Entre tapas e beijos: menos governo, menos jornalismo e mais mortes
A situação (hoje) é tão drástica, que chefes de governo se sentem tranquilos para proferir a repórteres: “Minha vontade é encher tua boca de porrada”
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O jornalismo está sendo despido em tempos pós-modernos. Leio artigos, e reportagens em diversas fontes, porém só bebo das fidedignas; e principalmente aquelas comprometidas com a igualdade entre os seres.
“No tempo da Monarquia deixei-me prender, porque reconhecia o governo, hoje não porque, não reconheço a República” – pg.209. Trecho extraído da obra de Euclides da Cunha: Os Sertões. Aliás, o escritor aludido fora também um jornalista. E cobriu os bastidores históricos da saga de Antônio Conselheiro: morto em Canudos de forma truculenta pela guarda do poder vigente republicano.
Falar em igualdade para alunos de jornalismo "empresarial", já que o curso zela por este viés da Comunicação, já me levou a ouvir ignóbeis palavras. Há uma ditadura fantasiada de empreendedorismo direcionando os estudantes de jornalismo no Brasil.
O pior é que não há pluralismo, mas há disfarce; o “pito” academicista neoliberal é internalizado, nos meandros. Disfarçam, por exemplo, com palestras cujo tema é a desigualdade social. Aí, vemos lá o icônico Florestan Fernandes, como foco justo e padronizado de aulas inaugurais de disciplinas menos "liberalóides", como Cidadania e Mundo Global. Na realidade, alunos veteranos da área jornalística não sabem sequer que o nobre Florestan, fora um jornalista.
Se fosse só isso, poderíamos agradecer aos Céus; mas a orientação de estes cursos nos tempos líquidos: é de que todos brilhem nos palcos empresariais da ganância, fazendo jornalismo para a elite e pela elite. A receita é resistir e acompanhar o underground da notícia; no que este termo possui de mais vanguardista, proficiente e democrático. A bolha das Fake News está se expandindo aos quatro cantos, com seu emblema de encantamento/alienação de voraz lucro acima de tudo, e pós-fato acima de todos; cabe a nós progressistas revertermos este estado de coisas.
Quem está lendo a Folha de São Paulo, atualmente? Talvez sejam aqueles, que corroboram com o mesmo pensamento do grupo; que em reportagem pretérita considerou o período (tão funesto) da Ditadura Militar de 1964, como um simples interregno de “aprendizado longo e doloroso”: A fonte é de 31 de março de 2014.
A situação (hoje) é tão drástica, que chefes de governo se sentem tranquilos para proferir a repórteres: “Minha vontade é encher tua boca de porrada”. Um jornalista como o supracitado Florestan Fernandes (se aqui estivesse) diria novamente e diante de tão grande despautério: “Contra as ideias da força, a força das ideias”.
Como a morte de 115 mil criaturas pode ser uma vitória contra a Covid-19? E é esta a falácia da hora. Dilma Rousseff foi torturada (a base de pau-de-arara e palmatória); assim como tantas outras centenas de vidas. E houve outro brilhante jornalista entre estas vítimas: Wladimir Herzog (morto). Tal página sangrenta que durou mais de vinte anos de dor e massacre, não foi nem um pouco um aprendizado: foi um massacre biológico e estrutural.
“Quando perdemos a capacidade de nos indignar com as atrocidades praticadas contra outros, perdemos também o direito de nos considerar seres humanos civilizados.”
Vladimir Herzog
“A esperança é a ponte da misericórdia”
Valéria Guerra Reiter.
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