Estadão dá o tom da frente 'democrática': sem Lula, com os golpistas

Jornal da burguesia paulista sai em defesa de uma frente “democrática” para levar adiante as “reformas” golpistas e abafar a predominância do PT na oposição ao bolsonarismo



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Por Juca Simonard

O jornal da burguesia paulista, O Estado de S. Paulo, deu o tom sobre o tipo de frente de ‘oposição a Bolsonaro’ defendida pelos golpistas. No editorial “Hora de pensar o futuro” (11/02), o ‘Estadão’ discorre sobre o “abalo na formação da chamada frente ampla de oposição ao governo com vistas à eleição geral de 2022”, diante da vitória de Lira e Pacheco no Congresso, e busca orientar o dito “centro democrático”.

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Com toda sua responsabilidade aparente, o jornal paulista defende a “formação de uma frente ampla de oposição a seu governo [de Bolsonaro] que esteja absolutamente comprometida com a defesa inarredável das liberdades democráticas e dos valores republicanos consagrados pela Constituição, com as reformas estruturais de que o País tanto precisa e, não menos importante, com uma gestão responsável da crise sanitária”.

Se algum setor da esquerda, extremamente iludido (ou oportunista), ainda acredita na formação de uma frente “democrática” para resolver os problemas do país, o ‘Estadão’ tratou de esclarecer que tal frente, na realidade, é um mero instrumento político da direita golpista.

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Na frase citada acima, para esconder o jogo sujo, o jornal fala em “defesa inarredável das liberdades democráticas e dos valores republicanos consagrados pela Constituição” e de “gestão responsável da crise sanitária”, mas isso é apenas uma artifício para perfumar a bosta. A defesa das “liberdades democráticas” e dos “ valores da Constituição” não vale de nada na boca de quem defendeu todas as ilegalidades golpistas realizadas nos últimos anos - como o Impeachment de Dilma, a prisão de Lula, entre outras coisas. Da mesma forma, de nada vale defender uma “gestão responsável da crise sanitária” para quem apoia o genocida governador de São Paulo, João Doria, responsável por 25% das mortes por Covid-19 no Brasil.

O importante (que destacamos em negrito) na frase proferida pelo Estado, é a defesa das “reformas estruturais de que o país tanto precisa”. Em outras palavras: a defesa dos mais brutais ataques à população e aos direitos democráticos para consolidar a destruição do País. Foi justamente para realizar tais “reformas” que o golpe foi dado no Brasil. Para enfraquecer os sindicatos com a ampliação da terceirização e com a “reforma” trabalhista; para fazer o povo trabalhar até a morte e colocar a Previdência nas mãos dos banqueiros, com a “reforma” da Previdência; etc.

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A crise em torno de Jair Bolsonaro é justamente porque ele não está conseguindo dar conta de levar adiante todo o projeto golpista. As críticas do bloco DEM-PSDB-MDB (que liderou o golpe) a Bolsonaro se encontram, fundamentalmente, na não consolidação de amplas privatizações, das “reformas” administrativa (contra os funcionários federais), fiscal (para manter cheio o bolso dos grandes capitalistas enquanto cobra impostos excessivos da população pobre), política (para consolidar ainda mais a forma ditatorial do atual regime político), e assim por diante. Para disfarçar, as “divergências” aparecem sob forma ideológica, numa suposta luta da “democracia” contra o fascismo e coisas do tipo. Como foi visto, se a “democracia” defende a política dos golpistas, a esquerda deve se manter bem longe dela.

Mas a frente golpista de “oposição a Bolsonaro” só pode ser viável se o principal partido da oposição, o PT, com suas ligações à classe operária, for inviabilizado eleitoralmente. Naturalmente, por que os setores da população contra o governo votariam na versão falsificada de Bolsonaro - como Doria - se há a possibilidade de votar no PT? Não faz sentido. 

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Por isso, o ‘Estadão’ tratou de atacar a política petista de “colocar o bloco na rua” para lançar um candidato próprio. Segundo o jornal, tal política do PT acaba “explodindo pontes na própria esquerda, na prática impedindo a composição da frente democrática de oposição a Bolsonaro”. Traduzindo: na prática, isso impede que setores oportunistas da esquerda golpista (Ciro Gomes, Guilherme Boulos, etc.) sejam candidatos relevantes e desfavorece uma frente ampla com a direita golpista, que em 2018 escolheu Bolsonaro ao PT - e está pronta a repetir este filme.

Assim, o Estado pede com rapidez a formação de uma candidatura do “centro” para 2022: “Caso os partidos que compõem o centro democrático não aprendam com os erros cometidos em 2018 e construam desde já uma alternativa viável ao descalabro que é o governo de Jair Bolsonaro, não é remota a chance de que a Nação, em 2022, se veja diante do infortúnio de ter de escolher, mais uma vez, entre duas propostas populistas e irresponsáveis para o País, à esquerda e à extrema direita”.

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“O centro democrático deve se unir em torno da construção de um projeto de país que não passe mais pela degradação política que tanto Bolsonaro como Lula tão bem representam. É hora de egos feridos e vaidades darem lugar à concertação em torno de projetos vitais para o Brasil. Caso contrário, em 2022, os brasileiros estarão diante de uma escolha terrível – uma repetição do passado recente”, conclui o editorial.

Na verdade, o que o Estado de S.Paulo quer dizer é que, por Bolsonaro não ser capaz de levar adiante toda a política de terra arrasada, e pelo PT ser uma oposição real à política do golpe, é preciso um frente do “centro democrático” para atacar o povo, fortalecer medidas repressoras e entregar o país aos tubarões capitalistas, que são os “projetos vitais para o Brasil”.

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