mas sua atenção estava no jogo e na conversa com as amigas. 

Ignorado e com o amor-próprio lá na Antártida, fui para o jogo, vencemos o nosso jogo e a final foi no ginásio do Culto à Ciência contra o Coração de Jesus, perdemos. A menina de óculos redondinho estava lá, mas eu seguia invisível.

Passei a visitar o portão de saída do Coração de Jesus, avistei a menina de óculos redondinhos várias vezes, não tive coragem de me aproximar, mas aquela imagem nunca se perdeu. Voltamos a nos encontrar apenas 1982, na universidade, quando entrou em cena a sorte, aquela força divina reguladora dos acasos. Cheguei ao Pátio dos Leões na PUCC e avistei a menina de óculos redondinhos conversando com as primas Márcia e Ana Verinaud, minhas amigas do ensino médio, que atendia pelo nome de colegial. Elas eram colegas de classe da menina. Os ventos mudavam a meu favor?

Fomos finalmente apresentados e passamos a conversar quase todos os dias sob as palmeiras no pátio; algum tempo depois, fui convidado para seu aniversário de dezoito anos, isso mesmo, tínhamos dezoito anos. Cheio de confiança vesti minha infalível calça jeans, camisa branca de manga longa – que usava fora da calça e com as mangas dobradas e meu mocassim da Tops; passei na Tilli Flores na rua Bernardino de Campos e na Kopenhagen ao lado do Café Regina, comprei o necessário e fui para a festa certo de que seria “o momento”.

Fui bem recebido, mas novamente ignorado. Passei a festa conversando com a Ximbica, apelido de uma amiga nossa e com a Carla, amiga da menina. Mas ela circulava entre os convidados flutuando em sorrisos incontidos; ela aguardava um namorado que não apareceu.

Na semana seguinte passei numa das finadas papelarias do centro de Campinas, comprei um cartão no qual escrevi que o tempo faria perceber que haveríamos de caminhar juntos. Bem, no ano seguinte começamos a namorar; “o meu amor à primeira vista”, finalmente tocou ao coração da menina, mas ela teve que me “avistar” milhares de vezes, a primeira não bastou.

Gosto de pensar que o nosso amor segue intacto - mesmo após tantos anos e tantos erros meus, os quais ela perdoou, permitindo reconstruções -, e seguimos juntos a caminhar de mãos dadas e almas entrelaçadas. 

Graças à história que a Roberta contou, meu coração reviveu a minha própria história. 

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