Envolvimento da mídia corporativa com Lava-Jato levanta suspeita de compra de “proteção futura”

'O lavajatismo está vivo na mídia corporativa. Ele não morreu com a suspeição de Moro ou a cassação de Dallagnol', escreve o colunista Mario Vitor Santos

Sergio Moro (à esq.) e Deltan Dallagnol, ex-juiz e ex-procurador da Operação Lava Jato, respectivamente
Sergio Moro (à esq.) e Deltan Dallagnol, ex-juiz e ex-procurador da Operação Lava Jato, respectivamente (Foto: Marcos Corrêa/PR | Pedro de Oliveira/ALEP)


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“Uma Guerra Contra o Brasil”, o recém-lançado livro do empresário Emilio Odebrecht, traz um trecho enigmático em sua página 260, sobre o qual nenhum jornalista da mídia corporativa e lavajatista, ou seja, os grandes veículos de comunicação do Brasil, está autorizado a abordar. Também por essa censura generalizada a uma obra tão crítica ao jornalismo praticado na Lava-Jato, impõe-se voltar ao assunto. 

Depois de escrever que o serviço à Lava-Jato foi opção de uma minoria nas redações e lamentar que a maioria percebeu e se calou “por medo de serem identificados como protetores de supostos corruptos”, diz Odebrecht no trecho, tratando da colaboração entre os meios de comunicação e a Lava-Jato: 

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“...me ocorre uma pergunta da qual não posso fugir: estariam alguns destes meios que aderiram de modo tão inusitado à Lava-Jato e fecharam os olhos a seus desmandos investindo em alguma proteção futura? Talvez algum dia saibamos a resposta”. 

E para por aí. 

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De que informações dispõe Odebrecht para fazer essas afirmações, o livro não divulga.  

Com certeza, ao falar de “meios”, a Globo está incluída. Após alguma indefinição inicial, a Globo entrou com tudo na cobertura e no apoio às manifestações de 2013, especialmente quando elas adquiriram um caráter contrário ao governo Dilma.  

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Depois, ao longo da Lava-Jato, a emissora elevou ainda mais o tom, entrando em campanha permanente, expondo dutos de onde jorravam notas de dinheiro, convocando manifestações e vestindo a camisa da derrubada da presidente da República. 

Haveria, além da cruzada moralizante, que se revelou falsa, outros interesses em jogo, alguma “proteção futura”, como escreve Odebrecht?  

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As engrenagens do jornalismo na mídia corporativa do Brasil nem sempre obedecem a figurinos conhecidos de todos. O fato é que sem a adesão da Globo não se teria precipitado o desgaste de imagem sofrido por Dilma ao final de seu primeiro mandato. Sem a Globo, o golpe do impeachment seria inviável. 

Por falar nisso, as “jornadas” de 2013, a versão brasileira das “revoluções coloridas semeadas mundo afora pelos Estados Unidos, estão para completar dez anos agora. Será interessante observar se haverá um momento de autocelebração do papelão da mídia, de destacar o próprio papel na “faxina moralista” da República de Curitiba a quem o jornalismo se entregou? 

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Os tempos mudaram, mas, a despeito da desmoralização da Lava-Jato e de seus heróis, o lavajatismo segue comandando os meios de comunicação por razões políticas, mas também talvez por outras, como se vê, nem sempre esclarecidas.  

O lavajatismo na mídia corporativa não morreu com a suspeição de Sérgio Moro ou a cassação de Deltan Dallagnol. Vivo, ele está apenas hibernando, guardando energias para logo retornar. 

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Como afirmou o ministro Gilmar Mendes à TV247, o envolvimento da mídia com os desmandos da Lava-Jato precisa ser objeto de investigação. Talvez algum dia saibamos a resposta. 

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