Empresários "a uma peinha" de aderir a Lula. Eis a crônica da confissão de um arrependimento
Grande empresário do setor financeiro realiza o que chama de “pesquisas qualitativas” com amigos e constata: Moro e Bolsonaro são escorraçados. Lula é admirado
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Última sexta-feira útil do ano, dezembro de 2021, happy hour na casa de um grande empresário. As próximas sextas-feiras serão as datas festivas de 24 e 31, Natal e Ano Novo. Por volta das 18h30min servimo-nos da segunda dose de uísque. Estávamos num confortável apartamento do Jardim Paulistano, em São Paulo. A visita impunha-se, para mim, porque meu interlocutor era um vencedor desses tempos estranhos. Aos 86 anos incompletos, seguia na ativa na empresa familiar, do setor financeiro. Preservou-se do Covid-19 com afinco desde os primeiros dias do surto pandêmico.
– Tenho feito pesquisas qualitativas informais com meus amigos empresários, antigos sócios, a turma da Faria Lima e da Avenida Paulista – comunicou-me iniciando um novo tópico na conversa. – Beba dois goles e se ajeite na cadeira porque vais ficar surpreso.
– Sério? Essas pesquisas não valem de nada – desdenhei, sorrindo.
– Sério, pô. Não ria! – protestou o empresário, reivindicando respeito. E prosseguiu: – Ninguém vota no Moro. Ninguém.
Com certo ar de espanto, procurei uma explicação e pedi mais dados.
– Bom, talvez porque eles saibam que Sérgio Moro é responsável direto pela extinção de 4,4 milhões de empregos e pela destruição de cadeias produtivas integrais como a indústria naval e o setor de construção pesada. A Lava Jato promoveu esse desmonte. Mas, nem no segundo turno votariam nele, por hipótese? – quis saber.
– No segundo turno, talvez. Só se o Lula não conseguir demonstrar, na campanha, que ele terá o comando da agenda social e econômica do Brasil. Nenhum empresário que eu conheça, e conheço muitos… hoje à tarde, por exemplo, presidi a reunião do Conselho de uma instituição que tem R$ 1 bilhão entesourados…, votaria no Moro por convicção ou por acreditar nele. E todos consideram Bolsonaro um paspalho, um imbecil.
– Certo, mas eu avisei a vocês que Bolsonaro era isso, lá atrás, em 2018, e seus amigos votaram em peso nele. Você, inclusive.
– Erraram, pô! Erramos. Sabemos disso. E eles reconhecem, como eu reconheço, que Lula é um dos seres humanos mais sensíveis para escutar o povo que já surgiu em nossa História. Meus amigos empresários estão a uma peinha de nada de aderir em peso a Lula, com o PT com tudo, se tiverem certeza que ele será o comandante da agenda. Eu já aderi.
– Mas rapaz (fui benevolente com meu velho amigo), o Lula de hoje, com tudo o que passou na vida privada, e com tudo o que nós passamos no País, sobrevivendo até aqui, é um Lula ainda melhor e mais sensível que quaisquer dos Lulas da História desse País.
– Pois, se você estiver com ele, avise-o: está por uma peinha de nada de unir ainda mais gente, porque todo mundo reconhece a capacidade dele e o que ele fez. E a maioria de nós está arrependida de 2018, das maluquices que fizemos – pediu-me o empresário do Jardim Paulistano.
– Lula deve aparecer com Alckmin, no próximo domingo, num jantar aqui em São Paulo. Organização do Grupo Prerrogativas. Você vai?
– Ah é? Não fui comunicado. Lula ter levado Alckmin para o lado dele foi genial. Alckmin pode ser um vice igual ao José Alencar, ou ao Marco Maciel, de quem fui amigo pessoal a vida inteira. Mas, esse negócio de Grupo Prerrogativas, é advogado demais junto. Como empresário, só gosto de advogado do meu lado na mesa. Eles conversam demais, têm ideias demais… – soltou o chiste e caiu na risada.
– Darei suas lembranças aos meus amigos advogados – avisei, também rindo.
Servimos a terceira dose e passamos a especular o que teria sido do Brasil se ele e os amigos não tivessem embarcado no lava-jatismo estéril. Nem ao fim da primeira garrafa de uísque chegamos a respostas convergentes e plausíveis. Porém, havia se instalado um consenso: Bolsonaro ou Moro, não. Jamais!
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