Esquisitices

Fidel Castro estava morto. A caminho dos funerais Boulos, Stédile, Dilma, Wagner Freitas e Lula passaram pelo Rio de Janeiro. Gisele Cittadino organizou um jantar simples para recepcioná-los



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Fidel Castro estava morto. A caminho dos funerais Boulos, Stédile, Dilma, Wagner Freitas e Lula passaram pelo Rio de Janeiro. Gisele Cittadino organizou um jantar simples para recepcioná-los. 

Um conjunto de intelectuais havia redigido um manifesto em defesa da democracia denunciando o Golpe e alertando para seus desdobramentos. 

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A pedido do Lula, coube à minha feiosa Bárbara Proner Ramos, na época militante secundarista, a leitura do documento. Emocionado, Lula renovou suas crenças na institucionalidade democrática e na força da juventude. Todos nos emocionamos. Estávamos sensíveis. Eles iam a um velório. Resistiríamos. Francisco Proner Ramos registrou o momento. 

Passados três anos ainda experimentamos o luto de um funeral que se demora e nos arrasta em direção a terríveis trevas. Depois do Golpe destruíram o Direito do Trabalho, comprometeram o futuro com limites constitucionais no orçamento de modo a manter os pobres “no seu devido lugar”, como mão-de-obra barata subordinada aos interesses do capital. O Judiciário montou uma farsa para prender o Lula e impedi-lo de voltar ao governo pela via democrática das eleições enquanto o país agonizava. Deu no que deu. Estão destruindo, vândalos, tanto quanto podem, o que havia de contrapartidas para que o capitalismo fosse tolerado. 

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As instituições feneceram, a democracia, falecida. O Direito morreu. Lula está preso, as instituições estão encarceradas, a democracia encontra-se sequestrada e o Direito, no Brasil, em adiantado estado de putrefação. 

Apesar de tudo, apesar desta gente horrorosa que escolheu viver sob valores fundamentalistas e autoritários, apesar do estrago promovido pela Direita Concursada, apesar da vergonha que sentimos pelos desvarios dos malucos, dos hipócritas e dos canalhas, apesar dos pesares, continuamos sensíveis. E com esperança. Emocionamo-nos com o levante popular no Ecuador e no Chile e com as vitórias eleitorais na Bolívia, na Argentina e no Uruguai. Somos democratas irrecuperáveis. 

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Não consigo deixar de me sensibilizar ao pensar em Lula na cela da PF, no dia do seu aniversário, 74 anos, revisando os acontecimentos desses últimos três anos e suas convicções com a certeza de que não está sozinho. Sou esquisito. Impuseram-lhe o isolamento físico sem conseguir que ficasse em solidão. Colocaram-no na solitária. Inútil. Pessoas como Fidel, Gandhi, Mandela nunca ficam sozinhas. Estão sempre presentes. Gente como nós jamais permitirá que a truculência se imponha sobre a sensibilidade. Somos esquisitos.

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