Escândalo da Mansão Bolsonaro: quem abusa da sorte acaba dando sopa pro azar

"Impossível afastar o escândalo do Palácio do Planalto. Flávio não teria obtido o empréstimo se não fosse filho de quem era e não seria necessário nem mesmo a intervenção do pai: havia interesses em jogo", escreve Alex Solnik, do Jornalistas pela Democracia

(Foto: ABr | Reprodução)


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Por Alex Solnik, para o Jornalistas pela Democracia

Flávio Bolsonaro é um sujeito de sorte. No ano passado, decidido a oferecer mais conforto à sua família, formada pela esposa, Fernanda e pela filha pequena, comprou um imóvel de 1100 metros quadrados de área construída num terreno de 2500 metros quadrados, no Condomínio de Mansões Ouro Branco, em Brasília, apesar de ter direito a residência oficial, de graça, como os demais senadores e deputados.

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Situada ao lado de outras três mansões e de um terreno preparado para receber a quinta, a mansão Bolsonaro tem dois andares, piso de mármore na casa toda, academia de ginástica, sauna conjugada com piscina, churrasqueira, forno de pizza, brinquedoteca e garagem para oito carros.

O preço, R$6 milhões, era um pouco salgado para quem ganha R$24 mil líquidos por mês (R$32 mil, somados aos proventos da esposa) e possui patrimônio de R$1,7 milhão, declarado à Receita Federal em 2018. Mas, como eu disse, ele é um cara de sorte.

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Logo de cara conseguiu abatimento de R$180 mil do proprietário, um milionário de Brasília que se chama Juscelino Sarkis, filho de Simão Sarkis, que enriqueceu em Brasília e era grande amigo de Juscelino Kubitcheck. Foi batizado em homenagem ao fundador de Brasília.

No dia 23/11/2020 o senador pagou a primeira parcela (R$200 mil), a 10/12 a segunda (R$300 mil) e a 11/12 a terceira (590 mil), totalizando R$1milhão e 90 mil.

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No dia 2 de fevereiro de 2021, depositou mais R$3,1 milhões, que obteve emprestados no Banco Regional de Brasília e, apesar de faltarem R$1,8 milhão, Juscelino Sarkis passou a escritura para Flávio, num cartório de Brazlândia, a 45 quilômetros de Brasília.

Conseguir empréstimo junto ao BRB foi outro lance de sorte. Os proventos do senador e de sua esposa dentista não somavam o mínimo exigido para um empréstimo tão vultuoso (R$46 mil mensais), mas a sorte dele é que o banco pertence ao governo do Distrito Federal, comandado por Ibaneis Rocha, aliado político de Flávio e de seu pai e o presidente do banco, Paulo Henrique Costa, ainda por cima era o favorito para entrar no lugar do presidente do Banco do Brasil, que Bolsonaro pai começou a derrubar no dia 23 de janeiro, quando as negociações do senador com o banco estavam em andamento. E ele conseguiu o empréstimo mesmo não tendo renda para quitá-lo, além de estar enrolado com a Justiça. Isso é que é sorte.

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Mas, no dia 1o. de março de 2021 a sorte de Flávio Bolsonaro virou: O Antagonista revelou o escândalo da mansão.

No dia seguinte, o MPRJ informou que o imóvel vendido para quitar parte da mansão era fruto de “rachadinha”.

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Dois dias depois, a 3 de março, o Jornal Nacional noticiou que a namorada de Juscelino Sarkis, a juíza Claudia Silveira de Andrade trabalhara até 2019 no gabinete do juiz do STJ João Otávio de Noronha, que no dia 23 de fevereiro de 2021 abriu o voto divergente que anulou a quebra de sigilo bancário de Flávio Bolsonaro. Outro lance de sorte do senador.

Impossível afastar o escândalo do Palácio do Planalto.

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Flávio não teria obtido o empréstimo se não fosse filho de quem era e não seria necessário nem mesmo a intervenção do pai: havia interesses em jogo. Havia. Agora, Inês é morta. Noronha também mirava a cadeira que Marco Aurélio Melo vai deixar vazia em julho no STF. Mirava.

Impossível não retomar o escândalo da rachadinha que Noronha ajudou a enterrar.

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Quem abusa da sorte acaba dando sopa pro azar.

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