Épica popular malograda

O escritor, poeta e dramaturgo Ariano Dantas Vilar Suassuna é um personagem emblemático daquilo que se chama "cultura popular"

Ariano Suassuna
Ariano Suassuna (Foto: Paulo Emílio)


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O escritor, poeta e dramaturgo Ariano  Dantas Vilar Suassuna é  um personagem emblemático  daquilo que se chama "cultura  popular". Isto porque tendo nascido  no Palácio do governo estadual da Paraíba, apresenta-se  como um arauto  da poesia  e do teatro popular do Nordeste.  O veio cultural ao qual  se liga o escritor  paraibano é  o barroco  da Península Ibérica (Gil Vicente, Calderón de Lá Barca). 

Mas a característica  mais marcante é  a influência da literatura picaresca de Lazarillo de Tormes, Camões, D. Quixote  e os romances de cavalaria, como os 12 pares de França  e o romance picaresco italiano  de Boccaccio. Segundo Suassuna, essa característica  literária  exerceu forte  influência  sobre o imaginário popular nordestino  e a literatura de cordel, tanto quanto a tradição oral dos cantadores  e repentistas  nordestinos.                          

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Ariano teve a oportunidade  de aprender  com esses artistas  populares, em sua  terra natal. Assistindo  tripés e circos mambembe que percorriam  o interior do país. E confessa que gostaria  de ser um deles. A questão  que se coloca  é  que esta tradição  popular é  reelaborada pela cultura erudita  do autor. De forma que ela não se apresenta  em estado puro, mas devidamente  embalada numa forma superior a que  Suassuna deu o nome de ARMORIAL, uma forma de nobreza popular nordestina feita a partir de brasões  de família. A nossa nobreza é  composta de vaqueiros, fazendeiros, bailarinas do pastoril, das cavalhadas  etc.O rei é  sempre o encantado, o encoberto, que ainda vai voltar e vencer a República. Regime ateu, cuja moeda  não tem o nome de Deus e sim um ramo de café.  Há algo curioso  nessa cosmogonia  armorial. O seu messianismo  e a negação dos movimentos seculares, baseados em interesse de classe ou ideologias seculares.                          

Para Ariano, o modelo é  o messianismo português, o movimento da Pedra Bonita e Canudos. A vertente literária  de Suassuna é  Silvio Romero e seu branqueamento, Euclides da Cunha  e o enaltecimento dos nordestinos  sertanejos e Guimarães  Rosas  e seu sertão  mágico.  0 escritor coloca -se ao lado  dos  povos sensitivos, intuitivos, irracionais  ao invés  dos Apolíneos intelectuais. Nós. Somos o povo do sertão  contra a elite cosmopolita do litoral. Não somos comerciantes  e burgueses.  Somos picarescos e românticos. 

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Tradicionais. Isto define a natureza do anticapitalismo rural de Ariano. Personificado  no personagem de João Grilo (ou o amarelinho da zona da mata). Que vence todos e todas  pela lábia, a esperteza, o jogo de cintura. Mas o escritor defende que o seu herói  é  positivo, não negativo como Jeca Tatu ou Macunaíma. Essa criação literária e social é  eminentemente picaresco. Vem do romance ibérico, de Pedro Malasartes. Neste ponto, ele se opõe a cultura puritana do trabalho e animada  pela ética do aventureiro.        

Tese importante na criação de Ariano é  a miscigenação  racial, herdada de Freyre e responsável  pela ambiguidade constitutiva  do nosso caráter  A síntese dos contrários. Nem branco, , nem preto.  Branco e preto e indígena (casamento  de judeu com mouro (ou etiope) e indígena.  Raça. Singular nos trópicos, que se completa  na paisagem árida e desértica  do sertão.                                    

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Daí é  possível entender a aversão a Revolução de 30, ao comunismo e a civilização urbana e industrial, como influência estrangeira e colonizadora.  Tudo que não for  rural, sertanejo, messiânico  e monárquico é  colonialismo estrangeiro, importação  de fora, inautetuco. Aversão que só acabou quando a Rede Globo comprou os direitos de adaptação  da obra de Ariano para a televisão. Suassuna, que sempre se mostrara  refratário à indústria cultural moderna, deixa -se levar pela mão de Guel Arraes para os tentáculos  da cultura de massa. O picaresco vira  artigo da cultura de massa e é  consumido por milhões  de espectadores. Curiosamente a obra romanesca  é  menos conhecida. Oprincipal livro onde aparece exposta esta visão  - a Pedra do Reino é  pouco conhecida. Lá está  exposta  a visão de mundo do autor. Suassuna torna-se mais conhecido  pelo teatro burlesco, as farsas, onde os aspectos  da cultura popular são mais  aceito e apreciados  como pitorescos, cômicos, risíveis.                               

Ariano Suassuna mudou muito. Até se aproximar da cultura pop urbana ele se aproximou. Também dos comunistas  do PC do B. Tornou-se secretário de Cultura de Arraes e foi promover o que ainda restava da cultura popular ( mestre Salustiano, Lia de Itamaracá, jjm.Borges). Mas não teve tempo de reescrever a sua obra, como gostaria.

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