Eu não sou obrigado a torcer pelo Neymar, nem Pelé!
O que sinto por Neymar, Ronaldo e Pelé é uma profunda admiração pelo brilhantismo e talento que a Natureza lhes concedeu em seus pés. Nenhum sentimento a mais
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Uma coisa que a era de petulâncias do bolsonarismo ensinou é a peneirarmos melhor o conceito do “politicamente correto”. Evidentemente, ao contrário. No caso bolsonarista, é “mimimi”, outras vezes é “vitimismo” (ou seja: frescura, drama, conversinha) quando reclamamos da sua postura desrespeitosa diante das agressões às pessoas com deficiência, ou seus discursos racistas e homofóbicos, ou quaisquer outras posturas antiéticas do cotidiano. Há no bolsonarismo uma antipatia à dor humana e o ignorar completo do sujeito outro que não seja alguém seu e bem próximo a seu pensar e agir. O bolsonarista, quando não mata, deseja o pior a quem pensa ou é diferente dele.
Neste texto quero abordar minha antipatia aos jogadores de futebol (ídolos do povo brasileiro), Neymar, Ronaldo Fenômeno e Pelé. E com isso, quem sabe, tentar uma experiência de imersão, de resignação ou de resiliência para, se errado eu estiver, pensar diferente e agir diferentemente quanto ao outro que me é alheio em tudo.
Retomemos a reflexão na tentativa de fazer coesão entre os dois parágrafos iniciais e a conexão lógica do pensamento.
Os bons modos e a etiqueta são protocolos fundamentais para a rotina dos convívios e do agir social. Por outro lado, o essencial neste trabalho aqui é nos aproximar das dimensões conceituais e vivenciais da alteridade e da empatia. Aliás, mais que os conceitos: o melhor é o nosso viver e agir diferente.
Pois bem! A alteridade é, grosso modo, o reconhecer a existência do outro, aceitar o diferente, o que nos distingue das demais pessoas. A empatia, em síntese, é se colocar no lugar do outro e sentir no outro a paisagem, a cognição, a sensação que é sua. De intersecção entre as pontas de uma e outra dimensão, falamos do bom conviver entre todos, com liberdade e respeito mútuo.
Agora se não sentimos nada em relação a certas dores de alguém; se o sofrimento alheio não nos interessa; se não somos capazes de aceitar a diversidade, isso nos torna inumanos ou até desumanos? É questionável sim, mesmo que possamos dar a melhor das razões e, num alpinismo moral ou civilizatório, buscamos as semânticas mais inóspitas para justificar nosso desprezo, ainda que temporário.
Aí há necessidade de sairmos dessa armadilha – para não sermos e, nem de longe, parecermo-nos com qualquer bolsonarista repulsivo. Se não podemos nos “vingar” dos maus humanos, ou de comportamentos insensíveis e reiterados de certos humanos, sendo como eles, resta-nos apenas o argumento da indignação, com plausibilidade analítica, para pontuar num texto um agir e pensar diferentes. E é este, portanto, o propósito de minha (auto)reflexão.
Pelé está em tratamento criterioso de doença. Rezemos por sua saúde e recuperação plenas. Contudo, não, não posso dizer que Pelé seja a pessoa que gostaria de me espelhar na vida. Nem mesmo nutro qualquer desejo de apertar sua mão num encontro casual.
Pelé, para além do formidável craque e herói do esporte brasileiro, foi uma espécie de “capitão do mato” moderno. Viu os seus (negros como ele) serem escravizados por um sistema neoliberal capitalista e sempre esteve ao lado do opressor, do dominador. Nunca ladeou a causa dos espoliados e vulnerabilizados deste País. De fato, Pelé merece o título de “rei”. Sim, ele faz parte de uma nobreza, de uma casta e, nesta elite, os reis são os déspotas que, quando não maltratam, ignoram seus súditos e suas necessidades existenciais. [1]
Ronaldo é um ser estranho. Alheio à uma ideia de Brasil. Vive seu mundo paralelo, sua riqueza, potencializando seus ganhos e suas empresas. Para não dizer que é um ser humano “invisível” (claro, além da percepção irrefutável de seu encantador futebol), o Fenômeno surge de tempos em tempos envolvido em alguma polêmica. É um astro, no sentido clássico, pronto a causar. E em vários momentos foi um péssimo exemplo para seus fãs, inclusive jovens e crianças que nele se espelhavam.
Por coincidência (e para não faltar de si), Ronaldo estes dias no Qatar levou alguns jogadores brasileiros para jantar. No cardápio, um tal “bife de ouro”; carne banhada literalmente do metal precioso e no valor médio de R$ 9.000,00 o corte. Mas por aqui, no Brasil, Ronaldo também escolhe o lado político das elites. E simplesmente ignora que centenas de brasileiros catam, literalmente, na lata do lixo restos de ossos para sobreviverem. [2]
Ah, sobre o caso do jantar de ostentação dos jogadores concentrados para a Copa do Mundo, Ronaldo foi perguntado sobre o que achava. Sua resposta: “tem coisas que é melhor a gente ignorar”. Lembrei-me das quase 700 mil pessoas que morreram por COVID-19 no Brasil, ou dos fãs deste “herói” lá em Manaus que morriam amingua sem oxigênio e foram ignoradas pelo Fenômeno que sequer uma palavra de solidariedade emitiu, o que dirá oferecer apoio. Ronaldo, isso também é para “a gente ignorar”?
Neymar é o ídolo 4.0 de uma geração 4.0, mas como ser humano é bastante contraditório. Mesmo em campo, demonstra uma certa frieza e até rudeza quando as coisas não acontecem a seu modo. Tipo garoto mimado. Não aceita um “não” como resposta. Todavia, isso é, de longe o pior nele. Foi acusado de estupro. Inocentado, mas com um ar obscuro diante de seus comportamentos sexuais e sua forma de tratar as mulheres de uma maneira geral [3]. Aliás, em matéria de mulheres, estes três jogadores não são o melhor exemplo de dignidade.
Neymar ostenta como poucos. Aviões, roupas de valores tão altos que não consigo escrever neste parágrafo a quantidade de “zeros” nos milhares de dólares. Porém, isso pouco importa. A sua luxúria e o seu luxo deve interessar somente a ele. Mesmo que isso represente uma banalidade material – para alguns povos e pessoas –, o dinheiro é dele; gaste-o como desejar. Somente devo pedir uma coisa: pague seus impostos. Sim, Neymar é um sonegador inveterado do dinheiro que deveria sair de suas obrigações e servir à sociedade. São milhões e milhões de brasileiros passando fome (ao menos 33 milhões nas últimas pesquisas), a maioria destas pessoas apaixonadas por Neymar. E ele simplesmente as ignora como se lixo fossem. Se quer comprar iates e carros de luxo, faça-o com seu dinheiro e não com o que pertence ao Sistema Único de Saúde (SUS) e a educação (FUNDEB) dos sujeitos pobres deste Brasil. [4]
No entanto, é fundamental deixar claro: não acho que eles devam ser “heróis da Marvel” e salvar o mundo (ou o Brasil) das mazelas. Apenas usarem melhor seus eventos mitológicos e darem exemplo de justiça, equidade, direitos humanos e emancipação às pessoas. Até porque vieram de favelas, ou de uma vida mais simples. Portanto, seria oportuno (não obrigatório) que pudessem olhar para trás e vê a dor dos seus que por lá ficaram (estão). Ou nada fazerem, mas também não estimularem – como o fazem – a reiteração dos sistemas de opressão.
E para provar que não exigimos tanto assim, é somente olharmos para a dignidade de outro fenômeno contemporâneo, o jogador que brilha no Qatar, Richarlison. Entre as boas práticas e atitudes que (aparentemente simples, mas que vindas, autenticamente, de alguém tão famoso) fazem tamanha diferença na vida das pessoas e no conteúdo societário, Richarlison assumiu publicamente um combate rigoroso ao racismo e a ajuda no enfrentamento da COVID-19. Além de sua defesa ao Meio Ambiente e outros trabalhos. [5]
Por derradeiro, é fundamental considerar o evento da redenção. Todos nós, humanos, erramos. Todos temos o direito humano de errar. Evidentemente, que é inoportuno para a boa ética que continuemos a errar e errar, e jamais aprendermos com os equívocos a mudar nosso agir e evoluir como sujeitos. Entretanto, o Neymar, o Ronaldo, o Pelé, eu e você desejamos o perdão da Natureza sobre nossos atos torpes a alcançarmos o êxito sagrado.
Ademais, como eu disse no começo do texto: não sou obrigado torcer, aliás, nem a gostar deles. O que sinto por Neymar, Ronaldo e Pelé é uma profunda admiração pelo brilhantismo e talento que a Natureza lhes concedeu em seus pés. Nenhum sentimento a mais.
Sigo torcendo pelo hexa... e para ser uma pessoa melhor!
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[1] Nem vou entrar no caso polêmico de sua filha que morreu abandonada do pai, ignorada por completo pelo Pelé.
Quem desejar pesquisar, fica aqui uma opção de link: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-tragedia-de-sandra-a-filha-que-pele-rejeitou-e-que-morreu-de-cancer-chamando-pelo-pai/
Resumo: Sandra, sua filha com uma empregada doméstica, foi completamente ignorada pelo “Rei”. Sequer em seu velório, Pelé teve a hombridade de ir; enviou flores em nome de sua empresa. A filha do maior jogador de futebol do mundo morreu com pouco mais de 40 anos, vítima de câncer. E morreu uns anos antes para o próprio Arantes do Nascimento.
[2] Digite na internet: “polêmicas envolvendo Ronaldo” que terão um “bom” cardápio para debate.
[3] Basta digitar “polêmicas envolvendo Neymar” na internet e verão que não é implicância. (Talvez um pouco!)
[4] “De acordo com a Receita Federal, Neymar é acusado de sonegar impostos durante os anos de 2011 e 2013, principalmente em relação aos pagamentos feitos pelo Barcelona em sua transferência do Santos. Em 2015, a Receita apontou que houve sonegação de R$ 63,6 milhões por parte do jogador. Na ocasião, foi listado omissão de rendimentos de fontes do exterior com publicidade e ‘omissão de rendimentos oriundos de vínculo empregatício pagos pelo Barcelona’”. Veja mais em: https://www.uol.com.br/esporte/colunas/lei-em-campo/2022/07/29/especialistas-analisam-decisao-sobre-suposta-sonegacao-fiscal-de-neymar.htm?cmpid=copiaecola
[5] Um pouco sobre a luta de Richarlison (também) fora de campo:
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