Entre Braga Netto e a memória de uma menina de dez anos, é fácil saber quem tem algo a dizer sobre o golpe de 64

O 31 de março de 2022 será marcado por dois textos que apresentam visões opostas a respeito do golpe militar que sangrou a sociedade brasileira

(Foto: Evandro Teixeira)


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Por Paulo Moreira Leite

Num país onde a memória histórica segue uma construção difícil, o 31 de março de 2022 será marcado por dois textos que apresentam visões opostas a respeito do golpe militar que sangrou a sociedade brasileira com violência jamais vista, agravou a dependência e deixou uma herança de violência e ameaças à democracia que sobrevivem até os dias de hoje. 

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Um deles -- a nova versão de uma ordem do dia assinada pelos comandantes militares nesta data -- já é uma tradição no 31 de março.  Encabeçado pelo ministro da Defesa, o texto de 2022 repete a propaganda-padrão estabelecida pelo regime militar, num conjunto de afirmações absurdas e raciocínios desconexos. Alinhava fantasias como o "legado de paz, liberdade e democracia," que seriam apenas risíveis se não tivessem a função de tentar esconder desastres econômicos, tragédias sociais e crimes políticos identificados e reconhecidos há muito tempo pelos brasileiros e brasileiras. 

No texto "Memórias do golpe", escrito em 2014, disponível no Brasil 247 e neste espaço desde ontem, a socióloga Laís Abramo, que tinha pouco menos de dez anos na época, não faz propaganda nem luta ideológica.

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Laís fala de fatos,  que testemunhou em Brasília, onde seus pais foram residir em 1962, como professores da UnB, convidados por Darcy Ribeiro.

Com a simplicidade de quem procura recuperar a vida vivida sem retoques, Laís fala do medo dentro de casa, que tomava corpo nas vésperas do 31 de março, quando crescia a convicção de que "deveríamos esperar pelo pior".

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O texto recorda os comentários ouvidos quando  tropas invadiram a Universidade, episódio que anunciou a brutalidade que estava por vir. Descreve uma marcha de tanques pela W-3, principal avenida da Capital Federal. Fala da prisão do pai, o jornalista Perseu Abramo, referência de várias gerações, não só pelo rigor profissional, mas pela capacidade de manter-se leal às próprias convicções e princípios.  

A vida humana está lá, sem retoques, numa família de professores e quatro crianças -- entre dez anos e seis meses. Despretensioso, sem nenhuma ambição além de recuperar as próprias lembranças, tem a beleza única dos textos de quem não precisa mentir.

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