Esquerda vive dia de infâmia

Colunista Breno Altman avalia em artigo que "a vitória de Rodrigo Maia sela uma nova etapa na reorganização das forças conservadoras: com a recondução da direita neoliberal ao núcleo de poder, a agenda do retrocesso tende a ganhar mais credibilidade, vigor e unidade"; o resultado da eleição para presidente da Câmara, diz ele, traz ainda como "grande vitorioso" o presidente interino, Michel Temer; "Mesmo que fossem eventualmente derrotadas, as forças progressistas poderiam ter construído um bloco de resistência que fosse ao segundo turno e passasse um bom sinal ao asfalto. Mas a maioria da esquerda parlamentar, no dia em que o DEM voltou ao comando da Câmara dos Deputados, capitulou às suas próprias confusões e preferiu a infâmia ao bom combate", afirma o jornalista

Brasília - O deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) foi eleito presidente da Câmara dos Deputados, com 285 votos. (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Brasília - O deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) foi eleito presidente da Câmara dos Deputados, com 285 votos. (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil) (Foto: Breno Altman)


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Do sectarismo eleitoreiro do PSOL ao cretinismo parlamentar que contamina PT e PCdoB, o que assistimos ontem na Câmara dos Deputados foi a liquefação do campo antigolpista, abrindo caminho para a substituição do centro fisiológico pela direita orgânica no comando do parlamento.

Era razoável o objetivo tático de construir uma candidatura que unificasse todos os que votaram contra o golpe parlamentar em 17 de abril, uns 140 deputados.

Aliás, a soma dos votos de Marcelo Castro, Luiza Erundina e Orlando Silva teria colocado um nome dessa coalizão para disputar o comando da casa contra Rodrigo Maia (DEM-RJ), suplantando a colheita eleitoral de Rogério Rosso na primeira volta (108 contra 106 votos).

continua após o anúncio

Mas parte da bancada do PCdoB e do PT se atirou nos braços de Rodrigo Maia em troca de migalhas e promessas corporativas, virando de costas para as ruas e abandonando a centralidade da luta contra o golpe às vésperas do julgamento definitivo da presidente Dilma Rousseff pelo Senado.

Os agradecimentos do candidato vitorioso a Orlando Silva (PCdoB-SP) não foram imerecidos e deveriam ser estendidos a muitos deputados do PT, apesar da posição em contrário de sua direção e vários integrantes da bancada.

continua após o anúncio

O fato é que importantes operadores foram empurrados para a órbita do conservadorismo mais ideológico e classista, por conta da associação entre interesses corporativos, redução da política ao jogo parlamentar e derrotismo após o colapso da estratégia de conciliação vigente durante os governos petistas.

O PSOL, por sua vez, inventou a tática da anticanditatura com os olhos postos nas eleições de São Paulo e no desgaste do PT, pouco se lixando para a luta contra o governo golpista, que lhe serve apenas de trampolim para ter um discurso sensível aos eleitores tradicionais do PT.

continua após o anúncio

A confusão no campo progressista, alimentada por oportunismo de direita e de esquerda, terminou por limar qualquer capacidade de atração do centro democrático, formado pelos parlamentares que votaram contra o impeachment.

O resultado não poderia ser outro: somente os candidatos golpistas passaram ao segundo turno, ambos abençoados por Michel Temer, que pode se livrar da incômoda presença de Cunha sem colocar em risco seu sistema de governabilidade.

continua após o anúncio

A esquerda nem sequer teve a dignidade e o tirocínio de se retirar do plenário, de forma unitária, deixando claro que se recusava a votar em qualquer candidato que tivesse apoiado o impeachment. Apenas o PSOL e parte dos deputados petistas, além da combativa Jandira Feghalli (PCdoB-RJ), tiveram essa lucidez política.

No mais, a vitória de Rodrigo Maia sela uma nova etapa na reorganização das forças conservadoras: com a recondução da direita neoliberal ao núcleo de poder, a agenda do retrocesso tende a ganhar mais credibilidade, vigor e unidade.

continua após o anúncio

Grande vitorioso na sucessão da Câmara, Michel Temer reformatou a aliança oligárquico-burguesa que comanda o golpe, reduzindo vulnerabilidade diante das reivindicações varejistas e fisiológicas.

Não restam dúvidas que lhe é mais favorável ter o centrão sob a batuta da direita orgânica do que o revés, especialmente quando a pressão do mercado e a imparável Operação Lava Jato ameaçam sua estabilidade entre as classes dominantes.

continua após o anúncio

Essa vitória acachapante, no entanto, não eram favas contadas. Mesmo que fossem eventualmente derrotadas, como seria o mais provável, as forças progressistas poderiam ter construído um bloco de resistência que fosse ao segundo turno e passasse um bom sinal ao asfalto.

Mas a maioria da esquerda parlamentar, no dia em que o DEM voltou ao comando da Câmara dos Deputados, capitulou às suas próprias perdições e preferiu a infâmia ao bom combate.

continua após o anúncio

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247