Escatologia bolsonariana

O caso do senhor Jair Messias Bolsonaro é mais complicado: tendo sido operado do intestino grosso, ele sofre de uma espécie de escatologia verbal muito séria. Toda vez que ele abre a boca, saltam dejetos retóricos para todos os lados

Jair Bolsonaro
Jair Bolsonaro (Foto: REUTERS/Adriano Machado)


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Depois dos 40 anos, os homens sofrem de uma patologia chamada de neoplasia benigna ou maligna, que é o crescimento da próstata, Então passam a apresentar um quadro de incontinência urinária, ou seja, passam a não controlar a bexiga. No entanto, o caso do senhor Jair Messias Bolsonaro é mais complicado: tendo sido operado do intestino grosso, ele sofre de uma espécie de escatologia verbal muito séria. Toda vez que ele abre a boca, saltam dejetos retóricos para todos os lados. 

É até possível fazer uma antologia dessa coprologia verbal emanada da boca presidencial: frases que se referem ao país, como uma virgem que todo mundo quer estuprar, o caráter benéfico e instrutivo do trabalho infantil, a saciedade do povo brasileiro, o tom grosso (grosseiro) do presidente com embaixadores brasileiros, a morte de cidadãos sob a custódio do Estado, ao presidente da OAB, etc. É uma coleção de dar inveja ao saudoso Stanislaw Ponte Preta. A incontinência verbal de Bolsonaro foi tão longe que levou o ministro Marco Aurélio Mello a sugerir que se colocasse uma mordaça no conduto bucal do ex-capitão.

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Em qualquer pessoa, essa escatologia não passaria de uma coisa pitoresca, risível ou cômica, sem maiores consequências. Mas, em se tratando de um chefe de Estado e de Governo, com a imensa responsabilidade de dirigir uma nação subcontinental, como o Brasil, sua incontinência verbal tem sido altamente desastrosa para os interesses do povo brasileiro. 

Sobre ser uma pessoa visivelmente desqualificada e inepta para o cargo, ele parece viver uma espécie de deslumbramento com a função presidencial que, parece, lhe confereria o privilégio de ofender, constranger, agredir, humilhar seus pretensos desafetos ou a oposição legal ao seu mandato, como se essa atitude fosse uma prerrogativa de sua investidura institucional. Bolsonaro parece pensar que todo mundo é venal ou covarde. 

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E que através do medo ou da compra e venda pode lidar com os poderes e seus ocupantes. Aos que não concordam com seus pontos de vista, ele reserva a perseguição, o preconceito e o ódio. Incapaz por (de)formação de respeitar ou reconhecer limites, ele extrapola facilmente o bom senso, a decência e a compostura. Compromete a liturgia do cargo e desmoraliza a instituição. Ainda que fosse uma mera "rainha da Inglaterra", não estaria preparado para sê-la, em razão de seu aspecto rude, grosseiro, mal educado.

Se, internamente, vai se adensando um ambiente de profundo mal-estar na opinião pública, no Poder Judiciario, nas casas Legislativas, e em várias entidades da sociedade civil, a ponto de se cogitar abertamente em "impeachment" do cargo presidencial, fora do país as implicações dessa incontinência verbal são simplesmente desastrosas, sob todos os pontos de vista: político, comercial, jurídico, diplomático. 

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Nunca o retrato do Brasil esteve tão manchado pelas pirotecnias retoricas do seu chefe político, como hoje. Países que sempre mantiveram conosco excelentes relações diplomáticas, culturais e comerciais,jurídico, diplomático, começam a serem alvos das invectivas e diatribes bolsonarianas, como se o país não tivesse uma escola de diplomacia da melhor qualidade. 

Nossa política externa anda abaixo da política rooseveltiana do "big stiker" , porque, além de escabrosa, beligerante e incivilizada, ela tornou-se um apêndice da política externa norte-americana e sionista, a ponto de sabotar acordos comerciais com países e blocos econômicos fora da área de influência do dólar.

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É lamentável tudo isso. Após mais de uma década de uma diplomacia Sul-Sul, multicultural e pacifista, voltamos aos acordos bilateriais, em tudo lesivo aos interesses do povo brasileiro, com uma potência econômica, como o grande país do Norte. Dessa forma, vamos nos igualar a países como Porto Rico, Panamá, que não passam de protetorados do governo americano. 

Não somos e nem queremos ser cidadãos de 3ª classe, rendendo homenagens à bandeira americana e cantando o hino do Exército da Salvação. Temos nossas aspirações políticas legítimas no concerto das nações. E um potencial econômico, cultural e étnico de darem inveja ao mundo. Devemos cumprir com dignidade e altivez o nosso destino.

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