Está mais para Collor que para Getúlio
"O enredo atual, com manifestação a favor de Bolsonaro marcada para domingo que vem, em resposta aos protestos do dia 15, no momento em que seu filho, o senador Flávio Bolsonaro, é acusado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa, tem muito mais paralelos com 1992 do que com 1937, quando Getúlio inovou com um autogolpe, depois denominado Estado Novo", avalia Alex Solnik, Jornalista pela Democracia, sobre o governo Jair Bolsonaro; "Autogolpe sem apoio das Forças Armadas, da imprensa e da população, que é o caso atual, é delírio de uma noite de verão"
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Por Alex Solnik, para o Jornalistas pela Democracia
No dia 13 de agosto de 1992, uma quinta-feira, o então presidente Fernando Collor reuniu, no Salão Oeste do Palácio do Planalto, 1500 motoristas de táxi que seriam beneficiados por financiamento da Caixa. Aproveitou a ocasião para dar uma resposta à passeata de estudantes e ao comício na praça da Sé, em São Paulo que pediram seu impeachment:
"Querem realizar um terceiro turno das eleições; vamos realizá-lo e vamos ganhar de novo", desafiou, indignado. Ele estava acuado pela CPI do PC Farias, que investigava as relações de seu ex-tesoureiro com seu governo.
Os taxistas o aplaudiam e interrompiam a cada frase bombástica com gritos de "Dá-lhe Collor" e "Fora Lula".
No auge da empolgação, o presidente fez sua aposta mais alta: conclamou os brasileiros a saírem às ruas no domingo seguinte em sua defesa:
"Saiam de casa no domingo com alguma peça de roupa numa das cores da nossa bandeira, exponham nas suas janelas toalhas, panos, o que for".
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No domingo, 16, os brasileiros foram às ruas em 10 capitais como ele pediu, mas não vestiram verde-amarelo:
"Milhares de pessoas desfilaram em carros ou a pé, de preto e de vermelho, em sinal de luto e de indignação" escreveu o Jornal do Brasil de 17 de agosto. As manifestações foram apoiadas por artistas e intelectuais. Uma das palavras de ordem era:
"Ai, ai, ai, empurra o Collor que ele cai".
O enredo atual, com manifestação a favor de Bolsonaro marcada para domingo que vem, em resposta aos protestos do dia 15, no momento em que seu filho, o senador Flávio Bolsonaro, é acusado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa, tem muito mais paralelos com 1992 do que com 1937, quando Getúlio inovou com um autogolpe, depois denominado Estado Novo.
Autogolpe sem apoio das Forças Armadas, da imprensa e da população, que é o caso atual, é delírio de uma noite de verão.
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