Ensaio de ato bolsonarista prega ditadura com Bolsonaro

"Eles vão às ruas amanhã e há quem diga que isso faz parte da democracia. Não. A democracia não pode ser usada para uma conspiração contra a democracia", afirma a jornalista Tereza Cruvinel

(Foto: Tereza Cruvinel)


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Por Tereza Cruvinel

Ninguém se engane: nunca antes, desde o final da ditadura, a democracia brasileira esteve tão ameaçada. E quem lidera a conspiração golpista, sacrificando também a economia do país, é o presidente da República. As manifestações bolsonaristas de amanhã, serão grandes. Recursos do governo e setores aliados foram empregados na convocação, para criar a falsa ideia de que a maioria da população quer "Bolsonaro no poder" com intervenção militar nos outros poderes. Ditadura.  

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Os hotéis de Brasilia estão lotados e as máquinas do agronegócio estão chegando. Pesquisas mostram que 30% dos PMs pretendem participar dos atos, armados ou não. Grupos religiosos também estão mobiliados. O STF já está protegido por um cinturão policial. Apesar disso, não devemos temer o espetáculo prometido pela extrema-direita, e sim engrossar os atos "fora Bolsonaro", contra o golpe, em defesa da democracia, evitando as provocações previsíveis. 

Ontem eu vi um ensaio dos atos de amanhã. Indo ao Lago Sul, desci a Esplanada dos Ministérios e na altura do Itamaraty a PM bloqueou o trânsito, criando o cenário ideal para uma manifestação prévia dos bolsonaristas. Uma carreata com bandeiras do Brasil também se formou ali. Manifestantes ruidosos exibiam faixas que antecipam as bandeiras e palavras de ordem que serão brandidas amanhã, principalmente em Brasília e em São Paulo, palcos eleitos para os discursos que Bolsonaro fará. Reproduzo aqui algumas das fotos que fiz ali ontem.  

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Ou seja: Bolsonaro ditador, Constituição de 1988 rasgada e perseguição dos adversários.

 Vejam esta outra faixa, que resume a palavra de ordem que será brandida amanhã: "Eu autorizo".

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A próxima faixa foi escrita em português e em inglês, certamente na expectativa de que seja reproduzida em jornais e sites estrangeiros, para criar a ideia de que o golpismo de Bolsonaro tem apoio popular.

O golpe é para amanhã? Não creio, apesar dos 30% de policiais militares que prometem participar, o que já seria uma perigosa força armada.

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O que acontecerá amanhã, a meu ver, será a deflagração de um processo que ninguém sabe como, quando e  onde vai terminar. Bolsonaro claramente pretende não reconhecer sua  derrota eleitoral no ano que vem, e pretende manter sua massa mobilizada até lá, para resistir dentro no Palácio do Planalto. Seus radicais talvez repitam a invasão do Capitólio, só que invadindo o STF. Ou as sedes dos dois poderes.

Bolsonaro, acuado, parece não ter saída fora do golpe. Talvez ele venha a tentá-lo antes da eleição, atacando o  próprio calendário eleitoral. Mas talvez também seja parado em sua loucura autoritária antes disso pelo STF, com  os remédios já apontados pelo ministro Lewandowski em seu recente e fundamental artigo. Ou pelo Congresso, com o impeachment, hipótese menos provável porque o Centrão só pretende desembarcar do governo no ano que vem, depois que sugar bem a teta das emendas.  Talvez pelo TSE, com a  cassação da chapa Bolsonaro - Mourão. 

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Quem disser que sabe o que vai acontecer está mentindo ou se iludindo. Eu não sei. Mas não podemos deixar de enxergar os propósitos de Bolsonaro, que estão claros, inclusive nas faixas que reproduzi acima.

Eles vão às ruas amanhã e há quem diga que isso faz parte da democracia. Não. A democracia não pode ser usada para uma conspiração contra a democracia.

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Por isso, a depender do que acontecer amanhã, a depender do comportamento de Bolsonaro, o Supremo terá que responder. Os dois outros poderes teriam que responder, mas a Câmara está arrendada ao Centrão. 

Nós, democratas, e não apenas progressistas de esquerda,  não podemos nos omitir. Nossa resposta deve ser a participação pacífica nos atos de resistência, contra o golpe e em defesa da democracia. Não devemos nos deixar impressionar pelo tamanho dos atos da extrema-direita.  Eles podem ser muito maiores que os nossos, pelo poder empregado na mobilização e na organização, mas não representam a maioria dos brasileiros. A maioria, dizem todas as pesquisas,  claramente reprova o governo e rejeita as pregações golpistas. O que eles vão criar é uma ilusão.

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E  Bolsonaro dará mais um tiro no pé, impulsionando com sua desnecessária agitação ideológica, a deterioração da economia, já em curso . Ele, que se diz tão patriota, está cometendo com isso um crime de lesa-pátria.

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