Moro foi pauteiro, editor, repórter e entrevistado no mensalão e na Lava Jato

O relato ao 247 pode trazer elementos que, se não forem verdadeiros, fazem muito sentido quando olhados no contexto

Tony Garcia e Sergio Moro
Tony Garcia e Sergio Moro (Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)


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Nas declarações bombásticas do ex-deputado estadual do  Paraná Tony Garcia aos jornalistas Joaquim de Carvalho e Leonardo Attuch, deste 247, há referência  a uma "entrevista" fabricada, a mando de Sergio Moro, segundo o próprio Garcia, ainda em 2006, para a revista Veja.

A entrevista teria sido providenciada por Moro  com o propósito específico de comprometer o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu com o chamado mensalão.  Dirceu veio efetivamente a ser condenado no Supremo Tribunal Federal, em 2012, a dez anos e dez meses de prisão em regime fechado.

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A condenação se deu no âmbito da Ação Penal 470, a do mensalão,  com voto da ministra Rosa Weber, que tinha àquela altura Sérgio Moro como assessor.

O caso pode ser, se comprovado, ilustrativo daquilo que o ministro Gilmar Mendes chama de conluio de meios de comunicação com parcelas do Judiciário, coisa que já existiu desde o início do mensalão e adquiriu ritmo e volumes industriais durante a Lava-Jato.

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Porque afeta a mídia conservadora, este conluio de proteção mútua é um dos segredos mais bem guardados da República.

Nenhum jornalista ou  veículo que tenha participado das eventuais combinações, seja no mensalão seja na Lava-Jato, revela qualquer intenção de se auto-investigar e publicar uma retratação.

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Agora, Tony Garcia, que já foi condenado por fraude e apropriação indébita, diz guardar provas do conluio, as quais serão apresentadas em tribunal.

De fato houve entrevista, supostamente determinada por Moro, em 2006 ao então repórter da Veja, Alexandre Oltramari, da sucursal da revista em Brasília.

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O diretor da sucursal era Policarpo Jr.  O diretor de Redação era Eurípides Alcântara.

Da entrevista de Garcia ao 247, segue um trecho:

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Pergunta: Nesta entrevista (à Veja) você dizia que o José Dirceu pagava o mensalão do PMDB. Você foi coagido pelo Moro, pelo Carlos Fernando?

Resposta: "Fiz. Esse repórter me ligou e disse 'sou da Veja e vim fazer uma entrevista com você a respeito do PT. Eu preciso estar com você. Você sabe quem me pediu para fazer essa entrevista. Vou poder fazer a entrevista de duas maneiras: ou com viés bom pra você ou contrário a você, se você não quiser dar entrevista. Acho que isso (segunda opção) vai ficar ruim pra você'".

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O relato de Garcia, este trecho em especial, tem sido majoritariamente ignorado pela mídia conservadora. Repetindo: sobre este ponto específico, que envolve a mídia, o silêncio é total.

Pode ser mentira,  pode ser resultado de brigas entre máfias que antes conspiraram juntas contra o PT e Lula.

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Mas é assim que em geral se conhecem as verdades.

Pode também ser o resultado de um acusado em busca de espaços para ser ouvido.

Seja o que for, a denúncia de Garcia encontrou abrigo aqui neste 247. Ela, a rigor, não conflita com outras menções à atuação da mídia antipetista tanto no mensalão como na Lava-Jato.

Daquele tempo, surgem referências de diversos tipos de colaborações entre repórteres,  editores e diretores com a cúpula da Lava-Jato.

Repórteres que se dispunham a promover a operação tinham acesso a informações privilegiadas.

Ao menos um dos repórteres preferidos teria à sua disposição uma sala na vara de Curitiba para receber e trabalhar dados antecipados das operações.

O que se sabe das gravações vazadas dos procuradores da Lava-Jato indica diversos momentos de privilegiamento de jornalistas, vazamento de denúncias via mídia contra adversários da operação, comemoração pública de repórteres pela condenação de acusados.

A própria assessora de imprensa da Lava-Jato,  Christiane Machiavelli revelou ao site The Intercept o modus operandi que viabilizou o circo midiático: "Era tudo divulgado do jeito como era citado pelos órgãos da operação. A imprensa comprava tudo".

A entrevista de Garcia, portanto, tem que ser vista no contexto de uma operação comandada por um juiz que tinha como estratégia, declarada por escrito, o uso da mídia para incutir no público uma opinião favorável.  O relato ao 247 pode trazer elementos que, se não forem verdadeiros,  fazem muito sentido quando olhados no contexto.

Até para apurar a verdade, se um dia houver uma CPI para expor as entranhas da cozinha venenosa de Curitiba, um lugar de destaque terá que ser reservado para a participação da mídia lavajatista, apesar, ou por causa, do pacto de silêncio que ela resolveu impor.

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