Esquizofrenia em São Paulo
"Todas as pesquisas mostram que aqueles mesmos paulistanos que saíram às ruas pedindo honestidade na política não declaram voto nos dois candidatos cuja honestidade jamais foi arranhada. E que não têm nada a esconder", diz o colunista Alex Solnik; "Haddad ficou muitos anos no Ministério da Educação sem nunca ter sido acusado de qualquer ato fora do figurino, o mesmo sucedeu nos quatro anos em que foi prefeito de São Paulo. Tem 10% de intenção de voto"
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Se a voz do povo é a voz de Deus, Deus deve ser esquizofrênico.
É o que se deduz do que acontece em São Paulo.
Até há alguns meses, a população saía às ruas – mais precisamente, à avenida Paulista – levantando bandeiras contra a corrupção e a desonestidade.
A primeira consequência foi a implantação de um novo governo nacional que, aparentemente, representa a continuidade do anterior, afinal, quem está aí é o vice, como manda a constituição, mas que, na prática mudou completamente o programa de governo que foi vitorioso nas urnas em 2014 e cujo primeiro escalão em peso vive sob a espada de Dâmocles da Lava Jato e do STF.
Ou seja: essa brava gente de São Paulo comandada por um pato amarelo da Fiesp fez o grande favor de tirar da presidência da República uma pessoa que não tinha nenhum processo nem na Lava Jato nem no STF e colocar em seu lugar uma coleção de escândalos, gafes, incompetências, bizarrices, ilegalidades.
Mas tenho que reconhecer que essa primeira consequência foi indireta, foi involuntária, as pessoas não sabiam o que iria acontecer depois da deposição da presidente Dilma, por falta de informação ou até mesmo de interesse, afinal há assuntos mais urgentes no país, como a crise no Corinthians ou quem vai matar quem no final da novela das 8.
O que está acontecendo agora, entretanto, não tem nada de involuntário ou de indireto.
Todas as pesquisas mostram que aqueles mesmos paulistanos que saíram às ruas pedindo honestidade na política não declaram voto nos dois candidatos cuja honestidade jamais foi arranhada. E que não têm nada a esconder.
Haddad ficou muitos anos no Ministério da Educação sem nunca ter sido acusado de qualquer ato fora do figurino, o mesmo sucedeu nos quatro anos em que foi prefeito de São Paulo. Tem 10% de intenção de voto.
Erundina, então, nem se fala, tem uma trajetória sem nenhuma mácula, ao contrário, sempre dignificou os cargos que exerceu, há mais de trinta anos, com inteligência, denodo, lealdade, competência. Está empatada com Haddad.
Eles dois são preteridos pela população e os favoritos são exatamente aqueles sobre os quais pairam dúvidas, processos, pendências, acusações. E que têm o que esconder.
Dólar Jr., cujo apelido pegou e está subindo feito dólar começou citado no escândalo internacional “Panamá Papers”, uma lista de quem guardava dólares secretamente, depois foi acusado pelos tucanos de comprar a sua indicação a candidato, pelo dono de uma importadora de vinho de se recusar a devolver os produtos que emprestara para ele exibir na sua adega e agora se noticia que ele se apropriou de uma área pública em Campos do Jordão em 1990, perdeu na Justiça, mas não devolveu e agora perdeu na Justiça de novo. Está na imprensa: “Oempresário João Doria (PSDB) sofreu na quinta-feira uma derrota nos tribunais sobre a polêmica invasão de uma área pública realizada por ele no município de Campos do Jordão. A Justiça determinou a reintegração de posse imediata de um terreno de 365 metros quadrados que o empresário anexou a uma propriedade de 14 mil metros quadrados em 1990. Depois de 12 anos de briga judicial Doria foi sentenciado a devolver a área, em 2009, mas não devolveu. O processo foi reaberto este ano. Detalhe: o prefeito de Campos do Jordão é do PSDB, o mesmo partido de Doria”.
Em todas as campanhas majoritárias Russomanno começa na frente e depois vai caindo à medida em que ficam conhecidos os processos aos quais responde. Está na imprensa: “Denúncia contra o deputado federal (PP-SP) Celso Russomanno, por suposto crime de peculato na modalidade desvio, foi recebida pelo Supremo Tribunal Federal (STF), por maioria dos votos. Os ministros analisaram o Inquérito 1926 de autoria do Ministério Público Federal (MPF) no qual o parlamentar é acusado de desviar verba de gabinete para o pagamento de serviços particulares referente à sua empresa Night and Day, em São Paulo. Ao indicar e manter Sandra de Jesus para ocupar cargo em comissão (secretária parlamentar) vinculado ao seu gabinete junto à Câmara dos Deputados, Celso Russomonno teria possibilitado o desvio de recursos públicos, uma vez que a servidora, apesar de ter sido demitida da empresa do deputado, continuou a administrar e a gerir a sociedade empresária, localizada em São Paulo”.
Ainda está no páreo, mas em queda.
Marta, que tem vaga no segundo turnoresponde à ação penal 648, por crimes da Lei de Licitações, e aos inquéritos 2687, 3235, 3267 e 3544, por improbidade administrativa, formação de quadrilha, crimes da Lei de Licitações, estelionato e falsidade ideológica. As investigações estão relacionadas à sua gestão como prefeita de São Paulo (2001 a 2004). Uma das acusações é ter contratado irregularmente em 2003, por dispensa de licitação, entidade da qual foi uma das fundadoras para dar cursos de orientação sexual a escolas do município.
Talvez não seja esquizofrenia e sim masoquismo.
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