Entre Putin, Zelensky e Biden, continuo com Eduardo Galeano

"Inexistem mocinhos nessa guerra e me recuso a escrever uma linha sequer de apoio a Vladimir Putin"

(Foto: Reuters)


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Olho para todos os lados envolvidos, direta ou indiretamente, na Guerra da Ucrânia e não consigo me convencer minimamente da existência de um posicionamento que mereça ser chamado de justificável, a não ser que se coloquem os óculos da tradicional lógica geopolítica das potências estatais que sobrevivem da expansão dos seus territórios e áreas de influência rumo à edificação de Impérios.

De uma parte, temos as velhíssimas conhecidas potências europeias ocidentais, tendo à frente o “Império Norte-Americano” e seu braço armado fundado em 1949 (a Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN), com sua sanha expansionista levada ao paroxismo de, ultrapassando a margem de trinta países membros, tentar chegar o mais próximo possível das fronteiras russas.

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De outra parte, temos, nascido dos escombros do antigo “Império Soviético”, o “Império Russo”, como que a fazer ouvir em alto e bom som que o que acabou há exatos trinta anos foi o seu caráter soviético e não a sua natureza imperial. Um novo velho Império liderado por um ex-agente da temível KGB, que o preside há mais de duas décadas, aí incluso o recesso sabático de quatro anos como primeiro-ministro.

A não ser por conta de uma insistente cegueira ideológica, é impossível não localizar na explosão de bombas no território ucraniano o propósito de fazer emergir a fórceps uma nova ordem mundial caracterizada pelo renascimento da velha lógica imperial, de uma política de potências, capitaneada por duas subespécies de campeões de violação da democracia e dos direitos humanos nos planos nacional e internacional: a liberal estadunidense e a autocrática russa.

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Inexistem mocinhos nessa guerra e me recuso a escrever uma linha sequer de apoio a Vladimir Putin a fim de reafirmar a minha posição radicalmente crítica em relação ao papel de gendarme do mundo desempenhado pelos Estados Unidos a partir do fim da Guerra Fria; com Obama, Trump ou Joe Biden. Da mesma maneira, não sou capaz de nutrir a menor simpatia por Volodymyr Zelenski – esse antigo comediante de televisão que foi alçado à presidência da Ucrânia na esteira do golpe de 2014 e com o apoio de forças neonazistas.

A fumaça gerada pelas bombas russas ainda impedem de ver com mais clareza as trágicas consequências que estão por vir, mas de três certezas não abro mão:

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1. Na Guerra da Ucrânia, como em todas as guerras travadas na história da humanidade, centenas de milhares de inocentes morrerão ou se tornarão refugiados;

2. Outra vez mais, foi demonstrado o gigantesco equívoco do nipo-americano Francis Fukuyama, ao afirmar em 1989 que a história teria chegado ao seu fim;

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3. “A indústria militar é uma fábrica de morte. A armas exigem guerras e as guerras exigem armas. Os cinco maiores produtores de armas são os cinco países com assento permanente no Conselho de Segurança da ONU”.

As palavras transcritas no parágrafo acima foram pronunciadas por um escritor uruguaio falecido em 2015. Entre Putin, Zelensky e Biden, continuo com esse escritor chamado Eduardo Galeano.

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