Esquerda soube superar divergências e reagir ao avanço fascista

Cartazes e faixas com palavras de apoio ao governo e rechaçando o golpismo deram o tom a um ponto que, quando a mídia finalmente resolveu entrar no assunto, no começo da noite, classificou os protestos como de "defesa do governo"

Cartazes e faixas com palavras de apoio ao governo e rechaçando o golpismo deram o tom a um ponto que, quando a mídia finalmente resolveu entrar no assunto, no começo da noite, classificou os protestos como de "defesa do governo"
Cartazes e faixas com palavras de apoio ao governo e rechaçando o golpismo deram o tom a um ponto que, quando a mídia finalmente resolveu entrar no assunto, no começo da noite, classificou os protestos como de "defesa do governo" (Foto: Eduardo Guimarães)


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O que surpreendeu nas manifestações de movimentos sociais e sindicais que ocorreram pelo Brasil na última quinta-feira foi, entre outros fatores, a intensidade. A essa altura do campeonato, não se esperava que fossem tão expressivas.

Igualmente surpreendente foi essas manifestações terem sido tão grandes justamente em São Paulo, considerada a capital do fascismo hoje no país.

Porém, a grande surpresa foi o belo arranjo político que tornou possível uma reação de peso aos protestos fascistas do último domingo.

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No fim de uma tarde de inverno banhada por vento e garoa frios, absolutamente inadequados para um ato como o que nasceu no Largo da Batata e explodiu na avenida Paulista poucas horas depois, dezenas de milhares de pessoas já tingiam o local de vermelho.

Os potentes alto-falantes dos carros de som enchiam a região por centenas e centenas de metros. Era possível ouvir os discursos a quase um quilômetro de distância.

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Outra surpresa foi ver que críticas ao governo presentes nos discursos de lideranças como Guilherme Boulos, do MTST, por conta do ajuste fiscal, não empanaram o principal sentido da manifestação: a defesa da democracia e, explicitamente, do mandato de Dilma Rousseff.

Cartazes e faixas com palavras de apoio ao governo e rechaçando o golpismo deram o tom a um ponto que, quando a mídia finalmente resolveu entrar no assunto, no começo da noite, classificou os protestos como de "defesa do governo".

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As críticas ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, bem como ao ajuste fiscal, pois, soaram protocolares.

Claro que as manifestações não mudarão o nível de impopularidade do governo neste momento, mas mostraram que Dilma e o PT não estão abandonados.

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Mesmo os mais críticos, como o MTST e setores do PSOL presentes ao ato, mostraram que não aceitarão o golpe e que, se for tentado, haverá forte reação. O poder dissuasório dessas manifestações por certo se fará sentir nos próximos dias.

Aliás, as imagens do ato serão poderosíssimas também junto aos setores mais humildes da sociedade, que são maioria no país. A mera comparação entre o perfil dos manifestantes desta quinta-feira e os de domingo último será extremamente eloquente.

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Como se vê na imagem acima, enquanto que nos protestos de domingo apareceram figuras histriônicas portando frases absurdas em defesa da ditadura militar e até de sonegação de impostos, nos protestos dos movimentos os manifestantes tinham cara de brasileiros e não se viu qualquer absurdo.

Não havia a uniformidade étnica das manifestações "coxinhas". Foi possível ver brancos, negros, orientais, classe média, classes humildes, enfim, a pluralidade étnica e social do povo brasileiro esteve bem representada.

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Mais importante ainda foi que defensores do governo e setores da esquerda que têm críticas a esse governo souberam respeitar as divergências em prol da pauta comum contra o avanço fascista.

Nesse aspecto, devo fazer um mea-culpa. Confesso que me enganei ao julgar que não seria possível conjugar essas divergências na mesma manifestação.

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MTST e os setores do PSOL que estiveram presentes eram os que mais tinham resistência a participar dos atos contra o fascismo, mas souberam manter suas críticas dentro de limites aceitáveis enquanto repudiavam com grande veemência o golpismo.

Quero dizer, de público, que PSOL e MTST estão de parabéns, bem como os outros envolvidos na montagem brilhante dessa verdadeira engenharia política.

Porém, talvez os fascistas tenham até mais méritos por esse arranjo político ter dado certo. Foram longe demais. As frases absurdas em suas faixas e cartazes, como pedidos de extermínio de esquerdistas, defesas apaixonadas da sonegação de impostos e pedidos de volta da ditadura ajudaram muito a unir a esquerda.

Alguns dirão que nada disso resolve os problemas da economia e o mau-humor da grande maioria dos brasileiros com o governo, mas não é bem assim...

O fato é que, como já foi dito tantas vezes nesta página, a crise econômica deriva muito mais da crise política do que de problemas reais da economia. Com a esquerda unida e botando a cara na rua, a crise política, baseada nos protestos fascistas, começará a refluir.

Com o refluxo da crise política a economia deverá entrar nos eixos muito antes do esperado. Quanto mais rápido o golpismo e a sabotagem perderem força, portanto, mais rápido será equacionar o problema econômico.

Em meio a tudo isso, uma faixa estendida pelos manifestantes no Largo da Batata, entre outras com pedidos de "Fica, Dilma" e "Não vai ter golpe", dizia que quem tem medo de formigas não deve atiçar o formigueiro.

O recado à direita está dado. A esquerda está se unindo, finalmente, e o Brasil só terá a ganhar com isso.

É com prazer, pois, que convido o leitor a assistir, abaixo, ao vídeo do ato antifascista de São Paulo produzido pelo Blog. Após vermos animais desfilando suas vergonhas domingo passado, é alentador ver uma verdadeira manifestação popular.

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