Escovar a história a contrapelo
Existe entre nós uma indústria turística e cultural que se alimenta morbidamente dos restos da escravidão africana na região. E deve ser lucrativo
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Disse uma vez o filósofo judeu-marxista Walter Benjamin que um dos maiores riscos do historicismo era empatizar com o legado do vencedor, aí enfatizar a Glória, o brilho, o esplendor de sua herança. Afinal, a memória que sobrevive é sempre a do vencedor. E que o risco dessa empatia é transformar a necessidade em virtude. Enquanto durasse essa operação, nem os mortos estariam seguros, porque continuariam a morrer indefinidamente. Por isso seria necessário revirar a história de ponta cabeça, para salvar a história dos vencidos. Interromper o círculo infernal da danação eterna dos que morreram e clamam por justiça e reconhecimento.
Pois bem: desde a colonização, a história de Pernambuco se confunde com o açúcar. A civilização sucro-alcooleira. É O ALFINIM, O BOLO DE SOUZA LEÃO, A COCADA ETC.
Existe entre nós uma indústria turística e cultural que se alimenta morbidamente dos restos da escravidão africana na região. E deve ser lucrativo. Já tive oportunidade de denunciar em livro e artigo essa estetização do atraso. O seu principal ideólogo, o sociólogo Gilberto Freire, que exaltou as virtudes da escravidão portuguesa no Brasil, escreveu até uma apologia do açúcar, com receitas de bolo e de doces para o uso das Casas Grandes remanescentes e o gaudio gustativo dos turistas.
É preciso desconstruir essa memória e salvar a memória do sofrimento dos afro-brasileiros, escravizados e de seus descendentes.
E só há um maneira: denunciar essa construção retórica saudosista organizada em torno do Engenho, do Açúcar, das comidas africanas, sob pena de continuarmos alimentando esse imaginário "doce" da escravidão africana no Brasil.
PS- O filósofo frankfurtiano fala em "salvar" a memória dos vencidos, em sua linguagem soteriológica (messiânica e judaica) não fala em "resgatar, restaurar, como criticam alguns ensaístas neo-nietzschianos, para os quais não existe passado, só uma construção discursiva a serviço de imperativos de poder (Foucault).
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